Morador de rua lança livro com pitadas de sabedoria para o dia a dia

Elemara Duarte - Hoje em Dia
25/04/2015 às 09:45.
Atualizado em 16/11/2021 às 23:46

(Flávio Tavares)

Divino Soares de Souza é um morador das ruas que se veste de dignidade para mostrar ao mundo seus pensamentos. A recente ferramenta para esta missão é o livro “Quando o Dia Nascer” (independente), que ele escreve desde a década de 1980. São 12 capítulos, cada um com cerca de 30 pensamentos. “Foi por acaso”, justifica, sobre a divisão do material, similar aos meses e dias do ano.

Aos 50 anos, pelo menos dez deles vivendo nas ruas, Divino conseguiu publicar o livro com ajuda de amigos. E foi na casa de um destes “mecenas”, o produtor cultural Tadeu Martins, é que se encontrou com a reportagem.

Morador de rua? Sim, mas que ninguém imagine um homem esfarrapado, sem conexão de ideias. Quem chega é um homem de roupas limpas, olhar seguro, palavras simples (e sábias) e pasta plástica sob o braço, com um exemplar da obra. A pele muito queimada de sol é que denuncia a vida de andarilho. “Por meio de pensamentos puros e limpos se vive bem melhor”, ensina, no prefácio.

Destaque na escola

Divino nasceu em Caratinga. Veio para BH com poucos meses de vida. Na juventude, após a morte dos pais, foi trabalhar em várias cidades – como trocador de ônibus, na indústria, como contato publicitário em um jornal... “Mas sempre gostei de escrever. Eu era bem destacado na escola pela redação”.

De volta à capital mineira manifesta uma doença neurológica. Afastado do trabalho, passa e viver em albergues e pensões. Hoje, vive de um pequeno benefício do governo que não lhe permite pagar aluguel, apenas comer e comprar roupas. “Tomo banho na rodoviária e guardo as roupas na casa de um irmão de doutrina”, explica. A “doutrina” a que se refere é a “Espírita”, que adotou há alguns anos.

Mas a literatura, ele nunca deixa de lado. “Vou à Biblioteca Luiz de Bessa, fico algumas horas, leio Carlos Drummond de Andrade, Cecília Meireles, Manuel de Barros”. Para ter acesso aos livros da “doutrina”, vai à biblioteca da União Espírita Mineira, na Rua dos Guaranis. “A vida é assim, reserva estes momentos para a gente. Tem que aceitar. Não adianta se revoltar, xingar ninguém. Há pessoas de condição boa, com família perto, e que não estão satisfeitas”.

Tadeu Martins, que o conhece há quase três décadas, revela: Divino não é pedinte. “Ele dizia que era escritor. E eu ficava pedindo que me mostrasse o livro. Um dia, trouxe o caderno escrito”. O produtor, emocionado, entendeu que o livro precisava sair. Por iniciativa própria, procurou amigos para rateio dos custos da impressão – entre eles, o ator Saulo Laranjeira e o músico Rubinho do Vale.

Dedicatória

Divino despede-se dos presentes. E cada um da equipe procura seu rumo – trabalho ou casa. Afinal, está armando chuva. Divino sobe a rua com a pasta mais uma vez sob o braço e protegido pela resignação.

“Espero que você goste deste pensamentos e os repasse para quem não os conhece”, diz a dedicatória do livro que tratou de trazer para a equipe. E estamos aqui, nesta página atendendo ao seu pedido, senhor pensador!

O escritor Divino Soares de Souza continua com a agenda de divulgação do livro “Quando o Dia Nascer” por BH. No próximo dia 30 de abril, às 19h30, ele estará no Clube Mineiro da Cachaça (rua Mármore, 373, Santa Tereza). Preço: R$ 20. Informações: (31) 2515-7149

Guillermo Legaria/AFP/18/4/2012

Ziraldo é patrono da 10ª EDIÇÃO DO FESTIVAL LITERÁRIO, no sul de minas

A infância, mas “de antigamente”, inspira o 10º Festival Literário de Poços de Caldas (Flipoços), que começa neste sábado (25) (e segue até 3 de maio). Simultaneamente, acontece a 10ª Feira Nacional do Livro. Entre os quase 90 convidados estão o cartunista Ziraldo (dia 26), patrono do evento, e Ignácio de Loyola Brandão (27), Stella Maris Rezende (25) e Thalita Rebouças (1º/5).

O tema “A literatura como resgate da velha infância” percorre a maior parte da programação deste que é o maior festival literário sul-mineiro: desde a palestra do “pai” do Menino Maluquinho ao Espaço Flipocinhos, destinado às crianças. São esperados 60 mil visitantes. A programação acontece no Teatro da Urca. Tudo gratuito.
“Queremos homenagear a criança que habita em cada um de nós, adultos”, diz a curadora Gisele Corrêa Ferreira.

A abertura, nesse sábado (25), às 20h, terá a Orquestra Ouro Preto, com suas “Cantigas de Bem Querer”: para o resgate de tais memórias e para a criação daquilo que Gisele chama de “ambiente lúdico”. Ela frisa que, para algumas das “palestras master”, as entradas, mesmo gratuitas, estão esgotadas. Porém, haverá transmissão por telão.

“Poços é uma festa”

A primeira edição do Flipoços, vale lembrar, contou apenas com dois convidados – um deles, Ignácio de Loyola. “Por isso, fiz questão de trazê-lo no marco dos dez anos”, diz Gisele. A curadora lembra que, quando idealizou o Festival, havia pouquíssimos eventos sobre literatura no país. Nestes dez anos, mais de 800 convidados conversaram com leitores – a maioria, escritores. Já a Feira do Livro, que começou com menos de 30 expositores, neste ano terá 80 estandes. Ainda para marcar os dez anos, 14 artistas integram o projeto do livro “Poços é Uma Festa”, que irá a pontos ícones da cidade. “E Ziraldo deve fazer uma ilustração sobre este roteiro”, diz Gisele. O lançamento será em outubro.

Ao lembrar de um dado divulgado na Bienal do Livro de Minas, no ano passado, a curadora imprime mais importância à cidade anfitriã do evento, agora, no quesito “índice de leitura”. “A Câmara Mineira do Livro fez um levantamento apontando Poços de Caldas com o maior número de leitores de MG”, lembra. Em tempo: a cidade possui três livrarias. Bibliotecas, são mais de dez.

A programação completa do Festival Literário de Poços de Caldas você acessa aqui

Compartilhar
Ediminas S/A Jornal Hoje em Dia.© Copyright 2024Todos os direitos reservados.
Distribuído por
Publicado no
Desenvolvido por