Morcego posa de beija-flor em clique de estudante e imagem vence concurso

Elemara Duarte - Hoje em Dia
Publicado em 20/12/2015 às 07:58.Atualizado em 17/11/2021 às 03:24.
 (Hoje em Dia)
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O estudante de mestrado em Ecologia da UFMG Augusto Milagres e Gomes recebeu uma digna recompensa para as cinco, seis horas de trabalho voluntário, madrugada adentro, que geralmente cumpre atrás de uma câmera, no meio do mato. Isso porque ele faturou o 2º lugar no “5º Prêmio de Fotografia – Ciência & Arte”, do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), onde desbancou 419 concorrentes. O objeto do estudo está na foto.
 
Mas um morcego? Exatamente! Os brutos também beijam! Brutos e com fama de vampiros, coitados... Mas, para o pesquisador de 24 anos, que fotografa desde os 14, o morcego que flagrou, do gênero “Anoura”, é quase um “beija-flor da noite”. 
 
Já a flor que recebe o carinho é uma “agave”, típica da América Central, e que estava no sítio da família de Gomes, próximo de Conselheiro Lafaiete. “É um polinizador importante”, defende. O pesquisador explica que há morcegos que ajudam na regeneração de florestas e nos controles biológicos, pois também comem insetos.
 
Gomes diz que levou três noites para fazer a imagem. “Eu sabia que os morcegos polinizavam estas plantas e preparei o equipamento durante o dia”. Ali, na calada noturna, sozinho e camuflado, Gomes se valeu de ciência e de paciência. “O fotógrafo de natureza é como um atirador de elite – mas, em vez de matar, ele eterniza o momento. Para mim, é como se fosse uma meditação”, compara.
 
O estudante pesquisa os morcegos desde a graduação, em 2014. Já o mestrado é sobre a biodiversidade dentro das cavernas – e nisso, os morcegos também estão. “Quero desmistificar os morcegos. A imagem foi feita para ilustrar a importância para a polinização”. O Brasil tem 178 espécies de morcegos conhecidas. Em MG são 83. 
 
É ciência, mas também arte e zelo estético. “A pegada artística se dá para que o público leigo se sensibilize. O morcego congelado em voo em frente de uma flor maravilhosa emociona. É conhecimento científico traduzido de uma forma mais simples. Vendo o que há por traz da biodiversidade, têm-se mais interesse em preservar”.  É, os morcegos lhe devem uma, caro pesquisador! “Eu que devo a eles!”, garante.
 
Confira a galeria com outros flagras incríveis destes “seres da noite”. Estes e outros cliques do “fotógrafo da natureza” também estão disponíveis no Facebook do pesquisador, o Andirá Imagens - “andirá” é “morcego”, em tupi-guarani:
 
 
Além disso
 
“Ecos do Sertão” é o nome do livro para o qual o estudante Augusto Milagres e Gomes está fotografando, juntamente com o colega João Marcos Rosa e o pesquisador Geraldo Wilson Fernandes. No projeto eles vão mostrar a degradação do cerrado brasileiro. Para o trabalho, Gomes já percorreu cidades no estado de Goiás e nas regiões central, sul e norte de MG.
 
A previsão é de que a pesquisa seja finalizada em 2017. O livro deve ser publicado no ano seguinte e promete ser um dos mais completos dentro da bibliografia sobre este rico trecho da paisagem brasileira. Gomes diz que as fotos também serão artísticas e que a pesquisa servirá como uma forma de conscientização. O cerrado ocupa parte das regiões central, nordeste e sudeste brasileiras.
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