Morre Ernesto Paulelli, o "Arnesto" do samba de Adoniran Barbosa

Elemara Duarte - Hoje em Dia
26/02/2014 às 22:10.
Atualizado em 20/11/2021 às 16:18
 (R7)

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Ernesto Paulelli, o "Arnesto", citado nos versos do famoso samba do cantor e compositor Adoniran Barbosa (1910-1982) morreu na tarde desta quarta-feira (26), em São Paulo. A família informou que Ernesto estava internado desde a última semana no Hospital Santa Maggiore para tratar de uma fratura no fêmur. O enterro está marcado para as 10 horas de quinta-feira (27), no Cemitério do Araçá, na capital paulista.    Advogado aposentado e músico, Ernesto serviu de inspiração para a história de um "furo" em uma roda de samba. Tudo criativamente inventado por Adoniran Barbosa. A canção, escrita no mais castiço "paulistês" foi gravada por grupos como Demônios da Garoa - a mais conhecida versão - e Originais do Samba.   Conforme entrevista ao Hoje em Dia, em agosto de 2010, para reportagem sobre o centenário de Adoniran, Ernesto Paulelli lembrou do batismo meio forçado: "Ele me rebatizou como 'Arnesto'. É um jeito tradicional. O italiano costuma falar assim".   Ernesto lembrou de como conheceu o debochado e fiel amigo: "Eu tocava violão nos restaurantes, mas fui conhecer o Adoniran na TV Record, em 1938. Me chamaram para dar uma palinha e lá o encontrei. Ficamos irmãos", lembrou.   O músico lembra-se de ter sido avisado por Adoniran sobre o que pretendia: "Arnesto, seu nome dá samba, você 'aduvida'?", lembra. E fez a canção. Desde então, as pessoas começaram a chamá-lo de "Arnesto do Samba". "Sou eu mesmo. E com muito orgulho", afirmava Paulelli.   Daí, a fama se instalou na vida de Ernesto. "As pessoas me perguntavam na plataforma de trem sobre que mancada era aquela que eu tinha dado? Você me atirou contra o público, Adoniran!", registrou "Arnesto". Com ar de quem perde um amigo mas não perde uma boa letra de samba, Adoniran respondeu: "Se não tinha mancada, não tinha samba, meu".    Ernesto Paulelli admite ter ficado com "cara de besta" diante dessa resposta. "O Adoniran tinha saída para tudo. Mas eu agradeço muito a ele por ter me dado essa alegria. Era uma pessoa dotada de qualidades que só Deus dá", disse emocionado, ao final da entrevista.   Nos últimos anos de vida, Ernesto não morava mais "no Brás", como anuncia a música, mas no bairro da Moóca, onde deixa dois filhos, dez netos e nove bisnetos.   Eis a letra:   Samba do Arnesto   (Adoniran Barbosa)   O Arnesto nus convidô,  pru samba, ele mora no Bráz  nóiz fumo e num incontremos ninguém  nóiz vortemos cuma baita de uma réiva,  da outra vez nóiz num vai mais  nóiz num semos tatu...  o Arnesto nus convidô,  pru samba, ele mora no Bráz  nóiz fumo e num incontremos ninguém  nóiz vortemos cuma baita de uma réiva,  da outra vez nóiz num vai mais    Noutro dia incontremos cum Arnesto,  que pediu discurpa mais nóiz num aceitemos  isso não se faiz Arnesto,  Nóiz não se importa,  mais você devia te punhado um recado na porta    Ansim:  "oi turma,  não deu pa ispelar,  não faiz mar adver que isso  e não tem importância."    "é mais Arnesto ta retoundando outra veiz  nóiz ti cara que ocê vai ve,  como é que ocê vai entra bem aqui co nóiz"    o Arnesto nus convidô,  pru samba, ele mora no Bráz  nóiz fumo e num incontremos ninguém  nóiz vortemos cuma baita de uma réiva,  da outra vez nóiz num vai mais    Noutro dia incontremos cum Arnesto,  que pediu discurpa mais nóiz num aceitemos  isso não se faiz Arnesto,  Nóiz não se importa,  mais você devia te punhado um recado na porta    Num faiz mar!   E a canção:  

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