SÃO PAULO – No primeiro semestre, com a crise econômica se abatendo sobre vários festivais brasileiros, que foram levados a fazerem muitos cortes, chegou-se a prever que a Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, que começa nesta quarta-feira (21), perderia seu gigantismo. Mas com o patrocínio que apareceu "aos 45 minutos do segundo tempo", como gosta de enfatizar a coordenadora do evento, Renata de Almeida, a maior maratona de cinema do país, ainda exigirá muito fôlego dos cinéfilos.
Na ponta do lápis, são apenas 20 títulos a menos. Diante dos 322 filmes à disposição, é uma quantidade, convenhamos, que não fará ninguém se sentir traído. “Não é uma Mostra de crise. Ela continua muito forte”, avisa Renata, que, confessa, calculava uma queda de 40% no orçamento do festival, atualmente em sua 39ª edição. “Além da falta de patrocínio, ainda teve o aumento do dólar. E quase tudo está atrelado à moeda americana”, sublinha a coordenadora, viúva de Leon Cakoff, criador da Mostra.
As honras da abertura, no auditório do Parque do Ibirapuera, será de um velho conhecido do festival: o cineasta argentino, radicado no Brasil, Hector Babenco, repetindo a edição de 2007, quando também estava com um filme no primeiro dia (na época, “O Passado”, protagonizado por Gael Garcia Bernal). Desta vez, ele apresenta “Meu Amigo Hindu”.
O novo trabalho é o que Renata define como o “8 ½ de Babenco”, referindo ao filme autobiográfico do italiano Federico Fellini. “Tem também um cineasta em crise, mas não se trata de uma crise criativa. É algo maior que a vida. Ao mesmo tempo, é um filme que fala de amor ao cinema, feito por um dos maiores nomes do cinema mundial”.
Outro convidado ilustre é o diretor americano Martin Scorsese, de “Taxi Driver” e “Touro Indomável”. Quer dizer, não em carne e osso. O realizador estará presente em todas as sessões, nas vinhetas e nos cartazes, cuja arte é assinada por ele. A homenagem não é só para ele, mas sim para a fundação que dirige: The Film Foundation, que está completando 25 anos.
Dedicada à restauração de obras antigas e importantes do cinema mundial, a fundação estará representada por 25 dos 700 títulos que participaram do projeto. Entre os filmes estão “Juventude Transviada” (1955), “A Vida e a Morte do Coronel Blimp” (1945), “O Show Deve Continuar” (1979), “Rocco e Seus Irmãos” (1960) e “Rashomon” (1950).
“Scorsese usou esse poder que tem no meio cinematográfico para promover uma causa nobre, preocupando-se com a conservação da memória do audiovisual. Não queria apenas cuidar dos filmes dele ou dos Estados Unidos, mas do mundo inteiro. Ele ficou muito feliz com o resultado do pôster e da vinheta. Agora esperamos que ele possa vir no ano que vem”, registra Renata.
Outra curiosidade reservada pela Mostra de São Paulo é um filme “secreto” deixado pelo diretor português Manoel de Oliveira, que morreu em abril passado e que teve uma das carreiras mais longevas do cinema, permanecendo em atividade por 88 anos. O filme “Visita ou Memórias e Confissões” estava guardado numa cinemateca em Portugal há mais de 30 anos.
(*) O repórter viajou a convite da organização da Mostra Internacional de Cinema de São Paulo.