Movimentos em favor da mulher ganham visibilidade na capital mineira

Hoje em Dia (*)
11/05/2015 às 07:51.
Atualizado em 16/11/2021 às 23:58

(Divulgação)

Trata-se de um assunto que, para o bem ou para o mal, está sempre em voga –tanto que norteia nada menos que dois espetáculos recentes na capital mineira: “Rosa Choque”, do coletivo Os Conectores, em cartaz no Galpão Cine Horto até o dia 17, e “A Mulher Que Cuspiu a Maçã”, com Rosa Antuña, que encerrou sua primeira temporada ontem, no CCBB BH. Em cena, o papel da mulher numa sociedade que ainda guarda resquícios do machismo. Sim, trata-se de temática recorrente. Na cerimônia de entrega do Oscar, em fevereiro passado, Patricia Arquette levantou a bola da diferença salarial entre homens e mulheres, fazendo com que Meryl Streep se erguesse para aplaudir a colega. O próprio Papa Francisco fez pronunciamento na mesma linha recentemente.

A citada Meryl Streep protagoniza, ao lado de Carey Mulligan, o ainda inédito “Suffragette”, filme de Sarah Gavron que repassa a história do direito ao voto feminino. Quem gosta de séries também se lembra que o tema permeou muitos episódios de “Downton Abbey”, muitas vezes pela personagem Sybil.

“Na verdade, esse tema já me instiga há muito tempo, não só por ser mulher, mas ver as violências diárias que a mulher sofre. E não só estupro, a agressão física, mas as agressões diárias, ditas ‘pequenas’, que acabam desaguando nestas grandes”, conta Cris Moreira, que divide com Guilherme Théo a peça “Rosa Choque”.

“Basta abrir os jornais, acessar redes sociais ou sites de notícias, sempre tem algo ligado a esse tema (violência contra a mulher). É uma coisa que precisa ser dita, pois se banalizou tanto, na sociedade atual, que tem horas que parece ser ‘normal’, nem se fala mais, ou não se fala tanto”, sustenta a atriz.

PAPÉIS INVERTIDOS

Na peça, de forma irônica e inusitada, os atores desempenham papéis de tipos trocados: “Ela”, uma delegada que interroga “Ele”, homem que sofre um estupro. Imersos em projeções que demarcam e constroem a cena, os atores homenageiam mulheres como Frida Kahlo, Simone de Beauvoir e Malala, ao mesmo tempo em que se colocam, eles próprios, como personagens e dão seus depoimentos pessoais.

 

E assim como a sociedade não é estática e está em constante mudança, Cris Moreira e Guilherme Théo alternam, durante todo o espetáculo, o tipo masculino e feminino, promovendo um jogo dinâmico entre ser homem e ser mulher em corpos distintos.

‘EM GERAL, O CORPO FEMININO AINDA É OBJETIFICADO’

 

Em uma de suas mais recentes investidas no cinema, Meryl Streep vive Emmeline Pankhurst, importante nome do movimento sufragista britânico. Afinada com o papel, a atriz avalizou o projeto “Writer’s Lab”, voltado à profissionalização de roteiristas, que conta com investimentos de Patricia Arquette e é direcionado a mulheres acima de 40 anos.

Estudante de cinema, a mineira Mariah Soares tem 24 anos, sete deles dedicados à militância em prol da mulher. E sim, o fato de a maioria dos diretores de cinema serem homens ainda a incomoda. “São 85 anos de Oscar e só uma mulher foi eleita melhor diretora (Kathryn Bigelow). Há um problema inegável por trás disso”, ressalta. Mas a futura cineasta reconhece que há filmes que ajudam – e muito – as discussões sobre o papel da mulher, como “O Crime do Padre Amaro”, de Carlos Guerra.

No geral, Mariah entende que, no cinema, a mulher sempre tem seu papel secundarizado, o que corresponde a apenas parte das violências diárias sofridas pelo “sexo frágil”. Ao defender sua tese de mestrado (em psicologia), Letícia Gonçalves teve sua fala ridicularizada por uma pessoa da banca, que aventou que a pesquisa estaria invalidada por ela ser feminista. Para sorte da moça, a opinião não influenciou a aprovação com louvor.

MARCHA DAS VADIAS

Aos 27 anos, Letícia integra a Marcha das Vadias, movimento mundial nascido no Canadá em 2011 que luta pelo direito feminino de se vestir e agir com liberdade, sem que as mulheres recebam a culpa sobre a violência que sofrem – especialmente a sexual.

Letícia hoje integra a organização do movimento. “A Marcha não é hierarquizada, o que faz com que apresente uma organização mais fluida. Nossas reivindicações são o direito ao corpo, a legalização do aborto e o reconhecimento dos direitos das prostitutas”, afirma.

O posicionamento calmo de Letícia se altera e beira a inquietação quando se refere a objetificação do corpo feminino na mídia. “Em geral, o corpo feminino é bem objetificado, usado como adereço para vender produtos. A mulher nunca é retratada com suas subjetividades, está sempre estereotipada e atrelada à maternidade”.

(*) Colaborou Cássio Leonardo/ Especial para o Hoje em Dia

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