Mulheres buscam mais espaço nas artes cênicas; festival discute inclusão

Vanessa Perroni
07/03/2015 às 12:11.
Atualizado em 18/11/2021 às 06:16

Quando o teatro surgiu, as mulheres eram impedidas de atuar. Até os papéis femininos cabiam aos homens, e elas só tiveram a chance de ficar cara a cara com o público a partir do século 15, graças ao teatro de rua. De lá pra cá, muita coisa mudou, mas ainda há áreas do “fazer teatral” onde as profissionais tentam conquistar espaço. Essa “batalha” está por trás do I Festival Palhaça na Praça, que acontece neste domingo (8), no Dia da Internacional da Mulher, em Belo Horizonte.
Mais do que levar risadas ao público, a proposta das idealizadoras, as irmãs Laís e Thaís Oliveira, de 23 anos, é evidenciar a importância feminina no universo das artes cênicas.
“É uma conquista recente da mulher poder ser palhaça”, exemplifica Thaís, que atua no mundo da palhaçaria há cinco anos.
Ela diz que não existem muitas referências femininas na área. “Como essa busca é recente, a mulher tem um trabalho maior do que o do homem para abrir o próprio espaço”.
Na prática, uma das dificuldades é adaptar cenas tradicionais do circo para elas. Nesse ambiente, também há poucas mágicas e malabaristas.
A dificuldade não se restringe aos palcos e picadeiros. Em áreas técnicas, as mulheres são igualmente pouco vistas.
Quando fez a primeira iluminação cênica, a mineira radicada em São Paulo Bruna Machado, de 38 anos, recebeu olhares curiosos de parte da equipe de produção.
“Demorei a ter meu lugar na profissão, sempre ligada à figura do homem”, diz.
Para chegar lá, foram necessários anos de estudo e muita ajuda de colegas. “Como tenho vários amigos músicos e atores, comecei nos espetáculos deles”.
VOLTA POR CIMA
Hoje, não falta trabalho para Bruna, mas ela esclarece que teve brigar pela chance de mostrar o quanto era competente.
“Para o homem é realmente mais fácil, pois a mulher ainda é vista como frágil para atuar em uma área técnica e quase braçal”, justifica. Pelo mesmo drama passou a técnica de som NatháliaMartins, de 31 anos, que atualmente trabalha em um estúdio de Uberlândia.
“Nem todos os músicos acham legal gravar com uma mulher”, afirma a profissional, que no primeiro estágio passou pelos maiores testes da vida. “Pegavam pesado comigo para ver se eu desistiria. Mas isso me tornou a profissional que sou hoje”, afirma.
A luta feminina em nome da liberdade dos homens
Um mundo no qual a frase “seja homem!” não faça mais sentido – ou ganhe um novo significado – é o anseio de muitos homens e mulheres que estão à frente do movimento “Homens, Libertem-se”, criado em 2013 pela atriz e diretora mineira Maíra Lana.
Naquele ano a atriz estava em sua cidade natal, Ouro Preto, quando viu um homem andando de saia na rua. “E não era um kilt. Era uma saia florida e rodada”, rememora. Mas o que a incomodou foram os olhares de reprovação para o rapaz. “Era só uma peça de roupa, mas revelava muito sobre as prisões que o homem vivencia. De ter que se encaixar em um padrão de virilidade”, comenta ela que faz uma comparação. “Faz 200 anos que as mulheres fizeram a primeira passeata pelo direito de usar calças. Então é um absurdo que meninos sejam punidos por expressar sua subjetividade”.
Mas a discussão não se resume ao direito do homem usar saia, ela é bem maior. “Estamos falando de um padrão que limita as atitudes dos homens, como demonstrar sentimentos”, justifica.
De caráter artístico e social, o “Homens, Libertem-se” já ganhou adesão do músico Paulinho Moska, dos atores Lucio Mauro Filho, Elisa Lucinda, do produtor Nelson Motta, e outros nomes de peso.
O professor e diretor teatral Marcelo Rocco é também um dos apoiadores da causa. Para ele a luta contra o machismo vai de encontro a discussão sobre ao lugar que a mulher ocupa na sociedade. “As pessoas julgam o homem que apresenta atitudes ligadas ao universo feminino. O que coloca a figura da mulher como algo inferior. É preciso quebrar isso”, considera. O benefício dessa luta é de todos, de acordo com Rocco.

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