Museu em Inhapim mostra, à nova geração, um pouco da lida no campo

Ana Lúcia Gonçalves - Hoje em Dia
Publicado em 26/07/2015 às 10:46.Atualizado em 17/11/2021 às 01:05.

INHAPIM (VALE DO RIO DOCE) – O cheiro de café fresco e a melodia que vem do ranger do monjolo que soca grãos e do chiado das cachoeiras não lembram nem de longe o ambiente silencioso dos museus. Ainda mais pela manhã, quando os animais fazem festa ao receber a comida. Mas é essa a proposta de uma fazenda centenária de Inhapim, no Vale do Rio Doce, que abriu as porteiras como “Museu Rural” para mostrar o que alguns conhecem só por foto: carro de boi, arados, moinho, engenho e alambique, todos em funcionamento.
 
Desde que as atividades começaram, em outubro do ano passado, mais de 600 turistas já passaram pela fazenda. A maioria, crianças e adolescentes, que chegam por meio de excursões agendadas pelas escolas e “saem transformados”, garante a administradora do Museu Rural Mamédio Francisco Militão, a agricultora familiar Maria das Dores Militão, de 52 anos. “As crianças de hoje não conhecem quase nada. Não sabem o que é uma pinguela, nomes de animais domésticos comuns e a origem de muitas coisas”, observa.
 
CÉU ABERTO
O Museu Rural está montado a céu aberto em uma propriedade de três alqueires. As atividades da rotina do campo ficam disponíveis aos visitantes. A ideia é resgatar raízes. Quando o tema é o uso da água como fonte de energia, os turistas são apresentados ao moinho, monjolo, carneiro hidráulico, Pelton e gerador. Também há uma pequena estação de tratamento de esgoto com fossas sépticas. “A água suja que cai aqui volta 80% limpa para a natureza”, explica Davi Militão, 10 anos, o caçula de Maria das Dores.
A sustentabilidade passa pelo plantio, colheita, secagem, torrefação, moagem e empacotamento. Ali se produz cana, milho, arroz, feijão e café.
 
Se o assunto é transporte, os visitantes podem andar no carro de boi, no de cabrito, carroça, charrete... e conhecer o nome das partes que compõem os veículos e arreamentos.
 
PIQUENIQUE
Depois de visitarem a tenda de ferreiro e currais, e passear pelas pinguelas sobre o Córrego do Alegre, os turistas fazem piquenique nos igarapés, onde conhecem comidas e quitandas típicas.
 
No museu fechado de objetos históricos, Eliander da Silva, 11 anos, tentava ler um receita para curar mordida de cobra, escrita em uma caderneta com registros de 1920. Ele riu de um recibo de Pagamento de Imposto Sobre Propriedade de Carro de Boi, de 1935, uma espécie de Imposto Sobre a Propriedade de Veículos Automotores (IPVA) nos dias de hoje. “Não acredito que pagavam imposto para rodar com boi”, divertiu-se.
 
A produção de rapaduras e cachaça para comercialização é outro atrativo do Museu Rural. São produzidos 30 mil litros da bebida por ano.
 
Herdeira
Maria das Dores Militão é herdeira de uma família que partiu em um carro de boi de Rio Pomba, Zona da Mata, e se estabeleceu em Inhapim nos primeiros anos do século 20. Não só pensando na família, mas nas gerações que não conhecem a lida no campo é que resolveu preservar as tradições e transformar a fazenda em Museu Rural.
 
“Podemos dizer que é um museu vivo porque está tudo funcionando. E também uma homenagem ao meu pai, que deu nome ao local e iniciou toda essa história”.Vale acrescentar que agendamentos para visitas podem ser feitos pelo fone (33) 9123-3901.
 

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