As gírias e o “super”, atrelado a várias palavras, podem soar distantes do vocabulário de um premiado compositor de um gênero (o erudito) sempre associado ao rigor e à disciplina. Puro preconceito. Com apenas 31 anos e prestes a fazer seu nome na Europa, Sérgio Rodrigo se diverte com essa imagem de sobriedade, destacando que a responsabilidade e o engajamento são inerentes a qualquer arte.

“Por outro lado, a criação tem um lugar de prazer”, salienta o músico diamantinense, que fará nesta terça-feira (16), na Fundação de Educação Artística, um concerto de despedida antes de embarcar para Roma: “Piano Piano se va Lontano”. Em bom português, devagar se vai ao longe.

Sérgio será o primeiro brasileiro a participar do programa de “alta formazione” da Academia de Santa Cecília, localizada na “cidade eterna”. A admissão aconteceu há poucos dias e, por isso, ele agora corre contra o tempo, em busca de recursos. O concerto terá justamente essa finalidade, fruto de uma grande mobilização que acabou surpreendeu o moço. “Está sendo incrível. Mesmo quem não poderá ir (à apresentação desta terça-feira, 16) está doando”, comemora.

O compositor acredita que essa participação é consequência do entendimento da complexidade que é o percurso artístico. “As pessoas se engajam nessa campanha sem necessariamente me conhecer”.

No palco, ele buscará retribuir tamanho carinho com repertório formado por composições próprias, dirigidas a formações diferentes. Algumas delas tocadas em Belo Horizonte pela primeira vez.

A arrecadação, espera Sérgio, será suficiente para “chegar e se estabelecer” em Roma. Tempo suficiente para obter a esperada bolsa em editais no Brasil e na Europa. “Tudo aconteceu de maneira meio imprevista. Quando retornei ao Brasil, após passar na seleção mundial ao lado de outros dois candidatos, já tinha perdido todos os prazos de editais. No Brasil, ainda teve o agravante de ser uma época de transição no poder”, explica.

Os três anos que dedicará ao aperfeiçoamento de composição musical, em Roma, se equivalerão a um doutorado. O programa artístico da Santa Cecília é o único reconhecido pelo Ministério da Educação. “Será uma forma de dar continuidade aos meus estudos. Já tinha definido que 2015 seria um divisor de águas para mim. Terminei minha graduação há dois anos e já estava em busca de outros lugares”, registra.

Enquanto estiver na Itália, Sérgio terá a oportunidade de participar de vários festivais europeus dedicados à música de arte contemporânea, que acontecem especialmente no verão. “Um dos meus professores, Ivan Fedele, é diretor da parte musical da Bienal de Veneza. A escola faz seu calendário já pensando em dar um intervalo nesse período, para que a turma possa participar”, anima-se o compositor.

“Piano Piano Si Va Lontano” – Nesta terça-feira (16), às 20h, na Fundação de Educação Artística (Rua Gonçalves Dias, 320). Ingressos a preços entre R$ 50 e R$ 500. Mais informações: sergiorodrigo.net
 

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