O repente e a cantoria – braços fortes da cultura popular do Nordeste – desembarcam na Academia Mineira de Letras. Nesta quarta-feira (10), o poeta, repentista e escritor cearense Geraldo Amâncio Pereira vai ao encontro “O Autor na Academia” para falar e debater “O Repente na Cultura Nordestina”. Com meio século de cantoria, Geraldo, 68 anos, aponta que o segmento passa por uma situação singular de reconhecimento.
“Os cantadores que nos antecederam não tinham espaço na mídia. No meu caso, atuei em programas de TV durante 20 anos (em Fortaleza). E ainda há os festivais, que acontecem em todo o Nordeste”, ressalta o repentista.
A interação com a MPB foi outro fator de aproximação com o público, principalmente do Sul e Sudeste. “Há muitos artistas que beberam nessa fonte, como Fagner, Amelinha, Zé Ramalho, Elba Ramalho. E Luiz Gonzaga”, destaca.
LIVRO
No encontro desta quarta, Geraldo vai divulgar também o livro “De Repente Cantoria – Uma Coletânea de Versos e Repentes dos Maiores Cantadores do Brasil (Premius), parceria com o jornalista e repentista Vanderley Pereira. A obra será vendida pelo valor simbólico de R$ 5.
Ele conta que o livro é resultado de pelo menos dez anos de pesquisa. “Foi lançado em 1995 e já se encontra na segunda edição”, conta. A obra – de 480 páginas – conta e mapeia a história de 160 anos de cantoria no país. “Começou na Serra do Teixeira, na Paraíba, e se espalhou pelo Rio Grande do Norte, Ceará e Pernambuco. É uma vertente que só existe no Nordeste – esse fenômeno, ninguém sabe explicar”, relata Geraldo, que aponta, entre seus criadores, os baianos Gregório de Matos e Padre Caldas Barbosa, por volta de 1600. “Houve um hiato e essa poesia popular só veio reaparecer após dois séculos, por volta de 1832, por Agostinho Nunes da Costa e filhos, Nicandro, Guilherme e Hugolino”.
“O Autor na Academia” – Com Geraldo Amâncio. Nesta quarta, às 19h, na AML (Rua da Bahia, 1.466) Entrada gratuita
“Chico Buarque” repentista
O repentista – que tem, no currículo, “A História de Antônio Conselheiro”, “Assim Viveu e Morreu Lampião, Rei do Cangaço”, entre outros títulos – explica que deve sua profissão ao meio e à hereditariedade. “Meu avô paterno, Manoel Amâncio, era cantador amador, assim como um tio paterno, Amâncio Pereira. E o meio foi determinante para me tornar cantador, mas o quesito principal é nascer poeta.
Por exemplo, o Chico Buarque, se tivesse nascido e tido uma infância povoada pela cantoria daqui, do Nordeste, seria um poeta repentista. Mas nasceu em outro meio, intelectual, então é um poeta letrista”, pondera Geraldo, que está em processo de conclusão da obra “Quem Destruiu o Caldeirão do Beato Zé Lourenço”, sobre o líder messiânico da mesma linha de Antônio Conselheiro, dos anos 1920, no Ceará.