Enquanto George Lucas teve um cuidado extremo para não cometer nenhum deslize de continuidade entre as três trilogias de “Guerra nas Estrelas”, o mesmo não se pode dizer da franquia de “X-Men”, que tem mais um filme chegando às telonas: “X-Men: Apocalipse”.
Há muita contradição na cronologia cinematográfica que envolve a primeira trilogia (2000, 2003 e 2006) e os longas solos (de Wolverine e Deadpool), com sete filmes ao todo. As diferenças, de tom principalmente, acontecem dentro das próprias séries, como prova "Apocalipse”.
De um enredo mais intricado (com muitas viagens temporais) e de leitura realista (a intolerância é um tema muito atual), a terceira parte partiu para uma abordagem mais fantasiosa, a começar pelo vilão – uma espécie de deus quase indestrutível que absorve os poderes dos mutantes.
Poderíamos, se forçarmos a barra, fazer uma relação entre esse deus que defende a segregação das raças para dominar o planeta com algumas seitas, mas o filme parece mesmo beber da fonte de “Vingadores”, em que um ser enigmático surge para unir os componentes da equipe.
Em linhas gerais, esse é o resumo de “Apocalipse”, que enaltece aquele velho clichê, presente também nos filmes dos Vingadores, de que a união faz a força, com os X-Men precisando superar suas diferenças para vencer o inimigo maior. O Mal, mais uma vez, parece vir de fora.
Há o mesmo gosto para destruir cidades inteiras e um tipo de humor que, se antes vinha da imaturidade dos jovens mutantes, agora está mais atrelada à época que a história se passa, nos anos 1980, com referências que vão de Michael Jackson (a jaqueta de Noturno) ao cabelo mullet de Xavier.
A maquiagem e aparência do vilão interpretado por Oscar Isaac destoam dos demais e a sensação final é de que o personagem nunca é realmente posto à prova, deixando a desejar no quesito ação.
Espectadores aprovam fecho da segunda trilogia ‘X-Men’
A jornalista Larissa Demétrio Padron saiu da sessão especial para convidados, na noite de terça, no Boulevard Shopping, lamentando o roteiro fraco do terceiro episódio da trilogia, destacando que o desenvolvimento narrativo está apoiado em diálogos pobres.
Para ela, a trama megalomaníaca não entrega a profundidade que almeja. “Comprometimento desnecessário, inclusive, já que acerta justamente quando aposta na simplicidade e força de seus personagens”, registra.
“No geral, o saldo é bastante positivo por cumprir a principal função que se esperava dele: fechar mais um ciclo da franquia e amarrar as pontas que restavam, estabelecendo bem quem são seus personagens – suas motivações, forças e fraquezas – e a dinâmica entre eles”, avalia.
Já o editor do site “Cinema de Buteco”, Lucas Victor, observa que, apesar de todas as expectativas baixas, “Apocalipse” é uma ótima surpresa e alternativa para quem procura um meio termo entre filmes de super-heróis exageradamente sérios e os muito cômicos, que têm sido, segundo ele, os padrões para o gênero nos últimos tempos.
“Com cenas de ação divertidíssimas e sempre flertando com a canastrice (potencializada pela época em que se passa), mas sem se tornar ridículo demais, o filme é puro entretenimento e tem tudo para divertir quem o assistir, desde que não o leve a sério demais, é claro”, analisa.