RIO DE JANEIRO - Elas lutam pela afirmação da forma feminina de uma profissão tradicionalmente masculina. Elas são as palhaças, cerca de 50 mulheres, do Brasil e do exterior, que prometem alegrar o Rio de Janeiro, a partir desta segunda-feira (23), na quinta edição do Festival Internacional de Comicidade Feminina – Esse Monte de Mulher Palhaça. O evento, que vai até o próximo domingo (29), terá dez espetáculos, oficinas sobre o universo circense e uma exposição fotográfica, com entrada gratuita.
A programação ocorrerá no Espaço Sesc, em Copacabana, zona sul do Rio; na Escola Sesc, em Jacarepaguá, na zona oeste da cidade, e no Parque do Flamengo, onde será montada uma tenda de circo. A expectativa dos organizadores de Esse Monte de Mulher Palhaça é reunir pelo menos 2 mil pessoas.
A ideia do festival surgiu em 2003, quando as integrantes do grupo As Marias da Graça, pioneiro em palhaçaria feminina no Brasil, participaram de um evento internacional do gênero, no Principado de Andorra. Dois anos depois, em 2005, o grupo realizava no Rio de Janeiro, contando apenas com recursos próprios, a primeira edição do festival, que desde então vem se firmando como um evento bienal.
“Nós buscamos a comicidade com caracterização e ponto de vista feminino, porque somos mulheres”, explica Geni Viegas, uma das atrizes-palhaças carioca que fundou o As Marias da Graça, juntamente com Samantha Anciães, Karla Concá e Vera Ribeiro. “Tradicionalmente, o palhaço é uma profissão masculina. Mesmo as mulheres que conseguiam romper essa tradição costumavam se apresentar como palhaços homens, ou seja, criando personagens masculinos”, conta Geni, a palhaça Mafalda.
Esse Monte de Mulher Palhaça foi o primeiro festival internacional de comicidade feminina realizado no Brasil e o terceiro no mundo. Esta quinta edição traz um diferencial: as atrações internacionais são quase exclusivamente latino-americanas - Colômbia, Uruguai e Argentina - além do México.
Entre as brasileiras, há representantes do Ceará, Distrito Federal, de Minas Gerais, São Paulo e Santa Catarina, além do Rio de Janeiro. O premiado espetáculo Pelo Cano, do grupo paulista Las Ventanas, é uma das atrações. Outro destaque é o catarinense A Garota da Capa, que tem direção do inglês John Mowat.
Sem abrir mão do humor, as temáticas são variadas e algumas têm um forte enfoque social. É o caso, por exemplo, do espetáculo "O Cotidiano", no qual a palhaça argentina Valeria Berretta aborda, de forma divertida, a realidade de milhões de mulheres que lutam para sobreviver e criar seus filhos sozinhas. Já a uruguaia Andrea Martinez representa uma dona de casa que se rebela, em Pachaska – Mujer Selvage.
As oficinas sobre palhaçaria serão de segunda-feira (23) a quarta-feira (25) na Escola Sesc. De quinta (26) a domingo (29), o Espaço Sesc recebe apresentações e a exposição fotográfica "Palhaças Peladas – A Real Beleza", de Cris Muñoz, que também fará palestra sobre as verdades e inadequações de ser palhaça perante a sociedade.
Para Geni Viegas, ainda há preconceito contra a palhaça nos circos e até mesmo em festivais de arte circense. “Este é mais um campo para a afirmação da mulher”, disse. Mesmo fora do picadeiro, sua personagem Mafalda já foi vista com estranheza. “Quando comecei a sair às ruas caracterizada como palhaça, tinha gente que achava que eu era uma travesti”.