Publicação passa a limpo a produção de Marta Neves

Paulo Henrique Silva
phenrique@hojeemdia.com.br
22/11/2017 às 18:44.
Atualizado em 02/11/2021 às 23:50

(fernando cardoso/divulgação)

Para Marta Neves, é um caminho sem volta. Uma das mais importantes artistas plásticas mineiras do cenário atual, seu trabalho não pode prescindir do deboche e da crítica ácida. Por isso, o lançamento do livro “À Boca Pequena, Naturalmente”, amanhã, na Escola Guignard (Rua Ascânio Burlamarque, 540), às 20h, ganha um gostinho de ousadia, devido ao momento de cerceamento da liberdade artística.

“É uma forma de mostrar que a gente continua resistindo. Não sei externar a não ser desta maneira. É uma questão de sobrevivência”, observa Marta, que fez um “apanhado” de quase 30 anos de carreira, com um grande estímulo do curador Júlio Martins. Ele é um dos quatro autores que escreveram artigos sobre a obra da artista, especialmente para o livro.

“Marta tem uma trajetória importante e longa. Não produziu muito em quantidade, mas sempre com qualidade, mostrando coerência com seus eixos de interesse, com as perguntas que perpassam toda a obra dela”, analisa Martins, que revela que o livro nasceu de uma conversa durante a Bienal de São Paulo, em 2014, quando ela era a única mineira participante.

Hipocrisia
Ele não tem dúvidas que o trabalho de Marta é fundamental para refletir o momento político de hoje. “Suas obras revelam a estrutura das coisas, sobre a hipocrisia que há nos discursos e nas imagens”, registra.

O título do livro está relacionado à exposição recém-montada no Palácio das Artes, dentro da mostra Arteminas, em que ela aproximava grandes obras do cotidiano mais ordinário–como por exemplo, uma Monalisa, a personagem de Leonardo Da Vinci, que surge numa lanchonete, fotografada de forma precária por meio de um celular.

Além do evento de amanhã, a obra ganha outros lançamentos, como no sábado, às 11 horas, no Instituto Undió (Rua Padre Belchior, 272–Centro)

“Ela faz uma apropriação antropofágica, oswaldiana (em referência a Oswald de Andrade), ao pegar uma referência externa e digeri-la”, salienta Martins, para quem a artista ainda não desfruta de uma merecida visibilidade.

Uma outra ‘visibilidade’, quase veio. Por muito pouco, ela não foi mais uma vítima de perseguição à liberdade artística, quando a exposição se tornou alvo de manifestantes por conta do conteúdo supostamente pedófilo. “Quase sobrou para ela, já que a mostra dela, igualmente ácida, estava no andar de baixo. Felizmente os conservadores não viram”, diz Martins.

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