Puta Espaço Cultural atrai a atenção da juventude

Cinthya Oliveira - Hoje em Dia
31/08/2015 às 07:30.
Atualizado em 17/11/2021 às 01:34
 (Lucas Prates)

(Lucas Prates)

Diariamente, das 8h às 23h, o Hotel Diamante se encaixa no complexo do baixo meretrício de Belo Horizonte. Mas, aos finais de semana, o prédio localizado entre as ruas São Paulo e Curitiba tem sido ponto de encontro de jovens de classe média. Isso porque ali foi criado, há três meses, o Puta Espaço Cultural, um centro dedicado a festas e artes, mostrando que é possível derrubar alguns muros entre o universo da prostituição e a juventude sedenta por ocupar culturalmente o hipercentro da capital.
A ocupação teve início no ano passado, quando o produtor cultural Rafael Henriques (na foto acima) começou a realizar bem-sucedidas festas no terraço localizado no terceiro andar do hotel – inclusive um encerramento do evento cinematográfico Forumdoc.bh. “Este ano, o hotel me procurou, interessado em uma parceria. Fiz a proposta de transformar o local em um espaço cultural. No primeiro momento, entrei em contato com vários produtores de eventos, música e teatro, para virem conhecer o hotel”, conta Rafael.
Aos poucos, vários realizadores de festas da cidade começaram a procurá-lo. Mas logo ficou claro que é preciso ter uma afinidade entre a proposta do evento e o espaço. “Temos datas fechadas até dezembro, mas estou preocupado com a qualidade. Se o produtor não entregar o material na data combinada, se não der segurança, eu cancelo o evento. O custo para abrir é grande”.
Muitas festas têm ficado lotadas, atraindo especialmente a juventude ligada à cultura alternativa. Não há como negar que o fator curiosidade é decisivo: muitos frequentadores, especialmente as mulheres, vão ao Puta Espaço para ver de perto o que antes só perpassava o imaginário, desenvolvido a partir do cinema, da TV e da literatura. Afinal, mamães ensinam desde cedo para as filhas: “fiquem longe da rua Guaicurus”.
Teatro
Mas o Puta Espaço não se limita a festas. Vários artistas têm procurado o lugar para a realização de trabalhos. Projeto realizado no Maletta, o Sushi Popular é um exemplo, podendo se desdobrar em uma escola de gastronomia popular em pleno baixo meretrício.
Muitos grupos de teatro estão desejosos de usar o espaço. O Grupo dos Dez está negociando a realização do espetáculo “Madame Satã” no Hotel Diamante, com uma atuação que vai perpassar todos os andares do edifício, passando pelos quartos.
Dois grupos teatrais, um de São Paulo e outro de BH, solicitaram uma ocupação artística no local. Rafael Henriques sugeriu aos dois um trabalho conjunto: vão poder usar o terraço para as experimentações e discussões, fazer as pesquisas em conjunto e convidar as prostitutas para o processo. “Como sou ator, quero estar presente em todo o processo, acompanhando essa troca”, diz Rafael, com empolgação.
Público e policiais militares reconheceram a importância de ocupar espaço com cultura
Mesmo que a curiosidade seja um fator de atração para o público, Rafael Henriques afirma estar trabalhando para que o espaço do Hotel Diamante não seja um lugar da moda. Ou seja, que logo deixe de chamar a atenção. “Temos visto que muitas pessoas vieram primeiramente pela curiosidade e depois voltaram várias vezes. Viram que é um lugar de boa energia. Muita gente me procura para elogiar a ideia, mostrando que estamos no caminho certo”.
Um dos elogios, por sinal, partiu de um policial militar. “A polícia costumava vir sempre para saber o que estava acontecendo e, um dia, vieram vários, de várias patentes. Expliquei a proposta do espaço e, no final, o de maior patente me deu forte aperto de mão e me agradeceu, dizendo que a cidade precisava de mais pessoas como eu, que estava levando arte e cultura a uma região marginalizada”, lembra.
Diálogo
Desde o início, Rafael não quis parecer intruso ou um corpo estranho na rotina do Hotel Diamante, espaço de trabalho especialmente para travestis. “No início, fiz a festa ‘Praga de Puta Pega’, especialmente para as prostitutas, já que o espaço é delas. Hoje, algumas vêm me contar que compraram um vestido novo para uma festa. É normal vê-las indo ao salão para fazer o cabelo e as unhas especialmente para uma festa”, diz o produtor.
Funcionária do Hotel Diamante, Estrela diz que o Puta Espaço Cultural não mudou em nada a rotina das prostitutas, já que o horário das festas não coincide com o funcionamento. “Não são muitas que vêm às festas porque a maioria sai daqui e vai trabalhar na rua, à noite”, explica.
Segurança
Vale lembrar que o Centro da cidade tem policiamento durante toda madrugada e as festas duram até as 7h. Uma dica valiosa: não vá de carro, use ônibus (o Move está logo em frente) ou táxi (há filas na porta do hotel).    
Há outras ótimas iniciativas de ocupação cultural do baixo meretrício. Realizado na manhã de sábado de Carnaval, o bloco Então Brilha atrai, anualmente, milhares à região. Há ainda o bem-sucedido palco que a “Virada Cultural” passou a montar na rua Guaicurus
Em várias festas, os quartos ficam abertos para a realização de performances e projeções audiovisuais. Além do show no terraço, sempre há um DJ tocando no corredor do segundo andar.

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