Quino completa 80 anos sem saudade de Mafalda, sua 'filha' famosa

AFP
Publicado em 17/07/2012 às 17:42.Atualizado em 21/11/2021 às 23:38.
 (Alejandro Pagni/AFP)
(Alejandro Pagni/AFP)

BUENOS AIRES - Quino, o pai da Mafalda, a lendária menina rebelde dos quadrinhos, completa 80 anos nesta terça-feira (17), recluso com a sua timidez em sua casa em Mendoza, oeste da Argentina, sem saudades da sua personagem que lhe rendeu fama mundial.

Joaquin Lavado, conhecido como Quino, disse que chegou aos seus 80 anos "como um goleiro que não sabe onde a bola entrou", mas sua vida como cartunista está cheia de criações maravilhosas, e no topo está Mafalda, a menina que continua a cativar milhões de leitores ao redor do mundo com suas reflexões afiadas que ridicularizam o mundo dos adultos.

Embora a história tenha sido traduzida para 15 idiomas e tenha deixado de ser publicada há quase 40 anos, Quino se sente aprisionado pela associação automática de si mesmo com a famosa personagem, ainda viva por meio de inúmeras edições e cuja figura aparece em pratos, cadernos, calendários e outros produtos.

Talvez por isso, surpreenda ao confessar, no dia de seu aniversário de 80 anos, que, mais do que a feroz menina que tira a roupa da classe média, prefere a Liberdade, uma utópica rebelde que se opõe a tudo o que é estabelecido.

"A Mafalda eu desenhei desde o início até o final das tirinhas por dez anos. Por outro lado, a Liberdade eu desenhei no final das tiras, e, claro, com essa personagem me sinto melhor", disse Quino sobre a série publicada entre 1964 e 1973 nas revistas semanais argentinas Primera Plana e 7 Días e no jornal El Mundo.

Em sua casa em Mendoza, cidade na fronteira com o Chile, onde nasceu em 17 de julho de 1932, Quino afirma que não pode mais usar o seu talento, porque as limitações físicas o incomodam e confessa que ainda tem ideias, mas se pergunta: "Por que me acontecem coisas que eu não posso mais desenhar?".

Também não se dedica a atender novos artistas, porque se considera "muito introvertido", uma marca de sua personalidade que o levou a rejeitar ou aceitar relutantemente homenagens e outras celebrações.

Direto, declara que a única coisa que a idade proporciona, e que não é "porcaria", é "um melhor entendimento da música que ouviu por toda vida", acrescentando, em entrevista publicada nesta terça-feira no jornal Clarín, que não "é o mesmo que escuta Beethoven que o de 20 ou 40 anos atrás".

O artista ganhou notoriedade internacional em 1969 com a publicação na Europa de "Mafalda, a rebelde", com prefácio de Umberto Eco, que definiu a pequena como "uma heroína zangada que recusa o mundo como ele é, reivindicando seu direito de continuar a ser um menina e que não quer assumir um universo corrompido pelos pais".

Em 1954, Quino foi viver em Buenos Aires, onde publicou histórias em vários veículos, mas depois do golpe de Estado em março de 1976, que instaurou uma ditadura militar na Argentina, mudou-se para Milão com a sua esposa Alicia, já acompanhados pela fama de Mafalda.

Em sua carreira de mais de 50 anos, Quino publicou vários livros de humor como "Eu não grito!" (1972), "Bem, obrigado e você?" (1976), "Nem arte nem parte" (1981), "As pessoas em seu lugar" (1986), "Potentes, prepotentes e impotentes" (1989), "Não fui eu" (1994) e "Quem está aí? "(2012).

Suas tiras também apareceram há anos na edição de domingo do Clarín e do jornal espanhol El País.

Para além do que diga ou sinta o seu autor, parece difícil separar Quino de Mafalda. Uma vez, questionado por Julio Cortázar sobre a personagem que lançou o desenhista à fama, o escritor respondeu em tom de brincadeira: "Isso não tem a menor importância. O que importa é o que a Mafalda pensa de mim".

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