Respingos da 2ª Guerra na vida de duas crianças, na BH dos anos 40

Elemara Duarte - Hoje em Dia
28/08/2014 às 08:53.
Atualizado em 18/11/2021 às 03:58
 (Frederico Haikal)

(Frederico Haikal)

O escritor belo-horizontino João Batista Melo não tem antepassados alemães nem judeus. Muito menos é filho de pai “pracinha” da 2ª Guerra Mundial (1939-1945). Porém, uma curiosidade detectada em uma pesquisa sobre o tema o inspirou a escrever um romance cheio de sentimento vivido no período. Deste processo nasceu “Malditas Fronteiras” (Benvirá/Editora Saraiva, 280 páginas, R$ 32,50), que será lançado nesta quinta-feira (28), às 19h, na Livraria Mineiriana (rua Paraíba, 1419, Savassi).

A amizade entre um menino mineiro e uma menina alemã radicada na Belo Horizonte dos anos 1940 percorre a história. Valentino é filho de um empresário de classe média que defende a retaliação dos alemães na 2ª Guerra. E Sophie, a vizinha dele, é de família germânica.

Mas a amizade que surge entre as duas crianças numa rua da capital mineira é indiferente a qualquer situação de guerra. Mescla culturas e mostra uma época em que Belo Horizonte ainda mantinha ares de cidade do interior, com ruas em paralelepípedos e convivência sem medo.

“...a grade da amarelinha riscando o cimento. Sophie de tranças loiras salta pelos quadrados, as pequenas sandálias preenchendo os números”, descreve o texto simples, mas de vocabulário preciso, que rendeu ao autor o Concurso Nacional de Literatura Prêmio Cidade de Belo Horizonte, em 2012.

Melo conta que escrevia roteiro para um filme e nele, quando falava sobre o início do século 20, chegou aos resquícios, mas da 1ª Guerra Mundial (1914-1918), em Belo Horizonte. Uma das notícias foi a tentativa de invadir o Colégio Arnaldo, fundado por clérigos alemães. A trama armada por estudantes que buscavam indícios de espionagem a favor da Alemanha não foi adiante.

“Soube que houve perseguições a alemães imigrantes por aqui nesta época, e que na 2ª Guerra foi pior ainda”, aponta Melo. “A história do livro surge aí”, acrescenta. Foram gastos seis anos no processo para pesquisar as questões de relacionamento entre povos no período.

Preconceito

Na guerra do “lado de cá” – sem armas aparentes – as duas crianças tinham que enfrentar o preconceito do pai xenófobo. A amizade era reprimida, mas tinha como defensor o avô da menina, um sábio mestre cervejeiro morador do bairro de Santa Tereza. “Mineiros e alemães são fechados, mas de maneiras diferentes. Mas os mineiros são apenas em um primeiro momento, depois se abrem”, compara o escritor.

“Malditas Fronteiras” foge das temáticas previsíveis dos livros da 2ª Guerra, quase sempre focando a infindável dor dos oprimidos. Neste caso, a sutileza do olhar mostra até que pontos além horizonte uma guerra pode chegar. “Independentemente de povos e guerras, dentro de cada pessoa existe um ser que tem um sentimento”, defende Melo.

Este é o sétimo livro de Melo e o segundo romance. Os demais são contos. Nele, duas crianças bem longe do país do grande combate sofrem com os estilhaços de uma justificativa doentia defendida por adultos. Um século depois do primeiro combate e quase 70 anos após o segundo e apenas hoje é que se vê: tanto tiro à toa.
 
Colégio Arnaldo foi invadido
 
O Colégio Arnaldo foi fundado em 1912 pelo clérigo alemão Arnaldo Janssen. Uma das histórias curiosas vividas em mais de cem anos de construção do edifício, no bairro Funcionários, é de que o local foi suspeito de esconder canhões e armas durante a 1ª Guerra Mundial.

Em 1915, a instituição teria sido invadida por cerca de 400 pessoas, que buscavam armamentos e rádios que poderiam ser utilizados em espionagem pelos padres alemães, informa texto sobre os pontos históricos da capital mineira, publicado no site da Prefeitura de Belo Horizonte (http://portalpbh.pbh.gov.br/). Com a ameaça, a escola teria sido fechada e reaberta somente em 1918, com um reitor brasileiro.
 
"A Bibliotecária de Auschwitz"
 
Crianças e guerras também estão na temática de “A Bibliotecária de Auschwitz – Um Romance Baseado Numa História Real” (Editora Agir, 368 págs.), do jornalista Antonio G. Iturbe, que ganha mais uma edição no Brasil. O livro mostra a história de Dita Dorachova, a “guardiã da menor biblioteca da história. Eram oito livros que ficavam no bloco 31 do campo de concentração de Auschwitz-Birkenau, na Alemanha, durante a 2ª Guerra Mundial. Com os livros é que mais de 500 crianças puderam estudar escondido dos nazistas.

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