Em 1989, o fotógrafo Rogério Assis fez seu primeiro contato com a tribo indígena Zo’é. Povo que havia sido “descoberto” há pouco mais de 15 meses, no interior do Pará, por uma missão evangélica, mas que só naquele ano fora revelado à Fundação Nacional do Índio, a Funai. “Foi uma coincidência muito grande porque eu estava produzindo um documentário para a Funai quando a notícia chegou. Montaram, às pressas, uma equipe para registrar o primeiro contato e eu, que estava ali, na hora e no lugar certo, fui convidado para fazer o registro”, explica Assis.
O fotógrafo lembra que a tribo só foi revelada porque cerca de 20 índios haviam morrido em um período de dez dias, depois que um dos missionários transmitiu o vírus da gripe.
“Eles entraram em pânico com aquelas mortes. Na verdade, durante um ano e meio estavam sendo evangelizados e não falaram nada. Eles só procuraram a Funai por causa do surto epidêmico”, recorda.
À época, a visita registrada por Assis durou pouco mais de quatro horas, mas o impacto que ela provocou no fotógrafo foi tão grande que ele decidiu que precisaria voltar.
“Eles ficaram blindados e, na verdade, ainda o são. A preocupação da Funai em preservar a cultura e integridade desse povo é grande. Por isso, eu só consegui voltar 20 anos depois”.
O regresso, inclusive contou com o apoio da Fundação. “A ideia inicial era fazer uma reportagem especial para a extinta revista Pororoca (especializada em Amazônia), mas, chegando lá, percebi que a grandiosidade de tudo aquilo não caberia em um espaço tão pequeno. Saí de lá com a ideia certeira: precisava fazer um livro”.
Apesar da imponência da história e do material produzido, só agora (finalmente!) Assis conseguiu tirar o projeto da gaveta. São das fotos feitas em 1989 e 2009 que nasceu o livro “Zo’é” – um registro documental da tribo assinado por ele. Outra boa nova é que nesta quarta-feira (12) Assis estará em BH para contar essa e outras histórias.
Assis participa do "Foto em Pauta"
Neste 2014, Rogério Assis celebra 25 anos de carreira. Posto entre os principais nomes da fotografia documental contemporânea, aos 49 anos de idade, ele lamenta que, nos tempos atuais, muitos profissionais estão mais preocupados em falar de si mesmo do que registrar o que está ao seu redor.
“Sou a favor da fotografia plástica e da expressão pessoal, mas é lamentável que o registro documental, jornalístico, tenha sido colocado em segundo plano”, comenta o fotógrafo de Belém, para prever em seguida:
“Daqui há alguns anos vamos olhar para trás e ver um mundo cheio de pontos de vista pessoais, mas não vamos saber como era o Brasil nos dias de hoje. Imagina só, não reconhecer um povo e uma era porque o trabalho antropológico tão importante que um fotógrafo deve executar não recebeu atenção devida”.
Uma exclusão, segundo ele, que também já se apropriou do mercado da arte. “As galerias, por exemplo, já não estão interessadas em expor fotografias documentais – elas perderam o espaço nobre”.
Foto em pauta
De acordo com Rogério Assis, em um ano de comemorações profissionais, muitos projetos estão em vista. O primeiro deles, claro, é desembarcar nessa quarta-feira na capital mineira.
Nesta quarta-feira (12), a partir das 19h30, Assis será o primeiro convidado do “Foto em Pauta”, projeto que tem como coordenador o também fotógrafo Eugênio Sávio – idealizador do “Festival de Fotografia de Tiradentes”. Assim como nas outras edições, a entrada é gratuita.
Na ocasião, o paraense vai mostrar sua obra através de projeção e, em seguida conversar, com o público, além de também lançar “Zo’é” (Editora Terceiro Nome, 128 páginas, R$ 70).
“Fui o primeiro fotógrafo a registrar esse povo e quando retornei, 20 anos depois, percebi como as coisas mudaram na vida deles. Como cresceram e receberam atenção merecida da Funai – apesar das poucas interferências externas e isolamento em que vivem. Estou muito feliz porque meu papel, de fotógrafo documental, foi executado e mais ainda por ter conseguido transformar essa experiência em livro”.
Rogério Assis no “Foto em Pauta” – Nesta terça-feira (11), às 19h30, no Multiespaço/Oi Futuro (av. Afonso Pena, 4001, Térreo). Entrada gratuita com lugares limitados.