Senta, que lá vem história: a arte da contação ganha visibilidade em BH

Vanessa Perroni - Hoje em Dia
13/12/2014 às 09:49.
Atualizado em 18/11/2021 às 05:22

(LEO LARA)

Mineiro, quando nasce não chora: conta história. A máxima foi cravada por um dos ouvintes durante um curso de contação de histórias ministrado, no Rio de Janeiro, pela musicista, atriz e especialista na arte de contar (boas) histórias Beatriz Myrrha. “Realmente, o mineiro tem o dom de contar histórias, mesmo no dia a dia. Em Belo Horizonte, temos um grande número de contadores”, diz a mineira, que se tornou conhecida, na cidade, pela sua facilidade em atrair a atenção do público.   Pudera! Beatriz cresceu em uma família de contadores de histórias, e foi assim que aprendeu a dar vida às palavras por meio da voz e da interpretação. “Cresci ouvindo as histórias que minha mãe contava e me tornei uma leitora voraz. Fui alimentada assim a vida inteira”, rememora ela, que há quase 25 anos exerce o ofício de encantar as pessoas por meio das palavras. Suas histórias já foram levadas a escolas, teatros, praças, museus... e para onde mais a literatura chamar.   Mas engana-se quem pensa que a contação de histórias é direcionada apenas ao público infantil. “Quando me apresento no Museu das Minas e do Metal, por exemplo, a maioria do público é de adultos. Quando contamos histórias, todo mundo vira criança. Os olhos brilham, qualquer que seja a idade”.   E mesmo em tempos de aparatos tecnológicos dos mais diversos, a voz do contador continua encantando. “Hoje, basta apertar um botão e está tudo pronto na sua frente, mas quando as pessoas ouvem uma história, elas voltam para seu ritmo natural de vida”, avalia a contadora.   É nisso que também acredita a economista pernambucana Nádja Calábria, que se especializou em educação. Há quatro anos, quando veio de Recife para Belo Horizonte, ela se profissionalizou na arte de contar histórias. “A Fada que Tinha Ideias”, de Fernanda Lopes de Almeida, foi o primeiro enredo que contou “profissionalmente”. “Por meio da história, fortalecemos vínculos entre pais e filhos, alunos e professores, e entre o contador e seu público”, garante Calábria.   Ao lado da psicóloga, atriz e contadora de histórias Alessandra Visentin, Nádja forma a Cia Arreleque. O nome, cumpre dizer, é inspirado no neologismo usado por Guimarães Rosa e significa “asas abertas em forma leque”. “É para fazer voar a imaginação”, pontua Calábria.   Para ela, a contação de histórias também é algo que requer muito estudo e preparação – mas acredita que não é preciso ser ator para desenvolver este trabalho. “O teatro e a contação são artes diferentes. A contação é mais antiga e democrática, qualquer um pode se candidatar a este ofício”, reforça.   Para a escritora carioca e contadora de histórias Daniela Chindler, que coordena os programas educativos do Centro Cultural Banco do Brasil, a arte da palavra narrada auxilia no processo do aprendizado. “Há informações que a criança, dependendo da idade, não assimila no momento ao ler. Mas quando ouve a história, o conteúdo fica mais claro para ela, por ter com mais elementos”.   Incentivar o gosto pela leitura é um objetivo dos que se dedicam à arte  

A Cia Arreleque reúne os talentos de Nádja Calábria e Alessandra Visentin (Foto: Frederico Haikal) Foi justamente dentro desta perspectiva que o Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB BH) implantou a visita mediada por meio da contação de histórias, que tem atraído um público crescente. “Trabalhamos com histórias que têm o conceito da exposição que a instituição está abrigando naquele momento. E isso de fato acaba mudando o olhar do público diante das obras”, pontua ela.   A grande estrela da cena da narração é, claro, a própria história. “Somos apenas os condutores de algo que é feito coletivamente, pois o público acaba interagindo. As palmas, ao final, são para essa arte de construir esse rico espaço de coletividade”, acredita o contador Pierre André, que desde 1997 leva a magia das palavras para os locais onde se apresenta.    MITOLOGIA   A tradição de contar histórias não se restringe aos contos de fadas e ditos populares – atinge também o universo da mitologia. Hermes, Zeus, Afrodite, Eros e outros personagens são levados a alunos de escolas da rede pública de Belo Horizonte por meio do projeto “Contos de Mitologia”, da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). “Trazemos a mitologia para o universo da criança, utilizando elementos da atualidade”, explica a estudante de teatro Marcela Araújo, que integra a equipe formada por 15 contadores.   Coordenado pelo ator e professor Marcos Alexandre e pela professora Tereza Virgínia Barbosa, o projeto tenta incitar o gosto pela leitura aos “pequenos”. “Muitas crianças, ao final das contações, nos perguntam onde estão essas histórias e acabam procurando os livros”, conta, toda contente, a moça.    ROTEIRO   No cômputo geral, para quem gosta da arte da contação de histórias, Belo Horizonte conta atualmente com um pequeno, mas interessante, circuito. O Museu das Minas e do Metal, por exemplo, que integra o Circuito Cultural Praça da Liberdade, promove, todo último domingo do mês, o projeto “Era uma vez...”.  Já o Circuito Cultural Banco do Brasil conta com o projeto CCBB Educativo, que é desenvolvido em um grupo de contação de histórias. Há ainda a iniciativa “Na Pracinha” (napracinha.com.br), que todo mês leva contadores de histórias para uma praça da cidade.   A Biblioteca Infantojuvenil de Belo Horizonte oferece contações de história semanalmente, às sextas-feiras. Outras iniciativas visam repassar conhecimento. No início de novembro, por exemplo, o grupo Bureau de Projetos promoveu, em Brumadinho, a oficina “A Arte de Contar Histórias”, enfatizando a importância das histórias infantis como um instrumento de formação da criança e apontando as relações entre a leitura das histórias e a constituição moral, ética e emocional.   No curso, foram abordados os jogos dramáticos e improvisação, unidos aos instrumentos percussivos e harmônicos, bem como encenação e música no universo literário infantil.

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