Site "Mulheres do Cinema Brasileiro" inaugura nova fase

Paulo Henrique Silva - Hoje em Dia
27/02/2013 às 12:19.
Atualizado em 21/11/2021 às 01:24

(Arquivo Hoje em Dia)

Menos de dez nomes até a década de 60. O pesquisador Adilson Marcelino recorre a essa estatística para provar o quanto as mulheres estavam "invisíveis" no cinema brasileiro, especialmente no campo da direção. Os tempos mudaram e elas passaram a ocupar postos importantes, em grande número. Uma prova disso é o site "http://www.mulheresdocinemabrasileiro.com/site/", criado por Marcelino em 2004.

A pioneira publicação virtual, que inaugura nesta quarta-feira (27) uma nova fase, com design e logo diferentes e novas ferramentas de navegabilidade, já conta com 500 nomes. E, até julho, serão acrescidos mais 200.

Machismo

"O cinema era uma arte industrial muito ligada aos homens. As mulheres não eram valorizadas. Isso acontecia não apenas no Brasil, mas no mundo inteiro. Criei o site para preencher essa lacuna", registra Marcelino.

O momento simbólico de sua pesquisa aconteceu em 1981, quando assistiu ao trailer de "Eros, o Deus do Amor", dirigido por Walter Hugo Khouri, no antigo Cine Palladium, em Belo Horizonte.

"Fiquei impressionado com aqueles rostos bonitos, mas não sabia quem eram", lembra. Para ele, é representativo o fato de a "Retomada" do cinema brasileiro ter como baliza um filme dirigido por uma mulher: "Carlota Joaquina" (1995), de Carla Camurati.

"Agora elas estão em todas as áreas, assim como na sociedade. O cinema nada mais é do que uma reflexo da vida. Embora haja ainda muito machismo. Tanto que são poucos os trabalhos dedicados à mulher no cinema", enfatiza.

História

Marcelino frisa que o site não faz juízo de valor, abraçando artistas de todas as tendências. "Todas têm o mesmo peso e tamanho. O que importa para mim é que essas mulheres fizeram – e fazem – a história de nosso cinema".

O pesquisador relaciona esses rostos a muitas fases da cinematografia nacionais. "É muito importante, por exemplo, deixar de identificar a chanchada apenas pelo estúdio Vera Cruz. Podemos fazer isso também pelas atrizes, como Eliane Lage ou Marisa Prado".

Mulheres que merecem destaque

A maior atriz

"Isabel Ribeiro, que teve presença discreta no cinema, mas de forma forte, com estilo único de interpretação".

A mais bonita

"Tônia Carreiro tem uma beleza clássica, além de muito talento. Na década de 60, teve a Luiza Maranhão, uma negra altiva que trouxe outro olhar para o modelo de beleza negra, menos submetido".

A mais inteligente

"Além de grande atriz, Dina Sfat passou para a história do país com falas contundentes. Num programa, na época da ditadura, perguntaram porque ela estava tão silenciosa e Dina respondeu que tinha medo de coronéis. Dito ao vivo, aquilo foi um acontecimento, por conta de sua coragem".

A mais injustiçada

"Anecy Rocha foi uma atriz fundamental de nosso cinema, mas que, por ser irmã de Glauber Rocha, acabou ficando à sombra dele".

A supervalorizada

"Sempre tem aquela atriz que surge com uma mídia grande e os olhos se voltam para ela, pouco tempo depois desaparecendo. A Xuxa, como mulher do entretenimento, pode ser supervalorizada, mas fez um ótimo filme, 'Amor, Estranho Amor', dirigido por Walter Hugo Khouri".

A menos aproveitada no cinema

"A Adriana Prieto tinha 35 anos, com uma carreira ascendente no cinema, quando sofreu um acidente de carro. A Maria della Costa, que tem uma aura cinematográfica, também poderia ter sido mais requisitada".

A mais marcada por um tipo

"Acusam Zezé Macedo de ter sido a empregadinha do Brasil no cinema, mas isso é ignorância. Ela foi, além de uma das grandes comediantes do país, uma atriz genial, trabalhando em todas as fases".

A melhor mocinha

"Eliane Macedo foi a correspondente de Regina Duarte no cinema, como a namoradinha do Brasil no cinema dos anos 50. Não era tão ingênua, pois se metia naqueles quiprocós típicos da chanchada".

A melhor vilã

"A Yara Cortez, conhecida pelas novelas na TV, trabalhou em ‘A Rainha Diaba’, do Antonio Carlos Fontoura, como uma dona de bordel. Ali, ela mostrou um registro completamente diferente, tornando-se uma vilã marcante".

A mais ousada

"A Lucélia Santos fez, na década de 80, três filmes baseados em Nelson Rodrigues, além da minissérie ‘Meu Destino é Pecar’, e sua entrega foi impressionante. A Sônia Braga (foto) ficou no imaginário popular com a personagem de ‘A Dama do Lotação’ e se tornou, mais tarde, o símbolo sexual do cinema brasileiro. A Helena Ignez propôs uma atuação única, ousada, libertária e sem pudores".

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