Sites de financiamento coletivo on-line recebem projetos cada vez mais plurais

Cinthya Oliveira/Hoje em Dia
11/08/2014 às 07:59.
Atualizado em 18/11/2021 às 03:44

(Ricardo Bastos)

Desde 2011, os internautas brasileiros vêm se acostumando com a ideia de financiamento coletivo via web – aquela vaquinha on-line para a realização de projetos, também conhecida como crowdfunding. Se no início, músicos e cineastas aproveitaram bastante a nova ferramenta para levantar recursos para seus trabalhos, hoje o leque de quem procura sites especializados é muito mais amplo.

“Músicos e cineastas continuam sendo a maioria dos que nos procuram. Mas, nos últimos meses, houve uma ascensão muito grande de outras categorias, como literatura e quadrinhos. Para se ter uma ideia, no ‘Festival Internacional de Quadrinhos’ (FIQ), em Belo Horizonte, pelo menos 15 trabalhos foram financiados pelo nosso site”, afirma Felipe Caruso, coordenador de comunicação do Catarse, maior empresa do crowdfunding no Brasil.

Segundo ele, os projetos sociais também ganharam força na internet. “São iniciativas com começo, meio e fim. Como, por exemplo, um projeto de Porto Alegre que realizou uma corrida maluca para crianças cadeirantes. Cada cadeira foi transformada por artistas em um carro diferenciado”, conta.

Essa ampliação do leque vem acontecendo em todas as empresas de crowdfunding. A belo-horizontina Variável 5 começou sua atuação há dois anos com foco na música e abriu-se para a cultura em geral há alguns meses. Hoje, seus clientes são muito mais variados.

Um deles é a campanha para arrecadar fundos para o projeto “Galpão Benfeitoria”, que está sendo realizada até dia 17 no site variavel5.com.br. O proponente é o Benfeitoria, um coletivo de cinco empresas localizado no bairro Floresta, e que pretende transformar um galpão da rua Sapucaí em um centro cultural diferenciado.

“Temos alguns eventos na casa do Benfeitoria que foram crescendo e, hoje, não cabem mais ali. Então, decidimos alugar o galpão e transferir para ele todas as nossas atividades, além de convidar pessoas que possuem ideias bacanas, mas não têm espaço para executá-las”, afirma a relações públicas Jordana Menezes, integrante do coletivo. Segundo ela, a campanha pretende arrecadar R$ 20 mil, que serão usados na mão de obra para a reforma do galpão.

Alternativa para novos escritores

Empresa que colocou 18 campanhas de financiamento coletivo no ar em dois anos, a Variável 5 tem recebido muitos projetos de escritores. Caso do produtor cultural Leonardo Beltrão, que conquistou 140 apoiadores para a impressão de sua reunião de contos “a festa do adeus” (assim mesmo, em letras minúsculas).

O escritor já estava familiarizado com a plataforma e havia sido apoiador em alguns projetos, como os dos discos de Pablo Castro, Celso Moretti e Luiza Brina. Há quase um ano viajando pelo mundo, ele teve de fazer sua campanha apenas com contato via web. “Quando a campanha começou, estava no Camboja. Depois passei por Marrocos e, agora, estou há algum tempo na Espanha. Então, minhas únicas ferramentas de trabalho eram o Facebook, o e-mail e o boca a boca de amigos e parentes. Mesmo à distância, me obriguei a acessar a internet ao menos uma vez por dia”.


Beltrão investiu em um canal direto com os contatos. “É necessário que se mantenha diálogo quase em tempo integral para envolver as pessoas no projeto. E, como é o meu primeiro livro, a minha defesa foi sempre mais pelo lado afetivo, da realização de um sonho”, completa.


De acordo com Alyce Ly, integrante da Variável 5, o corpo a corpo pela internet é fundamental para a conquista de apoiadores. “É preciso um trabalho de formiguinha, um tratamento pessoal com todos os seus contatos. Por isso, financiamento coletivo é mais do que uma ferramenta para arrecadar dinheiro. É também uma estratégia de marketing”.


Específico


A busca do financiamento coletivo por escritores é tão grande que foi criado um site específico para a área de literatura. Há dois meses, o Bookstorming entrou no ar com sua primeira campanha, a compilação de contos “Desordem”.


Foram conquistados 700 apoiadores em 45 dias. O grande diferencial é que o Bookstorming (bookstorming.com.br) vai editar, imprimir e entregar as cópias a todos que fizeram o investimento. “Agora, estamos mudando o site para que se torne uma plataforma de encontro para os interessados em literatura”, afirma Breno Barreto, integrante do grupo de jovens empreendedores que criou o site. A ideia foi tão bem aceita pelo mercado, que eles já receberam mais de cem originais de escritores interessados em lançar trabalhos pela plataforma.


O jornalista Raphael Vidigal é um exemplo de quem foi bem-sucedido na busca por recursos para o primeiro livro. Conquistou 82 apoiadores, entre eles, gente famosa como as cantoras Eliana Pittman e Vânia Bastos. Com R$ 10.140, poderá editar “Amor De Morte Entre Duas Vidas”.


Mesmo assim, Vidigal acredita que essa ferramenta é apenas uma ação paliativa para a falta de investimento na cultura. “Este é o primeiro passo, mas não é interessante se tornar refém deste tipo de financiamento”.


Projeto artístico beneficia catadores


Em 2012, o grafiteiro Mundano realizou uma campanha no Catarse para arrumar carroças de catadores de São Paulo. O sucesso foi tão grande, que logo surgiram ações no Rio de Janeiro e em Curitiba.


A partir daí, o Catarse decidiu expandir a ideia para todo o Brasil. Funciona assim: uma pessoa cria uma campanha para beneficiar um catador de sua cidade. Assim que R$ 500 são levantados, o projeto “Pimp My Carroça” envia um kit com vários produtos para melhorar a segurança e o visual da carroça.


Em Belo Horizonte, o carroceiro Marcelo da Paz acaba de ser beneficiado. A campanha foi feita pelo publicitário Filipe Thales, integrante do Movimento Viva Lagoinha. “O movimento quer melhorar a região e acreditamos que devemos começar pelo material humano. A intenção é fazer campanhas para todos os catadores. Começamos pelo Marcelo porque ele tem uma ótima história de superação. Ele é empreendedor e suas três filhas estão na faculdade”, afirma Thales.


O “turbinamento” da carroça de Marcelo vai acontecer em um dia de festa (ainda sem data definida), na área em frente ao Mercado Popular da Lagoinha.

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