Sucesso de “Relatos Selvagens” endossa receptividade do cinema argentino em terras tupiniquins

Paulo Henrique Silva - Hoje em Dia
06/12/2014 às 09:03.
Atualizado em 18/11/2021 às 05:17

(Warner)

Nas bilheterias, o Brasil já dice que se siente, dando, mais uma vez, o aval à produção cinematográfica argentina recente: dois títulos em cartaz – “Relatos Selvagens” e “Sétimo” – levaram, juntos, mais de 600 mil espectadores às salas de exibição do país. Curiosamente, o argentino Pablo Blanch ainda não tinha colaborado com esses expressivos números. Residindo há dois anos em BH, ele só voltou a ver um filme de sua terrinha na “tela grande” na última quinta-feira (4), quando, a convite do Hoje em Dia, foi ao Belas Artes assistir ao citado “Relatos Selvagens”.
Na verdade, o jogador de futebol americano e dono de produtora (a Iguazu Filmes) confessa que nem sabia que, por aqui, eram exibidos tantos filmes argentinos. Ao lado da mulher, a brasileiríssima Vanessa, Pablo não disfarçou a alegria ao notar que outro filme – “Sétimo” – com Ricardo Darín, ator ícone dessa safra argentina, estava em cartaz no complexo. “E ‘Elsa & Fred’ também?”, pontuou ainda, confundindo, na verdade, com o recentíssimo remake norte-americano com o original argentino, um sucesso de 2005.
E por que Pablo não é uma figura tão assídua assim nas salas de cinema da cidade? Bem, com um telão de 120 polegadas em casa, ele se acostumou a matar saudades baixando filmes. “No Brasil só chegam aqueles que estão fazendo grande sucesso. Não vemos a totalidade da produção”, lamenta. É verdade: os “vizinhos” fecharão 2014 com 160 títulos lançados.
Para Blanch, que completou 30 anos um dia antes de conhecer o Belas Artes (“Foi o meu presente”), o sucesso do cinema argentino não é de hoje. E cita “Nove Rainhas”, de 2000, como o seu preferido. O que mais lhe atraiu no filme sobre dois golpistas (e com Darín no elenco) foi a maneira como mostra o portenho, morador de Buenos Aires. “O portenho é igual ao paulistano: é ele contra o resto do país”, diverte-se Blach, que mostra surpresa ao saber que “Nove Rainhas” foi exibido aqui. Destaca que ter Darín num projeto ajuda muito na divulgação e distribuição, embora, particularmente, prefira o veterano Héctor Alterio.
Recentemente, Sebastián Borensztein, que dirigiu Darín em “Um Conto Chinês”, lembrou que Darín já tem seu próprio público. “Ele é capaz de levar 200, 300 mil ao cinema. Se o filme for bom, esse número se multiplica”.

 

Mais visto do ano na Argentina

  Crítico de cinema do site argentino “EscrebiendoCine”, Juan Pablo Russo afirma que o sucesso de “Relatos Selvagens” não é casual. Representante do país na corrida por uma vaga na disputa do Oscar (ainda o prêmio máximo da indústria cinematográfica) na categoria Filme Estrangeiro, ele destaca o forte trabalho de divulgação do título capitaneado por um dos produtores do longa: ninguém menos que o diretor espanhol Pedro Almodóvar (“Fale com Ela”).
“Almodóvar é um peso pesado na indústria e sua presença, na produção, abriu o caminho. Entrar na mostra competitiva do Festival de Cannes, mesmo não sendo um filme festivaleiro, é fruto disso”, avalia Russo, que também credita o êxito a “acertos cinematográficos” como o roteiro, que busca identificação permanente com o público.
Essa ligação ocorre, segundo ele, devido “à representação fantasiosa do lado mais selvagem de cada um”. A trama traz episódios em que personagens perdem a razão – por diversos motivos, como não conseguir contestar uma multa de trânsito ou por uma “fechada” na estrada.
Nos cinemas argentinos, o filme, que estreou em 21 de agosto, foi o mais visto de 2014, superando os 3 milhões de público. É nada menos que o longa mais visto no país nos últimos 25 anos. Daí a indicação para tentar uma vaga no Oscar. “Está à altura de qualquer filme estrangeiro”, elogiou o crítico Gaspar Zimerman, do diário “Clarín”. “Aquilo que não se acreditava que poderia ser feito aqui, agora se pode”, completou. Juan Pablo Russo, por sua vez, registra que, no cômputo geral, 2014 foi um bom ano para o cinema argentino, não só devido a “Relatos Selvagens”, mas pela presença de filmes em importantes festivais do mundo. Entre eles, “Jauja”, “Refugiado”, “El Ardor”, “El Cerrajero”, “La Tercera Orilla”, “Historia del Miedo”, “Aire Libre” e “Ciencias Naturales”.
E o que o nosso convidado, Pablo, achou do filme a que assistiu? “Me fez pensar. Brigar por problemas no trânsito, nunca aconteceu. No máximo, xingamentos”. Mas, brincando, ele diz que se identificou com a atitude do personagem de Darín, que coloca uma bomba numa empresa que ignora sua solicitação. “Já fiquei p... com isso. Nessa semana mesmo, tive vontade de explodir um banco”. Brincadeira, claro.

Compartilhar
Ediminas S/A Jornal Hoje em Dia.© Copyright 2024Todos os direitos reservados.
Distribuído por
Publicado no
Desenvolvido por