O último número do Suplemento Literário, dedicado à tradução, deveria ter sido editado em capa dura. É obra de referência que merece ficar na estante e não na cesta de revistas. São 14 integrantes do primeiro time da tradução nacional que escrevem sobre o ofício da tradução e mais duas entrevistas (com Jório Dauster, tradutor de Nabokov; e Paulo Bezerra, de Dostoiévski). E, ainda, meia dúzia de poemas inéditos em português de Maiakovski traduzidos por Augusto de Campos.
Estão lá jovens talentos (como Ana Helena Souza, de Beckett) e tradutores consagrados (como Ivo Barroso, de Shakespeare). Perguntei ao organizador, o jornalista João Pombo Barile, se todos os tradutores brasileiros vivos que interessam participam da edição do Suplemento. “Longe disso. A seleção de nomes é uma amostra que não tem pretensão de ser conclusiva”. Quem ficou fora? “Modesto Carone (de Kafka) e Rubens Figueiredo (de Tolstoi) são faltas importantes. E Guilherme Flores (de Virgílio) pela nova geração”.
Edição especial
Diferentemente dos números regulares do Suplemento, em papel jornal, esta edição especial tem capa em couché e papel branco no miolo, além de um bom trabalho gráfico que valoriza os textos. A capa e as contracapas trazem imagens de São Jerônimo, tradutor da Bíblia para o latim.
Os colaboradores escrevem, basicamente, sobre a paixão, as técnicas e a trajetória de cada um na tradução. A maior parte deles analisa, ainda, a essência da recriação artística envolvida no ofício e seus limites. São bons textos, escritos por pessoas inteligentes sobre o assunto que mais os empolga, o que resulta em leitura das mais agradáveis.
Entre os tradutores, além dos já citados, estão Marcelo Backes (de Arthur Schnitzler); Júlio Cartañon (de Sartre); Denise Bottmann (de Hannah Arendt), que mantém na internet o interessante blog ‘Não Gosto de Plágio’, contra plágios de tradução; Guilherme Gontijo Flores (de Robert Burton); Jacyntho Lins Brandão (dos gregos); Ivone Benedetti (de Boccaccio); Leonardo Fróes (de Faulkner); Cláudio Willer (da Geração Beat); Afonso Henriques Neto (de Garcia Lorca); Mário Alves Coutinho (de D.H. Lawrence); e Álvaro Faleiros (de Valèry).
O texto de Augusto de Campos é o único que destoa do conjunto, já que não trata do trabalho de tradução propriamente dito. É um trabalho crítico da fase futurista (ou cubofuturista, como chama o autor) do poeta russo Maiakovski, do qual é tradutor.
Pode não ser uma lista conclusiva, como bem colocou Barile, mas é um time que representa o que de melhor se está fazendo e se fez nos últimos 50 anos no Brasil em tradução.