Trajetória de Kandinsky é foco de nova exposição do CCBB

Elemara Duarte - Hoje em Dia
Publicado em 13/04/2015 às 09:01.Atualizado em 16/11/2021 às 23:37.

A trajetória de um dos “pais” do abstracionismo poderá ser conhecida em algumas horas a partir desta quarta-feira, no Centro Cultural Banco do Brasil. Mas, para “sentir” a exposição “Kandinsky: Tudo Começa Num Ponto”, é necessário se abstrair da noção do tempo.

“Kandinsky tem uma obra espiritual, sentimental. Basta apenas olhar a obra e sentir o que o artista quer transmitir com a junção de cores”, ensina o idealizador da mostra, Rodolfo de Athayde.

As peças da exposição do pintor russo, que nasceu em 1866 e morreu em 1944, vieram do Museu Estatal Russo de São Petersburgo e de outras coleções europeias. Além das obras de Wassily Kandinsky, a exposição reúne objetos dele, mas também obras de artistas contemporâneos a ele.

Há também influências culturais que o pintor absorveu. Elas começam na cultura primitiva e na cultura popular russa. Na primeira parte da exposição há, por exemplo, vestimentas, máscaras e tambores de rituais xamânicos vindos da Mongólia – região que conheceu em expedição.

“Rejeito o gesto de desprezo com o qual conhecedores de arte e artistas ignoram a forma de arte dos povos primitivos”, disse, certa vez, Kandinsky, protegendo o valor das inspirações dele.

A exposição é didaticamente dividida nas fases de vida do russo até os caminhos que abriu para o gênero abstrato. Athayde diz que a exposição mostra os caminhos que o artista usou para forjar a passagem para a abstração. “Mostra os recursos a partir dos quais a figuração deixou de ser a única via possível para representar os estados mais vitais do ser humano”.

Assim, ao transformar o compreensível aos olhos e fisgar o visitante diretamente pelo sentimento, é que Kandinsky parece conseguir cumprir o objetivo dele. Afinal, conforme ele ensinou: “Pintar é detonar um choque de mundos diferentes”.

Entrevista com Rodolfo de Athayde

Kandinsky realmente pode ser considerado popular no Brasil?

É um dos nomes mais populares na história da arte. Muitos brasileiros conhecem os quadros mais divulgados. Mais de 760 mil pessoas já visitaram esta exposição em Brasília e no Rio de Janeiro. E isso não são uma elite. É gente do povo mesmo. É uma quantidade muito expressiva.

O que atrai essas pessoas?

É por ele ser considerado um dos pais da arte abstrata. Em determinada etapa da 2ª Guerra Mundial, pesquisadores encontraram nele os fundamentos da abstração, porém, eles desconheciam na época toda uma série de importantes artistas que também trilharam esse caminho. Ele é o mais famoso e mais simbólico entre estes artistas. Ele é um teórico sobre a sua própria obra.

E este lado teórico começa por este título: “Tudo Começa Num Ponto”?

É um frase que vem de um livro dele chamado “Ponto, Linha e Plano”. Trouxemos para a exposição para mostrar as origens de como Kandinsky se desenvolveu. É um livro que trata sobre regras da composição.

Em que ocasião ele entrou em contato com a cultura primitiva?

Ele foi enviado a trabalho ao norte da Rússia. Ele era jurista e se dedicava a fazer pesquisas sobre a antropologia vinculada ao direito.

Como é este lado “espiritual” nas obras dele?

O primeiro trabalho como pensador da obra dele se chama “Do Espiritual na Arte”. É um esforço sério dele de vincular a questão do espírito à realização da obra. Ou seja, o artista já não pinta aquilo simplesmente que vê, de forma exata. O artista capta o que as coisas lhe transmitem espiritualmente e tenta transformar isso em uma obra de arte.
 

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