Tricoteira e "crocheteira", Letícia Matos espalha seus pontos e sua arte por cidades como BH

Patrícia Cassese - Hoje em Dia
08/07/2013 às 08:25.
Atualizado em 20/11/2021 às 19:51

Ocupar espaços públicos, com objetivos nobilíssimos: levar beleza e colorido às ruas, permitir o deleite visual aos que não têm o hábito de visitar galerias e museus e estimular o interesse pela arte. Não bastasse, remeter (os transeuntes) à sensação de carinho, de zelo. De colo de avó. Norteada por esses propósitos, a gaúcha Letícia Matos vem espalhando pelo país a sua leitura bem particular para a palavra arte: pompons. Uma das obras da moça enfeita, no momento, a avenida Brasil, logo ali, no Santa Efigênia.
 
Em meio ao vaivém de carros, o tronco de uma árvore ostenta uma colorida intervenção – com direito aos citados pompons. Em Inhotim, os pontos de Letícia também marcam presença. "No free style, de metida mesmo", ri a moça, que em março do ano passado deu start ao projeto "13Pompons". "O nome surgiu no dia em que fiz a primeira intervenção. Estava ensinando amigas a fazer tricô e produzimos alguns pompons. Sugeri que colocássemos numa árvore e, quando contamos, haviam 13".

Modus operandi

Na verdade, num segundo momento Letícia ficou sabendo de iniciativas similares espalhadas pelo mundo. "Meus amigos viam fotos e me mandavam as referências", conta. E a "coisa" foi ganhando corpo e se espalhando: Paraty, Porto Alegre, Goiânia e até Buenos Aires.

"Caminho pelas ruas e escolho o ponto. Se tenho algum conhecido no lugar, faço pelo menos uma intervenção por perto. Mas gosto de interagir na cidade, enquanto vou conhecendo e descobrindo, escolho o ponto", diz ela.

Batido o martelo, Letícia tira as medidas da árvore. A trama e os pompons, ela faz em casa, e depois volta ao local, onde costura tudo. O curso do processo está diretamente ligado ao tamanho da árvore, "mas, em média, demanda uma semana de trabalho". Já para costurar no local, ela gasta em torno de 30 minutos. "A maioria das intervenções, acabo dedicando a um amigo. Escolho as cores e, muitas vezes, o local, de acordo com a pessoa a quem vou dedicar o trabalho".

As reações, garante ela, são sempre muito positivas. "As pessoas perguntam o que é e se vou deixar ali, tiram fotos... Tem gente que para e fica conversando comigo enquanto ‘tô’ lá fazendo". Algumas intervenções, prossegue, duram muito. "Já tirei fotos de umas com quase um ano!". De outras, não sobra nada. "Arrancam os pompons, rasgam o tricô-crochê... Ou tiram tudo mesmo, não deixam nenhum rastro", constata, resignada.

Sustentabilidade e criatividade

O feedback do trabalho da gaúcha vem angariando cada vez mais visibilidade. Sabe a campanha de uma marca de refrigerantes que prega o "colorir as ruas"? Pois bem, Letícia aparece no comercial. "O convite veio através de um vídeo que fizemos de uma ação colaborativa em dezembro do ano passado. Nos juntamos – eu, Felipe Yung (o grafiteiro "Flip") e Flávia Lhacer (figurinista e integrante do coletivo Clube do Útero, que difunde os bordados) – para colorir um quarteirão da rua Augusta. Os caras viram o vídeo e nos procuraram para fazermos esse trabalho".

Ela também foi convidada pelo Boticário para o projeto "Mulheres Que Perfumam". Hoje, aliás, Letícia grava um episódio desse projeto, para o programa "Home&Health", do Discovery.

Em setembro, a convite da "Art Rua Rio", ela vai fazer intervenções na "cidade maravilhosa", para além do local do evento (na zona portuária do Rio). "Nesse mês, vou lá, tirar medidas e tal. Aproveito e já deixo alguma coisa", diverte-se.

Em Belo Horizonte, além das árvores (além das de Inhotim e da av. Brasil, há outra próxima à Aliança Francesa), ela fez pompom "gigante" para o evento "Morar Mais". "Simboliza um óvulo e tinham também uns espermatozóides, remetendo à fecundidade, à criatividade para a construção novos espaços, valorizando a sustentabilidade". Em março, a obra foi exposta na coletiva "Infiltrações", na Aliança Francesa.

Informada sobre a situação dos ficus na av. Bernardo Monteiro, ela lamenta. "Que triste! Tenho muito amor pela natureza e, quando faço intervenções em arvores, é também para chamar a atenção das pessoas, dizer que temos árvores na cidade, e que temos que cuidar delas!"

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