Um dos passatempos mais conhecidos e curtidos em todo o mundo faz cem anos

Paulo Henrique Silva - Do Hoje em Dia
07/01/2013 às 06:58.
Atualizado em 21/11/2021 às 20:21
 (Frederico Haikal)

(Frederico Haikal)

Espécie de charada em que se deve preencher os espaços quadriculados em branco para formar uma ou mais palavras. Com dezesseis casas. Um dos passatempos mais conhecidos do mundo, ainda hoje presente em milhares de jornais e revistas, as palavras cruzadas estão completando um século.

Publicado pela primeira vez no suplemento do “New York World”, em 21 de dezembro de 1913, o jogo não foi vencido pelos avanços tecnológicos, atraindo até hoje leitores “viciados” em testar seu vocabulário e seus conhecimentos sobre cultura geral.

Em pouco tempo o caráter lúdico e prático ganhou ares mais sérios, recomendado por médicos para melhorar o raciocínio e por professores de cursinhos pré-vestibulares, que veem nas cruzadinhas uma boa forma de os alunos memorizarem novas palavras.

Em Poços de Caldas, está sediada a segunda maior editora do segmento. Com sete títulos e 200 mil exemplares/mês, A Recreativa lançou a primeira revista do país, em 1950. “Apesar da concorrência de computadores e smartphones, o público continua fiel”, observa Adriano Mussolin.

Construtor

Adriano é um dos filhos que dão continuidade ao projeto do pai, Owen Ranieri, falecido em 2002. De inveterado cruzadista – hábito adquirido na época em que morou na Itália – o patriarca virou um “construtor”, como são chamados os criadores do jogo.

O formato é praticamente o mesmo de 60 anos atrás, adotando as cruzadinhas italianas ou indiretas, que não são fechadas e têm as definições fora do diagrama, diferentemente do que faz a Coquetel, principal editora brasileira, com cinco milhões de exemplares mensais.

“Os passatempos continuam sendo uma opção muito presente. Um dos motivos é a sua portabilidade”, destaca Daniel Stycer, editor-chefe da Coquetel, que conta com equipe de 90 colaboradores na criação dos jogos.

Assim como em A Recreativa, o carro-chefe é a cruzada. Na empresa carioca, a feitura é dividida em três etapas, com a participação de diferentes pessoas. Enquanto um faz o diagrama, um redator se ocupa de montar as definições. Depois são checados por um editor.

“Há profissionais de todas as áreas, de médico e músico a professor de português, que são distribuídos entre os diferentes níveis (de dificuldade). Temos colaboradores que estão com a gente há muitos anos, mas estamos sempre reciclando para atualizar o banco de palavras”, observa Stycer.

A jornalista Maristela Sousa, que trabalha com cruzadas há 30 anos, destaca a preocupação em escolher termos e definições de interesse do cidadão. “O mais interessante é mesclar atualidade com enciclopédia. Cultura inútil é abominada. A quem interessa saber o nome de um rio qualquer da Sibéria?”.

Revistas buscam a faixa jovem

Maristela produz cerca de cinco cruzadas por dia. Pouco? Mesmo com o auxílio da internet, que dispensa os dicionários, a atividade exige muito da mente. Tanto que Maristela não tem no passatempo seu principal divertimento nas horas de folga.

Com público concentrado na região Sudeste (62%), as revistas Coquetel têm buscado conquistar a faixa jovem, diversificando seus produtos e não se contentando apenas com o suporte papel. Em parceria com a Samsung, a empresa lançará neste mês aplicativos para celular.

Ao se adaptar aos novos tempos, a Coquetel conseguiu inverter os números de faixa etária, tendo como principais consumidores os que têm abaixo de 40 anos (59%). As classes A e B dominam (61%), assim como o público feminino (54%).

Carentes

Em A Recreativa, Mussolin afirma que as revistas têm 90% de leitores acima de 50 anos. As classes de maior poder econômico e grau de escolaridade ocupam a maior fatia dos consumidores. “Temos procurado modernizar na medida do possível, mas sem perder a característica tradicional”.

Mussolin observa que as palavras cruzadas são feitas, em geral, por pessoas carentes e solitárias. “O passatempo serve como uma espécie de companhia. É uma forma de ter um estímulo racional sem ter outra pessoa a seu lado”, radiografa.

A editora mineira realiza anualmente encontros de cruzadistas em cidades diferentes. Diferentemente dos Estados Unidos, o caráter competitivo é menos importante que a sociabilização.

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