Um herói involuntário nas telas em “Clube de Compras Dallas”

Paulo Henrique Silva - Hoje em Dia
21/02/2014 às 07:21.
Atualizado em 20/11/2021 às 16:10
 (Divulgação)

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Do mínimo ao máximo esforço. Da satisfação individual ao interesse coletivo. Outro forte candidato ao Oscar, “Clube de Compras Dallas”, que também estreia nesta sexta-feira (21) nos cinemas da cidade, tem como grande trunfo essa “equalização” da narrativa.

A história do caubói homofóbico do Texas que, na segunda metade da década de 80, descobre ser portador do vírus HIV, avança como um drama de superação e redenção, levando o personagem a conhecer mais sobre si a partir do outro.

É quando precisa do outro que Ron Woodroof inicia sua curva ascendente. Antes individualista, preconceituoso, farrista e aparentando não dar a menor importância à vida, ele tem sua rotina transformada com a doença.

A mudança de perspectiva começa com a noção de tempo. O peão de rodeio vivido por Matthew McConaughey parece viver para permanecer, no máximo, sete segundos sobre o touro bravo, não evidenciando nenhum plano futuro.

Mas quando ouve do médico que morrerá em 30 dias, essa contagem ganha outro ritmo. A rapidez como vira um copo ou se droga é trocada pela lentidão burocrática do serviço hospitalar, o novo “animal” a ser domado.

Woodroof tenta se impor pela rudeza de uma cultura conservadora, mas ela é a primeira a se voltar contra ele, no momento em que seus amigos o discriminam. O caubói vira mais uma vítima do sistema, esperando para ser um dos beneficiados com o AZT.

A despreocupação com o dia seguinte muda completamente de figura quando resolve burlar o sistema, promovendo longas e arriscadas viagens para outros países para conseguir remédios alternativos e proibidos nos Estados Unidos.

Sem querer, Woodroof acaba se deparando com uma manipuladora indústria farmacêutica, que esconde os nocivos efeitos colaterais do AZT e impede, com a colaboração da FDA (Food & Drugs Administration) que outras opções sejam disponibilizadas aos portadores do vírus.

Ele passa a ser um herói involuntário, tornando-se a única saída para um número cada vez mais crescente de doentes. O filme do diretor Jean-Marc Vallée (de “C.R.A.Z.Y.”) abre, nesse instante, brecha para o humor, na figura do parceiro Rayon.

Interpretado por Jared Leto, Rayon é um travesti que também faz parte da curva ascendente de Woodroof, como mais uma prova da mudança deste. Inicialmente, eles não se entendem, tornando depois amigos inseparáveis ao perceberem que há mais em comum entre eles do que diferenças.

CORAJOSO

Caçado pelas autoridades, o agora ídolo gay vai para os tribunais, onde mais uma vez o tempo passa muito lentamente, na contramão dos anseios do ex-caubói. É como se o roteiro afirmasse que, para as coisas que importam, os ponteiros quase não se movem.

O personagem vive bem mais do que os 30 dias anunciados pelo médico, mas esse prolongamento tem um sabor parcial de vitória, já que os pequenos prazeres individuais não têm a mesma resposta de quando pensamos coletivamente.

Por isso a sensação de frustração, na contramão de uma época em que os Estados Unidos usufruíam do egoísmo capitalista da era Ronald Reagan. Os tempos podem ter mudado, mas as grandes indústrias continuam ditando as regras.

Corajoso, “Clube de Compras Dallas” oferece uma grande atuação de McConaughey, que passou por uma transformação física para o papel, ficando extremamente magro e distante do porte de galã de outros filmes. Esforço que deverá ser recompensado com o Oscar. 

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