Fósseis e bonecos de cera que ganham vida em museus são frutos, evidentemente, da imaginação dos roteiristas, especialmente os da franquia “Uma Noite no Museu”, cuja terceira parte já está em cartaz nos cinemas. Mas que os porteiros e guardas noturnos dessas instituições têm seus medos (ou receios, como preferem dizer) quando estão sozinhos entre os trabalhos de arte, disso não há dúvidas.
Porteiro do Centro Cultural Banco do Brasil desde sua inauguração, há um ano e seis meses, Jorge Luiz Vespasiano admite que não é “para qualquer um” caminhar pelos quarto e quinto andares, que estão sendo reformados para receber, futuramente, um cinema e uma praça de alimentação.
“Lá você ouve passos, vozes e barulho de portas se fechando. É muito estranho”, registra o porteiro. Como o local foi sede da Secretaria de Defesa Social antes de virar centro cultural, esses “fantasmas” geralmente são ligados a pessoas torturadas durante a ditadura. “Sempre ouvi essas histórias dos policiais que traziam presos políticos para cá. Meu receio é de encontrar alguma coisa... Não uma assombração, mas algo que provocasse medo”, afirma Welington Sales Ferreira, outro funcionário do CCBB.
Em se tratando de museus, Welington tem larga experiência, trabalhando também no Museu Mineiro, onde, desde 2006, vigia o acervo de mais de 2.600 peças. “Como é um prédio antigo, falam muitas coisas, como os escravos que trabalhavam aqui”, assinala. Seu colega Antônio Carlos Ferreira explica que se criou essa relação por causa dos instrumentos de tortura que estão expostos no museu.
“Muitas pessoas acham que eles (os escravos) participaram da construção, mas o prédio data da fundação de Belo Horizonte, quando a escravidão já tinha sido abolida”, salienta Antônio, bancário aposentado que cursou Ciências Contábeis e História na faculdade. As narrativas fantasmagóricas são reservadas para as crianças que visitam o lugar, curiosas em saber se os objetos se mexem durante a noite.
Essas perguntas surgem em função do filme, mas também porque a casa tem um lado meio sombrio. Como há vários quadros da família real portuguesa, Antônio instiga a imaginação dos pequenos ao dizer que os fantasmas deles costumam aparecer depois que o museu fecha as portas. “É uma forma de alimentar a fantasia, mas nunca ouvi Dom Pedro dando o grito da Independência”, diverte-se.