“Uma Nova Amiga”: François Ozon explora o cross-dressing em filme

Patrícia Cassese - Hoje em Dia
Publicado em 19/10/2015 às 07:52.Atualizado em 17/11/2021 às 02:07.

A partir de um tema pouco explorado na sétima arte – o cross-dressing – o francês François Ozon entrega ao público mais um filme adorável – desta feita, tendo muito a dizer sobre tolerância e respeito – não bastasse, sobre o quão as definições que recaem sobre a sexualidade humana ainda são por demais limitadas para abarcar um espectro tão refratário a rótulos.

“Uma Nova Amiga”, o filme em questão, foi exibido recentemente na capital mineira e traz Romain Duris (um dos queridinhos da cinematografia francesa atual – vide a trilogia iniciada por “Albergue Espanhol” ou “A Datilógrafa”) como David, um jovem e recente viúvo que, certo dia, é flagrado por Claire, melhor amiga de sua falecida esposa, Laura, usando trajes femininos, a dar mamadeira ao bebê agora órfão de mãe.

O choque inicial de Claire (Anaïs Demoustier) – e o ensejo de fugir correndo da cena – dá lugar a uma cumplicidade crescente que, de certa forma, preenche o vazio deixado pela partida precoce de Laura – as duas se conheceram ainda pequenas, e chegaram a se cortar para fazer a prova de amizade.

Agora, Claire chega a criar uma identidade para a nova amiga, e, assim, David vira Virginia. A primeira saída das duas gera todo um frenesi tanto no que se refere ao objetivo da iniciativa (fazer compras em lojas femininas de um centro comercial) quanto no que tange às estratégias para que ninguém (vizinhos ou os sogros de David, por exemplo) as surpreenda – e a adrenalina advinda do medo do flagra.

Casada, Claire também esconde do marido a identidade da nova amiga, embora deixe-o levemente instigado ao se mostrar surpreendentemente mais ardente na cama.

Aliás, a personalidade de Claire é um ponto interessante dentre os desenvolvidos por Ozon. Discreta até a medula, abusa dos tons sóbrios para portar uma indumentária repleta de itens ditos “masculinos” (blazers, alfaiatarias...) Mas, ao lado de Virginia, se arrisca a experimentar um vestido vermelho e a se valer do batom.

Reza a prudência não avançar daqui, de modo a não destruir o prazer do espectador – ao menos, aquele destituído de preconceitos – em conferir uma obra que, bem conduzida, consegue a proeza de comover e, ao mesmo tempo, fazer com que o público não arrede pé para conferir aonde toda essa história vai chegar.
 

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