A revista “Life” terá sua última edição impressa, e a capa do número especial de despedida seria o negativo da foto “quintessência” de um artista das câmaras, Sean O’Connell, cujo conteúdo todos desconhecem. Ocorre que, na sequência em mãos do responsável pelo setor de revelação, falta justamente o negativo 25, a tal quintessência.   Cobrado, Walter Mitty (Ben Stiller) – personagem que dá nome ao filme em questão, “A Vida Secreta de Walter Mitty”, agora lançado em DVD – entra em parafuso, principalmente porque, dentro do esquema de mudanças, a redação está sendo drasticamente reduzida.   Mitty move céus e terra para encontrar o negativo. Evidentemente, o que se verá a seguir pode, e deve, ser lido como metáfora. E é justamente por conta de se calçar mais no subtexto do que no que é crível que o filme não agradou a gregos e troianos – somando-se a isso o fato de a presença de Stiller levantar suspeitas junto ao contingente de espectadores que não acha a menor graça em algumas de suas comédias.   À nau de céticos, vale o esforço: o filme traz cenas sublimes, como a que Sean (Sean Penn, com seu rosto cada vez mais esquadrinhado pelo tempo) desiste de fotografar o tão aguardado leopardo das neves apenas para não perder o zênite de sua busca, a observação do arisco animal. Os diálogos não ficam atrás em primor, assim como a trilha sonora.   O aspecto fantasioso faz com que o personagem, nesta já aludida procura metafórica, enfrente desafios como embarcar num helicóptero guiado por um bêbado e dele saltar no mar gelado para, na sequência, enfrentar um tubarão. Não só. Mitty também foge das cinzas expelidas por um vulcão em erupção e usa um skate para driblar distâncias inenarráveis e encontrar o que poderia ser seu salvo-conduto para permanecer na empresa.   Evidentemente, avançar deste ponto estragaria o prazer do espectador, mas a cena final, tocante, certamente vai dar subsídios a muitas reflexões sobre o mundo atual.

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