Gramado – O cineasta Zelito Viana, um dos mais importantes nomes da produção cinematográfica brasileira, irmão do humorista Chico Anysio, resolveu fazer uma surpresa a seu pai, que não via há muito tempo. Retornou ao interior do Ceará sem avisá-lo e, ao entrar na casa, quem se assustou foi ele: naquele momento ficou sabendo que tinha nada menos do que mais sete irmãos.
“Sabia que ele estava com outra mulher, mas não que ele tinha tantos filhos. Foi um choque ver esse lado familiar dele, pois ele nunca foi um pai para mim”, confessa o diretor, que voltará aos sets – após uma década do lançamento de seu último filme, “Bela Noite para Voar” – justamente para contar, de forma romanceada, a história desse inusitado reencontro, ocorrido quando tinha cerca de 40 anos.
Hoje com 77 anos, Zelito subiu ao palco do Palácio dos Festivais, na noite do último dia 13, para receber o troféu Eduardo Abelin do 43º Festival de Cinema de Gramado, ao lado dos filhos, o ator Marcos Palmeira e a diretora Betse de Paula, além da esposa Vera de Paula e da neta Beatriz Morgana.
DNA artístico
Pouco antes, durante conversa com a imprensa, ele fez as contas, destacando que são 17 integrantes da família com veia artística, começando pela mãe pianista. “O lado cômico veio do meu pai, que adorava sacanear as pessoas. Eu estudei para ser engenheiro, mas como nossa casa era frequentada por gente como Sergio Porto, Antônio Maria e Haroldo Barbosa, colegas de Chico na rádio Mayrink Veiga, não teve jeito”.
Do irmão comediante ele guarda a imagem de um rapaz que, aos 16 anos, já realizava imitações perfeitas. “Gostava de se vestir, maquiar, mudar o cabelo... Foi assim que criou dezenas de personagens”, afirma Zelito, revelando que um dos sonhos de Chico era fazer um programa familiar, com o título “Entre Parentes”.
Para um filme tão pessoal como “Sedução”, título de seu próximo longa, ele não irá abrir mão da família. O filho Marcos, por exemplo, deverá dar vida ao ator de TV que volta à terra natal para rever o pai doente e encontra oito irmãos que desconhecia. “O Marquinhos fará mesmo que não queira”, avisa, divertido. No dia da visita real, Zelito conta que foi recebido pelo pai com a frase “Tenho um filho parecido com você”.
Depois de ouvir do filho um “Mas sou eu, pai”, ele emendou com uma pergunta: “O que você está fazendo aqui?”, relata Zelito, destacando que a segunda família também desconhecia a existência da outra. “Aparentemente somos 17 (irmãos), mas é difícil ter uma certeza sobre isso”, diz.
Sobre os assaltos que sofreu, alguns de forma violenta, avalia que teve uma certa culpa, por morar justamente na divisa entre duas comunidades de morro, além do muro ser baixo. “Hoje ele é enorme, com serpentina. Fizemos uma fortaleza de segurança máxima. Mas o trauma foi tão grande que a família preferiu se mudar para um apartamento em Ipanema, perto da praia. Isso se os bandidos não entrarem no prédio também”, salienta.