Percorrer longos trajetos sem movimentar o corpo traz risco de 'trombose do viajante', alerta médico
Fazer paradas em percursos de carro e ônibus e mexer as pernas são atitudes simples que ajudam a afastar o perigo, diz cirurgião vascular
O recesso de fim de ano e janeiro são épocas propícias a viagens, mas muita gente ignora o risco de passar horas no avião, carro ou ônibus sem se movimentar.
Garantir um passeio tranquilo e prazeroso requer alguns cuidados com a saúde, devido a uma condição vascular com maior probabilidade de ocorrer justamente em função de longos intervalos na mesma posição: a trombose venosa profunda, também conhecida como “trombose do viajante”.
A trombose é um coágulo de sangue, que se forma principalmente nos membros inferiores, pois nas pernas a circulação é mais lenta que o normal – já que o líquido precisa irrigar toda a região e fazer o percurso contrário para retornar ao coração, vencendo ainda a força da gravidade.
Nesta entrevista, o cirurgião vascular e endovascular Josualdo Euzébio Silva, membro titular da Sociedade Brasileira de Angiologia e Cirurgia Vascular e especialista em cirurgias de alta complexidade, explica como evitar este e outros problemas vasculares. Formado pela UFMG e com 32 anos de profissão, o médico aborda ainda o AVC e os principais avanços da medicina na área no mundo. Confira.
A virada do ano e as férias de janeiro costumam ser épocas marcadas por viagens, algumas com deslocamentos de grande duração. Que riscos estão associados a ficar parado por longos intervalos?
As viagens longas, até por imobilização, aumentam muito o risco de trombose, então é importante que você tome alguns cuidados nas viagens. Por exemplo, usar meia de compressão quando indicado pelo seu médico, tentar caminhar em viagens de avião, movimentar, levantar e andar um pouco. Em viagens de carro e ônibus, tentar parar a cada duas horas. A permanência por longos períodos parado aumenta muito o risco de trombose. Daí a importância de se movimentar, que seja andar ou fazer qualquer movimento com a perna, já vai ajudar muito.
Em geral, associamos casos de trombose a viagens de avião. O perigo existe também nos deslocamentos de carro e ônibus? Como evitar problemas?
Geralmente, estão muito associados a trombose voos, voos mais longos, mas não é apenas durante voos. Também em viagens, mesmo de carro ou de ônibus, por longos períodos. E a imobilização, ou seja, ficar parado, sem movimentar, também aumenta o risco de trombose.
Que outros fatores podem aumentar as chances de trombose? O gênero masculino ou feminino interfere?
Existem vários fatores da trombose. No caso das mulheres, há uma incidência maior por alguns motivos. A gravidez aumenta o risco. E o uso de anticoncepcional oral também, e até o hormônio e a reposição hormonal. Então há uma tendência nas mulheres, sim.
Vivemos uma época de culto exagerado ao corpo, às vezes com condutas que fazem mal ao organismo – caso dos anabolizantes. Que riscos o uso dessas substâncias traz?
O uso dos medicamentos anabolizantes também aumenta o risco de trombose. A própria atividade física, quando está de uma maneira muito rigorosa, sem controle e sem uma hidratação adequada, também pode aumentar.
Vamos falar agora do acidente vascular cerebral (AVC). O que causa o AVC? Dá para prever?
Em relação ao acidente vascular cerebral existem vários fatores, como hipertensão, colesterol alto, uso do cigarro... todos fatores que aumentam muito o risco do AVC. O próprio estresse leva ao aumento de pressão. E a prevenção são os fatores gerais para a saúde: não fumar, exercer atividade física, controlar colesterol, triglicérides, controlar peso, tudo isso vai ajudar muito. E não esquecer de manter o controle da pressão adequada.
É possível se recuperar de um AVC sem ficar com sequelas?
Vai depender muito da área acometida. Dependendo do que foi acometido, as sequelas serão maiores. Lógico, quanto mais rápido for o procedimento, for o tratamento, menores vão ser as sequelas e maiores as chances de sucesso na recuperação.
Como identificar que uma pessoa está sofrendo um AVC?
A pessoa tem alguma perda de movimento, alguma confusão mental, e é importante realmente, ao perceber qualquer alteração, procurar o médico e o hospital da maneira mais rápida.
Este ano, o senhor participou de vários congressos, inclusive internacionais. Quais avanços da medicina, na sua área, o senhor destacaria? E quais os principais desafios, no mundo todo, para preservar a saúde vascular da população?
Em relação aos eventos internacionais deste ano, eles mostraram vários avanços em termos de materiais tecnológicos, de aneurisma, aneurismas de aorta, para salvamento de membros em caso de pré diabético. Hoje nós temos stents dedicados, endopróteses, que são stents mais modernos, com excelentes resultados, e cada vez mais pensando na melhora do paciente.
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