ALVO DE CASSAÇÃO

Potencial candidato à PBH, Gabriel conta votos na Câmara, fala de arrependimentos e planos políticos

Ao seu estilo “bateu, levou”, vereador nunca esteve sob tantos holofotes

Iracema Barreto e Renato Fonseca
portal@hojeemdia.com.br
Publicado em 04/12/2023 às 07:00.

Alvo de um processo de cassação por suposta quebra de decoro parlamentar – que pode ter mais um dos muitos capítulos nesta segunda-feira (4), quando o grupo rival na Câmara de BH deve tentar novamente colocar o tema em votação – o vereador Gabriel Azevedo (sem partido) nunca esteve sob tantos holofotes. Ao seu estilo “bateu, levou”, envolveu-se em embates políticos, encara o risco da perda do mandato, apesar de reafirmar confiança na manutenção de seus direitos, e tem trocado farpas com o prefeito Fuad Noman (PSD).

Faz questão de negar – até porque a legislação eleitoral não permite, no momento –, mas é um dos postulantes à Prefeitura de Belo Horizonte (PBH) em 2024. Mesmo sem confirmar o nome na disputa, já fala em tom de campanha, com duras críticas à atual gestão, e debatendo problemas da cidade. 

Aos 37 anos, Gabriel Azevedo começou trajetória política ainda na juventude, quando filiou-se ao PSDB, em 2005. Já foi assessor do então presidente do Atlético, Alexandre Kalil, presidente da Juventude do partido tucano, subsecretário durante o governo de Antônio Anastasia e coordenador da campanha do ex-cartola do Galo no mesmo ano em que foi eleito para o primeiro mandato, em 2017.

No ano passado, assumiu a presidência da Câmara Municipal. “Não há votos para me cassar”, garantiu, durante visita ao Hoje em Dia, na última semana.

Como está o processo de cassação contra o senhor?
Não há votos para me cassar. Hoje, temos 14 (parlamentares) contrários à cassação. Algumas surpresas podem aparecer, mas não serei cassado. Vou exercer meu mandato até 31 de dezembro de 2024. Tenho muitos defeitos, mas não sou corrupto. Sou correto, não sou corrupto! Estou tratando a Câmara de uma maneira moralmente elevada, não faço balcão de negócios.

Qual o impacto do processo de cassação na tramitação dos projetos na Câmara Municipal?
Nada, zero. Não atrapalhou. Nós tínhamos no início do ano 700 Projetos de Lei (PL) para serem analisados, agora estamos com 70. 

Mas recentemente o prefeito Fuad reclamou de uma suposta demora da Câmara Municipal para avançar com projetos de interesse do Executivo...
O que aconteceu, antes do processo de cassação, foi uma quebra de confiança com o prefeito após as promessas ao nosso time (de vereadores).

A relação entre vocês está publicamente desgastada. Ainda se falam?
Não. Já fiz todos os gestos para ele conversar. Ele não quer. Eu vou continuar tocando a Câmara, no ritmo que acharmos adequado.

Mas isso não é ruim para Belo Horizonte?
Não, porque os projetos que são bons para a cidade estão sendo aprovados. Não quer dizer que só porque o prefeito pediu celeridade para algum projeto aquele projeto é bom para a cidade. Ele não tem razão sobre todas as coisas. Para isso existe o Poder Legislativo. Foram pautados 26 projetos do Poder Executivo neste ano, o dobro dos anos anteriores. Vinte e quatro foram aprovados. Me parece um parlamento disposto a colaborar com o Executivo.

Mas além do prefeito, quando começou o processo de cassação vieram à tona queixas sobre sua postura, sua forma de gerenciar a Câmara, de lidar com os colegas. O senhor se envolveu em polêmicas com outros vereadores e políticos da cidade. Foi acusado de violência política, fez afirmações pesadas, como os casos do ‘lambe-botas’, ‘resto de ontem’...
Eu me arrependo de ter usado alguns termos e já pedi desculpas. Mas foram coisas pontuais. Esse não foi o meu comportamento como presidente. Foram episódios pontuais. E isso tem sido usado como desculpa para o pedido de cassação. O objetivo nunca foi me cassar de cara. Era fazer pressão para que eu saísse da presidência. Meus advogados foram muito bons de serviço e conseguiram ganhar todas na Justiça. E nosso time (vereadores aliados) ficou ainda mais forte e unido.

Quando viram que não seria possível me retirar da presidência, avançaram no processo de cassação e aí há uma reação de outros vereadores. Desde que tudo começou adotei uma postura de extremo diálogo.

 O senhor tem uma postura de bateu, levou. Isso ajuda?
Na medida certa, é muito bom.

Mas então o senhor gosta de ser assim?
Eu prefiro que não batam, mas batendo, vão levar.

Falta cerca de um ano para as eleições municipais. O senhor será pré-candidato à Prefeitura de Belo Horizonte?
Estou muito preocupado em cuidar da presidência da Câmara Municipal, função que vou exercer até 31 de dezembro de 2024.

Mesmo evitando se comprometer com essa pré-candidatura, como avalia a corrida eleitoral pela PBH? Algumas pesquisas já começaram a ser divulgadas, inclusive com o nome do senhor...
Analiso as pesquisas mostrando um cenário completamente aberto, com um prefeito que ainda é desconhecido por parte da população, que não tem marca, que não tem discurso, que não tem soluções para os grandes problemas da cidade, com uma polarização que vai se arrefecendo cada vez mais e com uma cidade que quer soluções para os problemas.

Um dos grandes cabos eleitorais da campanha seria o ex-prefeito Alexandre Kalil. Mas ele já falou publicamente que não vai apoiar ninguém. O senhor foi de aliado a desafeto dele. Qual a relação de vocês atualmente?
Encontrei com ele recentemente em um restaurante, nos cumprimentamos. Eu compreendo a popularidade do ex-prefeito na cidade. E acho que é muito complicado para o atual prefeito ouvir que não haverá um apoio. 

Além do Kalil, o governador Romeu Zema é outro potencial cabo eleitoral na capital. Como avalia a possível presença dele para apoiar algum candidato?
Acho que são força similares. Existem hoje quatro personagens muito relevantes para as eleições em Belo Horizonte: Lula e Bolsonaro, Kalil e Zema. De certa maneira, antagonistas. Mas repito, sinto que a polarização vai arrefecendo. E eleição municipal é geralmente o momento em que os problemas locais são tratados. E sinto que isso sempre aconteceu aqui em BH. Vamos relembrar 2016, quando Kalil foi eleito e eu participei desta campanha. Não era só a antipolítica, era busca pela terceira via. Na época existia um representante do PT e um do PSDB, que eram as forças que antagonizavam naquele momento. Mas o Alexandre Kalil foi para o segundo turno e venceu. Da mesma maneira, a eleição anterior foi surpresa, no sentido de que forças antagônicas se uniram para apoiar o Marcio Lacerda.

Ou seja, de certa maneira Belo Horizonte é uma cidade que converge para o centro. Tem as suas militâncias, mas gosta de posições mais moderadas. Sinto que esses quatro padrinhos têm o seu papel, mas como já vimos em outras eleições, o cenário segue completamente aberto.

O senhor vai terminar o ano sem partido?
Pode ser que não. Já há “namoro” bem intenso.

Mas como estão as procuras?
Hoje estou numa frente pensando em chapas de vereador. Estou costurando com Republicanos, Progressista, PSB, PRTB e com mais um que me pediu sigilo.

Recentemente, numa tentativa de demonstração de força política, o senhor recebeu a visita do senador Rodrigo Pacheco, em meio ao processo de cassação. Ele ganhou os holofotes em meio à PEC que limita os poderes do STF. Como vê tudo isso?
Eu concordo com a decisão do presidente do Senado sobre as decisões monocráticas. Falo isso como advogado, professor de direito constitucional e como democrata. Os poderes precisam ter uma convivência harmônica independente. E falo como alguém que apoiou a postura da ministra Rosa Weber, que atuou para evitar as decisões monocráticas. Jamais vou atacar a instituição do Supremo Tribunal Federal (STF). Ele é fundamental para a nossa democracia. Sinto que isso tudo vai prosseguir com um diálogo entre os poderes. Sobre Minas Gerais acho perfeitamente natural que um senador, que é presidente do Senado, se coloque à disposição do nosso estado para uma situação extremamente complexa que é a dívida, que vem aumentando nos últimos anos.

Então toda vez que a bancada federal, os três senadores e os 53 deputados federais se unirem para ajudar Minas vou celebrar. Vivo cobrando isso para Belo Horizonte. Se tivermos uma bancada unida vai ter metrô, investimento, recurso.

O senhor esteve diretamente envolvido nas mudanças no transporte público de BH. O subsídio foi aprovado. Mas o serviço melhorou? A população segue reclamando...
Tivemos ações muito importantes na Câmara neste ano. A primeira foi mudar o sistema do transporte. Antes era por passageiro e agora é por quilometragem. Então, a lógica de empilhar pessoas para lucrar deu espaço a mais linhas na cidade. Ainda nesse acordo, a compra de 420 novos veículos, e isso só aconteceu porque a Câmara bateu o pé. Não era parte da lei original. Também aprovamos a lei das faixas exclusivas. E a terceira, muito importante, é o fim do dinheiro dentro do ônibus para criar uma passagem inteligente. Agora a busca é pela integração metropolitana. Temos 18 cartões (de ônibus) na Grande BH. Isso é um absurdo porque não cria inteligência de mobilidade.

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