Entrevista

'Temos potencial para continuarmos crescendo e ampliando nossa atuação', diz gerente do CCBB BH

Gislane Tanaka fala sobre o que o público pode esperar para 2024

Renato Fonseca
rfonseca@hojeemdia.com.br
20/05/2024 às 07:00.
Atualizado em 20/05/2024 às 17:06

Atrair ainda mais visitantes em 2024 é a meta do Centro Cultural Banco do Brasil Belo Horizonte (CCBB BH), que ficou na primeira posição do ranking dos museus mais visitados da América Latina em 2023. O sucesso do espaço cultural que funciona na Praça da Liberdade, região Centro-Sul da capital, passa por diversos fatores, como manter uma programação constante, diversificada e inovadora. A avaliação é da relações públicas Gislane Tanaka, gerente-geral do complexo, que já se tornou ponto de encontro e de lazer para os moradores da metrópole e turistas.

Aos 46 anos – sendo 10 deles dedicados ao museu –, ela atua na área de comunicação do BB desde 2008. Além da expectativa em atrair mais público este ano, ela falou as escolhas da programação, perfil dos visitantes, parceria com o Circuito Cultural da Praça da Liberdade e uso do edifício histórico construído na década de 1920. “Para 2024 o CCBB preparou diversas atrações inéditas em BH”, afirma Gislane, que é membro do Conselho Curador da Fundação Municipal de Cultura.

O CCBB acaba de conquistar a primeira posição do ranking dos museus mais visitados da América Latina. O que foi feito para alcançar essa marca?
O sucesso de público passa por diversos fatores, como o compromisso com uma programação constante, diversificada e inovadora, preços acessíveis, além do empenho da nossa equipe em proporcionar uma boa experiência para os visitantes aqui no CCBB. Nossas exposições são inteiramente gratuitas, assim como as atividades de mediação cultural realizadas diariamente pelo CCBB Educativo, que acolhem e aproximam visitantes, escolas públicas e particulares, ONGs, além de realizar ações de formação para professores e público em geral. Os espetáculos teatrais, de música, de dança e mostras de cinema têm o valor máximo de R$ 30 (inteira) e R$ 15 (meia-entrada). Fatores como estes popularizam o espaço, e permitem que todas as pessoas tenham a oportunidade de usufruir das atividades que acontecem por aqui, ampliando a conexão do público com a arte e a cultura.

Gislane Tanaka está há 10 anos no museu; ela atua na área de comunicação do BB desde 2008 (Frederico Vianna/Divulgação)

Quais as expectativas para 2024? Bater o número de 1,4 milhão de visitantes de 2023?
A expectativa é sempre de atrair cada vez mais visitantes ao CCBB BH. Tendo em vista que passamos recentemente por uma pandemia, chegar a quase 1,5 milhão de visitantes em 2023 mostra que as pessoas estão retomando o hábito de frequentar os espaços culturais. Portanto, acredito que temos muito potencial para continuarmos crescendo e ampliando nossa atuação.

Mesmo com tantos visitantes ao longo dos últimos anos, a senhora considera que o belo-horizontino conhece esse espaço?
Desde a nossa inauguração, no ano de 2013, o CCBB BH vem se tornando uma referência cultural na cidade por meio de um trabalho contínuo e de qualidade. O CCBB BH já se tornou um ponto de encontro e de lazer para os belo-horizontinos e turistas, que sempre ficam à espera de novidades culturais na nossa programação. Destaco a importância do trabalho de formação de público do Programa CCBB Educativo, juntamente com escolas públicas, privadas, organizações não-governamentais e visitantes espontâneos, que em 2023 atendeu 65.782 pessoas. Ainda assim, estamos cientes que podemos ampliar o nosso público e trabalhamos para isso, atentos à pluralidade da nossa programação.

Existe um perfil majoritário do visitante?
Nosso público é bastante heterogêneo, já que a programação é diversificada. Em relação à faixa etária, 50% das pessoas que emitiram ingressos entre janeiro de 2023 e fevereiro de 2024 têm entre 21 e 40 anos.

O que o público pode esperar para 2024?
Para 2024 o CCBB preparou diversas atrações inéditas em BH. Já neste mês temos estreia da exposição “Encruzilhadas da Arte Afro-Brasileira”, em cartaz de 25/05 a 05/08, no pátio e nas galerias do 3º andar, que reúne obras produzidas por 61 artistas negros, de diferentes regiões, nos últimos dois séculos no Brasil. A mostra é um desdobramento do Projeto Afro, em desenvolvimento desde 2016 e lançado em 2020.

No teatro também temos “Let´s Play That ou Vamos Brincar Daquilo”, de 24/05 a 24/06, montagem que celebra a vida e a obra do poeta Torquato Neto, com teatro, poesia, literatura e música, com atuação e direção de Tuca Andrada.

Para as crianças, temos uma estreia muito especial no mês de julho, a peça “Makeda – A Rainha da Arábia Feliz”, com temporada entre 05 e 29, no Teatro I. O espetáculo conta e canta a história de uma princesa africana, educada por seu trisavô para se tornar uma grande rainha.

Dentre as exposições que virão para o CCBB BH no segundo semestre, temos “Hiromi Nagakura até a Amazônia com Ailton Krenak”, que apresenta 160 fotografias inéditas no Brasil do premiado fotógrafo japonês Hiromi Nagakura, realizadas em viagens com Krenak, principalmente pelo território amazônico, entre 1993 e 1998 e “Luz Æterna - Ensaio sobre o Sol”, que é fruto de uma pesquisa que une arte e tecnologia, convidando o visitante a mergulhar em reflexões poéticas sobre o sol, ao mesmo tempo em que descobre suas dimensões plásticas e míticas. No teatro, destaco também o espetáculo “Os Bruzundangas!”, primeira adaptação do texto homônimo de Lima Barreto, transformado em uma comédia satírica musical, encenada por atores que cantam, dançam e interpretam suas aventuras no país da Bruzundanga.

Durante a trajetória profissional no CCBB, qual projeto de grande destaque você citaria como o mais importante?
Podemos citar a exposição “Dreamworks Animation – Uma Jornada do Esboço à Tela”, que cumpriu temporada no CCBB BH entre 15 de maio e 29 de julho de 2019, e detém nosso recorde de público em uma única exposição, recebendo 605.674 visitantes. Trazendo personagens icônicos criados pelo universo da DreamWorks, como dos filmes “Shrek”, “Madagascar” e “Como Treinar o seu Dragão”, a mostra contribuiu para que o CCBB BH ultrapassasse pela primeira vez a marca de um milhão de visitantes, registrando público de 1.519.033 visitantes no ano de 2019.

Exposições voltadas também para as crianças, como “Os gêmeos”, em 2023, costumam ser sucesso de público. Há alguma no radar do CCBB-BH para este ano?
A maior parte das exposições do CCBB BH tem classificação indicativa livre, apresentando oportunidades para que as crianças possam aprender sobre arte e interagir com diferentes formas de expressão. As exposições “OSGEMEOS: Nossos Segredos”, “Studio Drift - Vida em Coisas” e “Tesouros Ancestrais do Peru”, por exemplo, foram destinadas a todos os públicos e agradaram muito as crianças. Destaco a atuação do Programa CCBB Educativo que oferece diversas atividades de mediação cultural para o público infantil, propondo ações que conectem as crianças às exposições em cartaz de maneira lúdica e divertida.

Esse tipo de mostra faz parte de alguma estratégia para formação de um novo público? Ou a escolha do que vai entrar em cartaz considera apenas o conteúdo como critério?
O CCBB BH busca trazer atrações diversificadas e que possam ser apreciadas por todos os tipos de público, por meio da seleção de projetos do Edital de Patrocínio do CCBB. Para a escolha da nossa programação, priorizamos projetos que contemplem a pluralidade do nosso público, a multiplicidade de saberes e linguagens, que promovam diálogos relevantes entre artistas e sociedade, que reafirmem nossas origens e ancestralidade, que sejam inovadores, originais, tudo isso de acordo com o eixo curatorial divulgado no nosso edital 2023 - 2025.

Pela sua experiência, dá para arriscar que tipo de exposição é certeza de casa cheia no CCBB-BH?
O CCBB BH recebe exposições com diferentes recortes criativos ao longo do ano e muitas delas acabam sendo sucesso por motivos diversos. Nossa exposição de maior público “Dreamworks Animation – Uma Jornada do Esboço à Tela”, por exemplo, atraiu muitos visitantes devido ao fator da nostalgia, do conforto de poder apreciar de perto objetos que revivem narrativas que foram parte da infância de muitas pessoas.

Já “Studio Drift – Vida em Coisas”, que recebeu mais de 250 mil visitantes no ano passado e contribuiu para o CCBB BH ter registrado o maior público entre museus da América Latina em 2023, foi sucesso devido à inovação trazida pelo coletivo DRIFT, com obras únicas que uniam natureza, tecnologia e humanidade de maneira muito encantadora.

Diante deste contexto de um público tão diverso, como é o do CCBB BH, é difícil prever o que será sucesso em termos de quantidade de público.

Como é a interação entre o CCBB e o Circuito Cultural Praça da Liberdade? Existe uma sintonia?
Sim, existe essa sintonia, uma vez que o CCBB BH faz parte do Circuito Liberdade, complexo cultural sob gestão da Secretaria de Estado de Cultura e Turismo (Secult), que reúne diversos espaços com as mais variadas formas de manifestação de arte e cultura em transversalidade com o turismo. Portanto, há um trabalho feito em rede entre o CCBB e os demais equipamentos parceiros ao Circuito, promovendo atividades que buscam desenvolvimento humano, cultural, turístico, social e econômico, com foco na economia criativa como mecanismo de geração de emprego e renda, além da democratização e ampliação do acesso da população às atividades propostas.

O prédio do CCBB tem seis andares. Todos os espaços estão ocupados? Previsão de novos espaços culturais?
Três andares do CCBB BH abrigam teatros, áreas expositivas, salas do CCBB Educativo e da administração, dentre outros. O pátio também é ocupado por uma cafeteria e um restaurante, além de receber obras expositivas. As áreas laterais abertas, como a do jardim, são utilizadas para eventos associados à nossa programação, como por exemplo, a Feira Latino-americana realizada entre os dias 19/04 e 05/05, que foi uma extensão da exposição Tesouros Ancestrais do Peru. A ocupação dos demais andares é algo desejado desde a criação do CCBB BH, entretanto essa ampliação é bastante desafiadora e complexa para ser realizada, já que exige uma grande obra de reforma, restauro e adaptação do espaço. Portanto, não temos previsão de quando esse projeto poderia sair do papel.

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