Michelle Moura, pneumologista

‘Todo dia recebo paciente com dúvida se deve tomar as vacinas contra gripe ou Covid’, alerta médica

Renato Fonseca
rfonseca@hojeemdia.com.br
01/05/2023 às 12:10.
Atualizado em 01/05/2023 às 12:25

Médica Michelle Andreata Souza Moura é especializada em pneumologia pela Santa Casa BH (Fernando Michel)

Os mais recentes boletins InfoGripe, da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), mostram tendência de aumento das doenças provocadas por vírus respiratórios. Em Belo Horizonte, por exemplo, foi preciso ampliar os atendimentos nos centros de saúde – que passaram a abrir as portas aos fins de semana – e retomar com as teleconsultas justamente para ampliar o socorro a esses pacientes. O cenário preocupa e reforça a urgência por medidas de proteção, principalmente a vacinação. Quem está fora do público-alvo da imunização contra a Influenza, mas tem condição de pagar pela dose na rede privada não deve pensar duas vezes, avalia a médica Michelle Andreata Souza Moura, especializada em pneumologia pela Santa Casa BH. A profissional, que também é professora universitária e atua na Clínica Saúde do Lar, na capital, alerta que os casos de gripe e Covid devem crescer ainda mais com a chegada do inverno. Michelle dá dicas simples para reforçar a proteção dentro de casa e orienta quando se deve buscar socorro médico.

Faltam dois meses para a chegada do inverno, mas os casos de doenças respiratórias já aumentaram nas cidades. A situação vai se agravar ainda mais com a nova estação?
Com certeza. No inverno as doenças respiratórias tendem a se agravar porque existem inúmeros fatores que contribuem para a disseminação, principalmente das viroses respiratórias, como a aglomeração de pessoas em locais fechados e a má ventilação dos ambientes.

Muito se fala sobre gripe e Covid nessa época do ano. Mas quais outras doenças, às vezes esquecidas, também preocupam?
Existem outras que também contribuem para encher os hospitais e as UPAs (Unidades de Pronto Atendimento), como pneumonias e asmas. Nessa estação, muita gente descuida da hidratação e isso acaba fazendo com que, principalmente os grupos etários extremos sofram com a desidratação. Por isso, tanto crianças quanto idosos podem ser acometidos por episódios de febre ou de prostração.

Por que crianças e idosos são os mais acometidos pelas doenças respiratórias?
São mais suscetíveis porque, no caso das crianças, possuem um sistema imunológico que ainda não está maduro o suficiente para responder a todos os patógenos, alérgenos, vírus ou bactérias. No caso dos idosos, temos a senescência, que é o envelhecimento desse mesmo sistema. Com isso, fica menos eficiente. É isso que os coloca em risco para agravos como a pneumonia, meningite, entre outros. 

Quando a pessoa deve procurar socorro médico?
É muito importante buscar ajuda quando o paciente está com febre com duração de mais de três dias, quando ocorre a diminuição da quantidade de urina, característica dos quadros de desidratação grave, fadiga extrema, dor no peito ou nas costas, chiado no peito, confusão mental e tosse persistente.

Os tratamentos precisam ser contínuos ou apenas quando há esses sintomas?
A adesão à medicação, principalmente inalatória, é muito baixa na população. É sempre importante lembrar que o paciente não deve abandonar os tratamentos de contínuos. Um bom exemplo são as bombinhas. Muita gente acredita que, por estar bem, pode parar de usá-las, sendo que, só teve uma melhora no quadro da doença devido ao uso contínuo. Se abrem mão do uso da medicação, acabam piorando o quadro. Além delas, não podemos deixar de salientar a importância do uso correto das outras medicações, sejam elas para asma, hipertensão, diabetes ou qualquer comorbidade, com o intuito de evitar agravos.

No seu consultório, no dia a dia, a senhora ainda recebe pessoas com dúvidas sobre a vacinação? Pessoas com receio de receber as doses contra gripe ou Covid?
Todos os dias recebo várias pessoas com dúvidas se devem ou não tomar as vacinas. Acredito que, infelizmente, foi implantada uma cultura sem fundamento na qual indivíduos passaram a não querem mais se vacinar. O Brasil sempre foi referência em vacinação e devemos confiar nas vacinas, pois elas ajudam a evitar agravos e número exagerado de pessoas que precisam usar o sistema de saúde.

Como enfrentar esse medo da população?
Continuo confiando nas vacinas e as recomendo para todos os meus pacientes. São raríssimos os casos em que elas são contraindicadas. Inclusive, por conta da falta dessas vacinas nós tivemos tantos lockdowns e tantas perdas nos últimos anos. 

Quem não faz parte dos grupos de risco, com prioridade na vacinação gratuita pelo SUS, mas tem condição de pagar pela vacina na rede particular, precisa se imunizar?
A mensagem é clara! Todas aquelas pessoas que puderem se vacinar, que puderem pagar pela vacina da gripe, devem. A vacina é colocada como prioridade para o público-alvo: idosos, crianças e profissionais de saúde, mas se houver a oportunidade e condições financeiras de arcar com a imunização, é importante tomá-la.

O que fazer para se prevenir, além da vacinação? Quais dicas a senhora dá à população?
Evitar a exposição solar no período entre 10h e 15h e evitar a prática de atividades físicas também nesse horário, por ser o momento de maior incidência de luz solar e de menor umidade do ar, prejudicando as vias aéreas. É importante investir em uma alimentação leve, equilibrada e uma boa ingestão de água, já que nesta época do ano as pessoas esquecem da hidratação. Também devemos manter a umidade da casa com atitudes simples como a de colocar bacias de água que devem ser trocadas pelo menos duas vezes ao dia ou, então, de incluir nesses ambientes toalhas úmidas. Além disso, evitar o ar-condicionado ou ventiladores ligados durante muito tempo sem a umidificação.

Em meio ao aumento das doenças respiratórias, o Brasil ainda enfrenta a “modinha” dos cigarros eletrônicos. Os chamados “vapes” ou narguilés. Preocupa?
Muito porque a carga de nicotina contida neles, de acordo com vários estudos já realizados, é muito maior do que no cigarro convencional. Além disso, as pessoas ficam expostas a substâncias que são carcinogênicas. Ou seja, que podem causar câncer.

Tem surgido, no consultório, casos de problemas respiratórios desses jovens que usam o cigarro eletrônico?
Os problemas mais enfrentados no consultório com o uso desses dispositivos são os de jovens insistindo em utilizá-los como método para parar de fumar e, com isso, acontece exatamente o contrário, acabam ficando mais viciados e não conseguem largar o vício do cigarro.

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