Marcelo de Souza e Silva

Vendas de fim de ano devem injetar até R$ 6 bilhões na economia de BH, aponta presidente da CDL-BH

Faturamento maior do comércio é previsto pelo presidente da entidade

Pedro Melo
pmelo@hojeemdia.com.br
23/09/2024 às 07:30.
Atualizado em 23/09/2024 às 09:27

As festas de fim de ano, principalmente o Natal, prometem turbinar a economia de Belo Horizonte em dezembro. A expectativa é de aumento do faturamento do comércio em relação a 2023, com até R$ 6 bilhões injetados na economia da capital. O valor é três vezes maior se comparado à media dos outros meses, de R$ 2 bilhões.

A previsão otimista para o setor foi dada pelo presidente da Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL-BH), Marcelo de Souza e Silva, que avalia o atual momento econômico como positivo. Segundo ele, o setor começa a voltar aos patamares pré-pandemia.

Marcelo de Souza também falou sobre os impactos do aumento da inflação, estabelecimentos que ainda enfrentam desafios por conta da pandemia, problemas enfrentados pelos lojistas, sobretudo no Centro da capital e as demandas do setor para o próximo prefeito, que será eleito em outubro.

(Maurício Vieira)

 Já estamos no meio do segundo semestre de 2024. Como a CDL avalia as vendas do comércio neste ano? Serão melhores que em 2023?

Com certeza. A gente já está vendo isso acontecer desde o começo do ano. Esse ano está sendo diferenciado. A gente está tendo desde o início do ano o aumento da renda das famílias. A gente está vendo a empregabilidade aumentando. São fatores muito positivos. Mas uma coisa que pesa ainda são os juros altos. Os juros estão altos e isso impacta muito no crédito, na concessão de crédito para as pessoas irem às compras e atenderem as próprias demandas. Mas o que a gente está vendo é que está tendo um crescimento bom. A gente acha que vai chegar a 2%, 2,5% de crescimento em relação ao ano passado, que é um número muito bom.

A que o senhor atribui esse crescimento?
Minas Gerais está sendo um Estado que está tendo muita movimentação econômica. Então, está tendo essa percepção dos comerciantes, dos empresários, dos empreendedores para que ele tenha essa busca cada vez mais de uma oferta de qualidade. Produtos de qualidade com preços acessíveis, buscando forma de pagamento diferenciada, mantendo essa fidelização do cliente, esse relacionamento. A gente está vendo esse ambiente favorável de movimentação econômica. A gente percebe que isso não está acontecendo em todo o Brasil, mas aqui no Sudeste e principalmente em Minas.

Quais são as datas que mais contribuem para o comércio?
Sem sombra de dúvida, o Natal é a melhor data de vendas. Você tem a Black Friday também, que chegou e está tendo uma adequação. O Dia das Mães é muito marcante ainda. Temos também o Carnaval que mexeu muito com Belo Horizonte. A gente tem o Dia Livre de Impostos, que a CDL promove no primeiro semestre. Tem os dis dos Namorados, dos Pais, das Crianças, dos Professores, tem várias datas. Também estamos motivando muito essa ideia do Dia dos Avós, principalmente depois da pandemia. São datas que você busca esse presente consciente, esse gasto consciente para que os consumidores possam estar fazendo suas compras.

Belo Horizonte é uma cidade que você tem 70% do PIB de comércio e serviços, 85% dos empregos são nesses setores. Então, qualquer movimento que a gente traga para a cidade é diferenciado, além das datas comemorativas

E como estão os preparativos para a Black Friday?
A adaptação que nós fizemos da Black Friday aqui no Brasil, no princípio, na minha opinião, não foi boa. Todo mundo se empolgou demais e colocou produtos que não são de Black Friday, tentando atrair o consumidor, mas impactou o Natal. A Black Friday, na nossa visão, tem uma demanda diferenciada do Natal. Você não pode colocar produtos que vão vender bem no Natal, principalmente produtos pessoais. Você queima aqueles produtos, vende na Black Friday e não vende no Natal. É um problema sério. Nós já fizemos várias capacitações para o lojista para entender isso. Ele tem que achar dentro da clientela o tipo de produto que ele consegue colocar, que vai atrair o cliente, que já é fidelizado ou novos, que podem ser atraídos com essas promoções. Por exemplo, quando você tem nos Estados Unidos a Black Friday, ninguém coloca em promoção produtos que foram lançados recentemente. Eles colocam produtos que já estão saindo de linha.

Estamos nos aproximando do Natal, do Ano Novo. Como estão as expectativas de vendas?
É de crescimento. A gente percebe que os comerciantes estão se preparando desde o meio do ano, com mercadorias, produtos diferenciados. A gente teve também nos últimos três meses diminuição do endividamento. É outro fator importante. As pessoas estão conseguindo com essa renda melhor negociar, se tornam aptas de novo ao consumo. E a gente sempre reforça isso, tem que ter o consumo consciente, as pessoas tem que olhar, pesquisar preço, dar preferência ao pagamento à vista. Para o fim do ano a expectativa é excelente, a gente quer que o comércio Belo Horizonte cresça bastante, pague muito imposto, até porque o poder público precisa receber desses impostos”.

Dá para colocar em números essa expectativa de crescimento?
É muito difícil falar em números, quando você fala em 2,5% de aumento são bilhões que são envolvidos. Levando em consideração os outros meses do ano, é um valor totalmente diferenciado e que movimenta muito a economia. Normalmente, no mês de venda normal em Belo Horizonte, você tem cerca de R$ 2 bilhões de vendas. Então, a expectativa é que no fim do ano você tenha, em dezembro, esse valor aumentando para R$ 5, R$ 6 bilhões de movimentação de faturamento.

Ainda há impactos no comércio por conta da pandemia da Covid-19?
Estamos tendo algumas oscilações, mas esse ano a gente volta a patamares que eram antes da pandemia. E o crescimento continua. Até porque esse ano os empreendedores começam a sair de dívidas adquiridas durante a pandemia para sustentarem o negócio. A partir de 2022, 2023, os empreendedores começam a ficar livres de empréstimos que fizeram, modificações que tiveram que fazer, formatos diferenciados na empresa para que atendessem as demandas conforme a necessidade dos clientes. E ele começa a entender que a mídia digital é importante para o seu negócio.

Sobre a Stock Car, como a CDL avalia o evento? O saldo foi positivo para o comércio? É um evento para ficar definitivamente o calendário de BH?
Sim, o evento é positivo. A CDL recebeu muito bem. Participamos das tratativas. O diálogo não pode parar. A gente tem que entender os pontos de incômodo para que a gente ajude a conversar, ajude a tratar essas questões, mas o saldo é bem positivo. É um evento diferenciado, um evento de qualidade que levou muitas pessoas não só de Belo Horizonte, da região metropolitana e do Brasil a participar. Pessoas que vieram conhecer Belo Horizonte, ajudando na divulgação de BH para o mundo. A rede hoteleira ficou com ocupação de quase 90%. A gente precisa estar mostrando a cidade, mostrar outros pontos, o nosso Mercado Central, o Circuito Cultural da Praça Liberdade, o Parque do Palácio, a própria Pampulha.

O Boletim Focus informou que a inflação possivelmente será maior em 2025. Essa é uma situação que preocupa a CDL? Como driblar essa questão dos juros?
Uma coisa importante, que a gente acompanha, é a gestão pública eficiente. Isso vale para o município, para o Estado e para o Governo Federal. Gestão pública eficiente e segurança jurídica atraem investimentos. E o que a gente está vendo é o aumento da renda das famílias. Com certeza nós vamos ter um aumento de consumo. Esse aumento do consumo pode causar uma inflação mais alta. É por isso que há perspectiva da inflação. O Banco Central é um órgão fundamental, porque tem que controlar, não pode baixar demais os juros, senão você tem aumento da renda e tem crédito mais disponível ainda com os percentuais de juros mais baixos. Você aumenta, dá um volume grande de consumo num certo momento que vem a inflação.

Esse equilíbrio tem que ocorrer. Por isso que o governo tem que ter esse equilíbrio fiscal. Ele tem que entender que se não tiver uma gestão boa, e cada um desses fatores for descolando um do outro, você perde, volta todo esse ciclo, em vez de ser um ciclo virtuoso, fica um ciclo vicioso.

 E como o senhor avalia o atual momento econômico de BH, Minas e do país?
Estamos vivendo um momento econômico bem positivo. E isso vem de, não é de agora, isso não é instantâneo. Nós temos que ter uma boa gestão municipal, estadual e federal, uma boa gestão pública. Os próximos gestores têm que ter atuação boa, para que a gente comece a ter aquele crescimento sustentável, a ter o retorno de qualidade de tudo que a gente faz aqui. O Brasil é um país muito rico. A questão de desenvolvimento depende muito da preparação desses gestores. É lógico que o Brasil precisa muito do desenvolvimento social, é importantíssimo. Tem gente precisando de apoio e a gente tem que dar esse apoio.

Nós, como entidade de classe empresarial, temos que fazer a nossa parte, que é orientar cada vez mais quem empreende, com todas as suas particularidades. A empresa tem que fazer a sua parte, tem que vender bem, arrecadar os impostos, contratar mais pessoas, pagar salários bons

Belo Horizonte vai escolher o prefeito dos próximos quatro anos. O que a CDL espera do próximo prefeito?
A CDL recebeu todos os principais candidatos. Escutamos as propostas, colocamos as nossas. A CDL elaborou junto com o corpo técnico da casa, mas também pegando as opiniões dos nossos associados, um caderno de propostas. Entregamos a cada candidato as nossas preocupações para a cidade, as melhorias possíveis, coisas que podem ser aplicadas em uma grande metrópole. A maioria dos candidatos falou que as propostas que já estavam no plano de governo. A gente precisa melhorar a zeladoria da cidade, melhorar a mobilidade, a segurança. A questão do morador em situação de rua. Uma coisa que é positiva, que a gente está vendo, nas conversas que nós tivemos com os candidatos, todos mostraram que têm noção geral sobre esses problemas.

Um dos principais temas tratados nesta eleição é a segurança. E o Centro vivido um certo esvaziamento, com lojas para alugar e as pessoas reforçando essa falta de segurança. Como incentivar os comerciantes a voltar para o Centro?
Tem que ter um planejamento forte. Essa questão de ficar fazendo maquiagem, uma coisinha aqui, outra coisa ali, traz muito esforço e pouco resultado. Tem que ter planejamento ordenado. O comércio se descentralizou. A gente tem hoje cerca de 30 centros comerciais em BH fortes, e que competem com o Centro. Mas isso tem a ver com outros fatores, a questão da mobilidade, moradia, trabalhar perto de casa. Mas o Centro ainda é muito atrativo. A gente tinha, até pouco tempo, há 10 anos, uma população flutuante no Centro em torno de 2 milhões por dia. Hoje deve ser em torno de 900 mil, 1 milhão, quando muito. Vários aspectos tiraram as pessoas do Centro. Um deles é a questão da segurança e a questão de concentrar muitos moradores em situação de rua. O morador em situação de rua é um problema mundial que a gente tem que resolver. E também a requalificação, de maneira forte. Como é que se busca essa requalificação? Atraindo investidores para o Centro. Como? Moradia. A gente precisa fazer com que prédios vazios, terrenos vazios, sejam transformados em moradia acessível. Não adianta também fazer moradias muito chiques, porque não vai atrair esse público. Uma coisa que a gente fala, a iluminação alternativa, vamos dizer assim, dos prédios, das lojas, é um fator importante também para ajudar nessa segurança. E ter o policiamento adequado à noite. 

Leia mais:

Compartilhar
Ediminas S/A Jornal Hoje em Dia.© Copyright 2024Todos os direitos reservados.
Distribuído por
Publicado no
Desenvolvido por