Mineiro de Belo Horizonte, Charles de Oliveira Costa, de 50 anos, ou Charlinho para os mais íntimos, é um dos profissionais da saúde esportiva mais reconhecidos do país. Professor universitário, mestre em administração e especialista em fisioterapia esportiva, Charles, esteve por muitos anos servindo a Seleção Brasileira como fisioterapeuta.
Ele esteve na última Copa do Mundo e também foi medalhista olímpico na Rio 2016. Charles iniciou a sua trajetória no América como estagiário e logo foi para o Cruzeiro, onde permaneceu por longos anos e conquistou vários títulos.
Hoje, é Coordenador do Núcleo de Saúde e Performance do Santos FC. O profissional conversou com o Hoje em Dia e falou da sua trajetória, das conquistas que passou nos clubes e na Seleção Brasileira, além da saída como credor do Cruzeiro.
Depois de muitos anos trabalhando e conquistando títulos pelo Cruzeiro, como é exercer a função no Santos, um dos times mais conhecidos no planeta?
Cresci ouvindo meu pai contando histórias memoráveis sobre os jogos entre Cruzeiro de Tostão e o Santos de Pelé. Me desenvolvi como pessoa e profissionalmente tendo esses times como referência de talento, títulos, torcida, paixão e história. É uma grande honra servir o Santos FC e fazer parte desse clube de reconhecimento internacional. Time que revelou ao mundo o maior e melhor atleta de todos os tempos: Pelé.
Sua função no Santos é de coordenador de saúde e performance. Além da fisioterapia, que é seu principal fundamento, qual é o trabalho no Santos?
No Santos FC fui contratado como Coordenador do Núcleo de Saúde e Performance das categorias profissional, base e feminino. Não exerço o trabalho e as funções de fisioterapeuta esportivo. O cargo está alicerçado em dois importantes pilares: Científico e Administrativo. O longo período de trabalho no esporte, a vivência na docência no ensino superior, mestrado na área de comportamento organizacional (administração) e experiência internacional com a Seleção Brasileira me permitiu acumular experiências necessárias para abraçar as responsabilidades e desafios que o cargo exige. A atual Presidência do Santos FC tem uma vocação administrativa focada na governança, na gestão de pessoas e processos institucionais. Sendo assim, minhas atribuições estão alinhadas com o planejamento estratégico do clube que visa o adequado gerenciamento de recursos, gestão de pessoas, compliance e identidade organizacional. Gerenciamos a área de saúde e performance contemplando os seguintes departamentos: medicina, preparação física, fisiologia, fisioterapia, nutrição, psicologia, massagista e podologia. Resumidamente estamos envolvidos na criação de fluxos e processos nos diferentes departamentos, coordenando ações, estimulando lideranças e a comunicação. O objetivo final é estabelecer claramente o que fazemos, porque fazemos e como fazemos, dentro de um modelo co-participativo e das contribuições de todos os agentes dos processos.
Você fez parte da comissão técnica do Tite na última Copa do Mundo. Existe a possibilidade da continuidade do trabalho com a chegada de um novo técnico?
Fizemos parte de uma Seleção que devolveu o sentimento de pertencimento para o povo brasileiro. Foram 3 anos de preparação intensa, alcançando excelentes índices de desempenho e resultado. Havia o reconhecimento internacional de que o Brasil tinha uma equipe forte e com grandes possibilidades de alcançar o hexacampeonato. Mesmo após a desclassificação, torcedores brasileiros nos receberam no hotel apoiando e cantando o Hino Nacional. Foi muito emocionante receber todo o apoio. Foi uma experiência maravilhosa; somamos tudo: nossas experiências profissionais, nossas esperanças e entregamos o máximo de nossas capacidades. Apesar de não termos vencido a Copa do Mundo Qatar 2022, nos sentimos orgulhosos pela entrega e qualidade no trabalho dos atletas, da comissão técnica e de toda a staff. Tenho contribuído com a Seleção Brasileira desde 2015/16, fizemos parte do ouro olímpico Rio 2016, Copa América e Copa do Mundo Qatar. Notadamente o departamento de saúde, ocupou um lugar de destaque na Copa do Mundo, pela rápida recuperação dos atletas Neymar, Danilo e Alex Sandro. Entendo que o Brasil tem ótimos profissionais fisioterapeutas que têm experiência e mérito para compor a equipe de saúde da CBF. Aguardamos com esperança a definição da equipe de saúde que acompanhará a Seleção Brasileira com o novo técnico.
Como foi fazer parte da comissão técnica do Santos durante a morte do Rei Pelé, em um dos momentos mais tristes da história do clube?
Santos, Pelé e futebol se misturam, é impossível mensurar as contribuições dentro e fora de campo deste gênio do futebol. Pelé é o maior ícone Brasileiro de todos os tempos, que transcende fronteiras do esporte, do país e transformou gerações de apaixonados pelo esporte e pelo futebol. Vivemos de perto a angústia da despedida do Édson Arantes do Nascimento, sentimos sua dor, compartilhamos suas lágrimas… despedimos do Édson, permanece conosco vivo o eterno “rei Pelé” Cabe-nos manter viva a memória do Pelé, para que a atual e as futuras gerações o tenham como exemplo e se beneficiem do seu legado.
Você ainda tem ligações com Belo Horizonte, além de grandes amigos que deixou na capital mineira?
Mineiro tem respeito às suas raízes, sua ancestralidade, tem saudade da infância, guarda vivo os cheiros e gostos da comida feita em casa e do encontro com os amigos e com a família. Belo Horizonte abriga bens muito preciosos: meus pais, irmãos e amigos. E sempre que posso, volto para as minhas raízes. Tenho amigos e colegas da área acadêmica, do esporte e de convívio pessoal.
Você é um dos credores do Cruzeiro? Como está enxergando esse momento que o clube atravessa e essa fase de transição da associação para a SAF? Voltaria a trabalhar no clube um dia?
Em minha nota de despedida há uma parte que destaco aqui: “trabalhando no Cruzeiro, contribuí com o melhor de mim na construção dessa linda história: Foram 26 títulos, milhões de sorrisos, incontáveis alegrias, muitos amigos. Vivi sua alegria, sofri sua dor… difícil separar o “ser do estar”… misturou tudo…”. Sou um dos credores do Cruzeiro. Acho que todos sofreram, dirigentes, torcedores e especialmente nós funcionários mais antigos que tinham uma grande identificação com o clube. Tive abalada minha saúde física e emocional. Chegará o tempo em que poderemos olhar para trás e avaliar se este foi o melhor caminho. De nossa parte, fica o sentimento de gratidão e permanecemos firmes no desejo de que o clube reencontre as páginas das vitórias e conquistas. Cheguei menino e sai pai de 3 filhos, foram 25 anos dedicados ao clube num ciclo muito bonito, de entrega e construções.
No Cruzeiro você foi fundador e idealizador do CARE (Centro Avançado de Reabilitação Esportiva). Existe algum projeto semelhante no Santos?
Fui o idealizador e fundador do CARE que teve como grande missão gerar integração transdisciplinar, somando esforços dentro de uma filosofia de prevenção, tecnologia e tornar o Cruzeiro também referência fora das 4 linhas. O CARE foi criado em 2006 e claro, ocorreram muitas transformações no conceito de saúde e performance até o presente momento. O futebol mudou em suas características econômicas, midiáticas, físicas, técnicas e táticas exigindo de nós profissionais conhecimentos adicionais para a enfrentar os desafios impostos pelo esporte. Vivemos a era da informação, dispomos de mais tecnologias que nos permitem ajustes mais finos nas respostas biológicas dos atletas. O grande desafio é humanizar as relações; aproximar cada vez mais a ciência do esporte e o esporte da ciência. Criar modelos práticos de cognição compartilhada entre os membros da comissão técnica e direção de forma a impulsionar o esporte do presente para o futuro. No Santos criamos o Núcleo de Saúde e Performance, partindo de exemplos de sucesso em outros clubes nacionais e internacionais, juntando nossas expertises e adaptando-as à cultura e identidade desta marca Gigante Santos FC.