Valorizar o que é histórico e vem da terra, do quintal de casa. Esse é um dos pilares do projeto Horta Histórica, desenvolvido desde o início do ano e que começa a dar frutos agora em escolas da rede municipal da região mineira do Entre Serras, formada pelas cidades de Santa Bárbara, Caeté, Catas Altas e Barão de Cocais.
A ideia de apostar na sustentabilidade alimentar surgiu com outro projeto que ensina educação empreendedora nas escolas, de iniciativa do Sebrae Minas.
A inspiração veio da história do Santuário do Caraça, que desde sua fundação, em 1774, consome e serve aos visitantes o que é produzido na própria terra, com poucos produtos que chegam de fora. O que faz do Caraça hoje guardião das sementes e mudas de alimentos desta região há mais de 240 anos.
Depois de uma visita ao Santuário, onde os alunos receberam mudas de verduras, legumes raros e sementes crioulas de milhos e feijões, a diretora Claydes Regina Araújo e os professores Ângela Pereira e Gerciani dos Anjos, da escola municipal Marfisa Magalhães de Santa Bárbara, decidiram transformar um espaço que antes era inutilizado na escola em um ambiente dedicado ao conhecimento e à diversão dos alunos.
“Vimos neste projeto grande potencial e uma forma de trabalhar com as crianças a questão da iniciativa, da responsabilidade, do desenvolvimento intelectual e do resgate da riqueza da nossa terra. Tínhamos um terreno atrás da escola, um ‘terrão’ que não era aproveitado, e lá resolvemos instalar nossa horta”, explica Claydes.
Transformação
Ela diz que os estudantes são incentivados a pesquisar, inclusive na casa dos avós e parentes, quais alimentos são ou eram consumidos tradicionalmente na cidade para depois cultivarem na horta. Além de consumirem o que plantam na merenda escolar, o projeto mudou o hábito alimentar de muitas famílias.
“Temos relatos de algumas crianças que não comiam verduras e legumes, por exemplo, e hoje comem porque foram elas que plantaram. Muitas ensinaram os pais a plantar e hoje têm uma horta em casa também. São muitos relatos ricos de transformação”, contou a coordenadora.
Os alunos aprendem, ainda, a preparar fertilizantes naturais e a fazer a compostagem com restos das próprias merendas. Para enriquecer e “embelezar” ainda mais o projeto, a turma da Literatura enche a horta de poemas sobre temas históricos da região de Entre Serras.
Outros ganhos, do ponto de vista educacional, foram a melhora das notas, da inclusão, e a redução da evasão escolar. Segundo Claydes, a atividade artesanal, de cuidar dos alimentos e da terra, fez com que muitos estudantes, que antes não demonstravam interesse em participar das atividades em sala, passassem a se destacar e a ganhar autoestima.
O trabalho que começou na escola de Santa Bárbara agora passa a ser difundido nos outros municípios da região.