Secretário de Saúde de BH antecipa vacinação da gripe e pede apoio contra o Aedes

Leida Reis
lreis@hojeemdia.com.br
17/04/2016 às 21:50.
Atualizado em 16/11/2021 às 03:00

(Lucas Prates/Hoje em Dia)

Depois de trabalhar por 11 anos no Ministério da Saúde, Fabiano Pimenta foi secretário-adjunto e hoje é secretário municipal de Saúde em Belo Horizonte.

Apesar da intensificação das ações contra o Aedes aegypti, transmissor de três doenças que vêm apavorando os brasileiros – dengue, zika e chikungunya –, o combate ao mosquito ainda é um desafio.

Sem tempo para respirar, a secretaria antecipa a vacinação da gripe H1N1 e cobra do governo federal os recursos para ampliar o atendimento no Hospital do Barreiro.

Minas tem 30% dos casos de dengue do Brasil. Em BH já são 34 mil diagnósticos de confirmação neste ano e 58 mil suspeitos. Por que as ações no município não impedem a epidemia?

O problema da proliferação do Aedes aegypti são as novas condições favoráveis. Três fatores favorecem a proliferação do mosquito: adensamento populacional, maior produção de descartáveis e aquecimento global.

Trabalho com a dengue desde 1986 e nunca havia visto o Aedes em cidades do Sul de Minas, por causa do frio. Os moradores têm que entender: nem a vacina da dengue resolve o problema nem o trabalho dos agentes da endemia pode blindar a casa deles.Lucas Prates/Hoje em Dia / N/A

Secretário de Saúde de BH, Fabiano Pimenta, diz que prefeitura tem estrutura para combater Aedes, mas precisa da ajuda da população


Mas, sabendo que a população tem que fazer a parte dela, as ações do poder público são suficientes?

O Ministério da Saúde recomenda um agente para grupo de 800 imóveis e em BH temos um para 725 imóveis. Eles visitam os imóveis e retiram, por exemplo, um pote de margarina com água, uma casca de coco que vira recipiente de água, mas temos casos mais graves.

No bairro Milionários, onde houve problema de abastecimento, as pessoas passaram a acumular água em tambores, que viraram criadores do mosquito. O agente volta a cada 60 dias no imóvel, mas, nesse intervalo, os focos podem voltar se o morador deixa lixo nos quintais, por exemplo.

Em Belo Horizonte são feitas 4 milhões de visitas por ano. O Ministério da Saúde recomenda de 4 a 8 vezes visitas por ano a cada residência, e fazemos cinco.

O número de agentes é de 1.170. Temos agentes comunitários também atuando e com foco na educação dos moradores, ensinando a fazer a limpeza minuciosa nas residências, seguindo um manual de checagem de cada potencial foco.

Outro desafio de BH é uma ação pioneira de integração dos órgãos municipais. No dia 23 de dezembro do ano passado foi publicado o decreto a partir do qual passamos a ter ação conjunta da Defesa Civil, SLU, Belotur, Políticas Sociais e outros.

Nas escolas investimos em educação para que as novas gerações tenham esse costume de combater o Aedes como ela aprendeu, por exemplo, a usar o cinto de segurança.

O fumacê dos caminhões tem que atender a detalhes técnicos muito específicos. Além disso, o uso em larga escala prejudica o meio ambiente

Muitos sentem falta do fumacê nas ruas.

O fumacê usado hoje é o portátil, porque a névoa é jogada, de forma mais concentrada, nos locais onde há possibilidade de focos. As gotas ficam suspensas por duas ou três horas; a fêmea voa e, entrando em contato com essa névoa, acaba morrendo.

O fumacê dos caminhões tem que atender a detalhes técnicos muito específicos, de vento com velocidade de 4 a 6 km/h, velocidade do carro entre 10 e 20km/h. Além disso, o uso em larga escala prejudica o meio ambiente.

Outra iniciativa são as ovitrampas. Temos 1.800 armadilhas instaladas. São recolhidas e levadas para o laboratório, gerando um número histórico da presença do Aedes, e esse foi um dos fundamentos do decreto de emergência.

Os dados colhidos das ovitrampas também direcionam os mutirões de limpeza. De janeiro para cá foram feitos 104 mutirões em 230 mil domicílios, recolhendo 3.700 toneladas de inservíveis.

Durante um bom tempo, a prefeitura optou por não fazer a entrada forçada nos domicílios em que os agentes não conseguiam entrar. Por que não multar esses proprietários?

Não conseguimos entrar em cerca de 20% dos imóveis, geralmente porque as pessoas estão trabalhando. Sempre visitamos em horários diferentes do dia. Agora estamos indo à noite, tendo começado o trabalho pelo bairro Lindeia.

Ali, em duas semanas, de 27 casas fechadas, passamos a 11, com essas visitas noturnas. Elas serão ampliadas, primeiramente para o bairro Regina. Mas não encontramos exemplo de país que tenha tido sucesso no combate à dengue com multa.

Apesar disso, em 2016 o processo de multa se tornou mais célere. Antes seguíamos a legislação municipal, que exigia a publicação no DOM 48 horas depois da notificação.

Agora, com a MP do governo federal, se o agente vai duas vezes na casa, em períodos distintos, e o morador não entra em contato, aplica-se a multa. Neste ano tivemos 126 entradas forçadas e em 60% havia focos de dengue, sendo que a média na cidade como um todo está entre 1% e 2%.

A instalação das telas nas casas das gestantes tem sido eficiente?

A equipe que coloca as telas também orienta a gestante para usar repelente quando sair de casa. Em torno de 200 telas foram implantadas e isso não é simples, porque a estrutura de colocação é feita manualmente. O Jardim Alvorada foi bairro-piloto.Lucas Prates/Hoje em Dia / N/A

“Chegamos ao limite da capacidade (financeira) do município. Não temos condições de dar aumento, mas estamos discutindo com os médicos o Plano de Carreiras e Salários”


Há outras ações?

A Fiocruz fazendo biolarvicida que pode ser coletado e triturado nas ovitrampas. As fêmeas do mosquito saem contaminadas e contaminam outros criadores. Vamos fazer esse processo com a Fiocruz.

Outra parceria com o Centro de Pesquisa René Rachou (da Fiocruz) é a introdução da bactéria Wolbachia no Aedes aegypti, projeto de sucesso na Austrália.

Essa bactéria, não encontrada no Aedes, é inoculada nele em laboratório. No mosquito com a bactéria, o vírus da dengue e da zika não sai do intestino para a glândula salivar.

Estamos oferecendo Belo Horizonte para a continuidade dessa pesquisa, que começou pelo Rio de Janeiro, na Ilha do Governador.

Por que a maioria dos diagnósticos feitos na rede pública são clínicos e não de laboratório?

O que houve foi que faltaram kits de exames e o Ministério da Saúde teve que reduzir a entrega aos municípios. Até julho devemos ter os kits. Temos em BH 681 casos de zika, sendo 24 confirmados e 657 sob investigação. Dos casos suspeitos, 224 são em gestantes. Por que essa concentração? Porque exames feitos priorizam as grávidas.

Em 2009, um fantasma assustou o mundo, a epidemia da gripe H1N1. Agora ela volta a apavorar a população.

Todo ano fazemos a campanha nas unidades de saúde, nas escolas privadas e toda rede pública. Estamos distribuindo o material gráfico recomendando que se lave as mãos sempre, que a boca seja coberta pelo braço no momento da tosse e outros cuidados.

Os locais de atendimento da dengue vão atender também pacientes com a gripe. Eles recebem alguns ajustes, como a disponibilidade de cilindro de oxigênio.

A meta é a vacinação de 660 mil pessoas, crianças de 6 meses a 5 anos, idosos acima de 60 anos, profissionais de saúde, presos e indígenas.

Novidade deste ano é a vacina para trabalhadores dos presídios e adolescentes que cumprem medidas socioeducativas. Vamos antecipar a vacinação para o dia 25 de abril.

Ela é aberta sempre no Dia Nacional de Vacinação contra a Gripe, em 30 de abril, e pega três gripes: H1N1, H3N2 e influenza B. O Tamiflu, mais eficiente nas primeiras 48 horas da doença, será distribuído na rede pública e também na privada pelo SUS.

Avisamos que a vacinação dos acamados está aberta, e basta entrar em contato pelo 3277-7722 ou 156. Temos mais dificuldades em vacinar gestantes, mas não há perigo algum. Nos últimos três anos, nenhuma gestante morreu de H1N1, e os dados de internação também mostram queda.

As equipes que trabalham com a leishmaniose foram reduzidas pela falta de insumos para o combate ao mosquito palha. Não há risco de surto da doença?

BH conseguiu reduzir os casos de leishmaniose visceral. De 201o para cá, a média era 130, 140 por ano, e em 2015 caiu para 47. O Ministério da Saúde teve problemas com os laboratórios para conseguir kits para exames confirmatórios.

Sem eles, não faz sentido sair de casa em casa coletando amostras de sangue. Eram feitas 15 mil/mês em 2013, agora são 2 mil mensais. Tivemos ajustes da quantidade de agentes em função disso. Eles foram para outras atividades. Mas não acredito em surto.Lucas Prates/Hoje em Dia / N/A

Cirurgias plásticas para mulheres vítimas de violência tornaram-se obrigatórias. BH está preparada para o atendimento?

Ainda não tivemos demanda em razão dessa lei. Se tivermos, vamos encaminhar para algum hospital. Se caso ortopédico, direcionamos para o Hospital Santa Lúcia. Dependerá se for urgência ou não. Acredito que não haverá dificuldade.

E o Hospital Metropolitano Doutor Célio de Castro? Como estão as negociações com o governo federal para a ampliação do atendimento?

Em dezembro de 2015, ativamos 15% da capacidade do hospital do Barreiro. Estamos em conversas com o Ministério da Saúde para a liberação dos recursos para que a unidade funcione com 50% da capacidade. Temos tido apoio da Secretaria de Estado da Saúde.

O MS ainda não publicou a portaria com a liberação do dinheiro, o que pode acontecer este mês ainda, pelas conversas que temos tido. O aporte é de R$ 12 milhões da União e R$ 4 milhões do Estado.

Assim que acontecer, faremos seleção pública de pessoal para elevar de 40 para 200 leitos. Ativamos em julho, no mais tardar. A crise política do país não pode atrasar esse processo. O Partido do SUS tem que estar acima de qualquer coisa.

Quando estiver 100% funcionando, teremos 80 leitos só de UTI.

Os servidores públicos pressionam por reajuste salarial e ameaçam greve. Por outro lado, a demanda pelo atendimento nos centros de saúde é sempre crescente. Como resolver essas duas pressões?

É natural que queiram melhores salários, mas há os limites da Lei de Responsabilidade Fiscal e a crise econômica. A Constituição manda que o município gaste 15% da receita própria com saúde e em 2015 aplicamos 21%.

Chegamos ao limite da capacidade do município. Não temos condições de dar aumento, mas estamos discutindo com os médicos o Plano de Carreiras e Salários.

A rotatividade dos profissionais no serviço municipal é grande e percebemos que são médicos em início de carreira que deixam o trabalho. Então, nesse plano, vamos criar estímulo de progressão de carreira para que fiquem no município.

Está para ser enviado à Câmara. Em relação aos agentes comunitários e de endemias, a proposta é que o cargo de supervisor, oferecido em concurso, passe a ser preenchido por meio de promoção, estimulando a carreira.

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