A vida dura dos jogadores e times do interior quando chega maio

Rodrigo Rodrigues - Hoje em Dia
28/01/2013 às 08:49.
Atualizado em 21/11/2021 às 21:16
 (Carlos Rhienck/Hoje em Dia)

(Carlos Rhienck/Hoje em Dia)

Credenciados às grandes disputas, Atlético e Cruzeiro costumam tratar o Campeonato Mineiro como mero aquecimento. Além do passaporte carimbado para as principais competições do país e do continente, os gigantes de Minas Gerais têm na ponta do lápis quanto possuem em caixa para gastar, honrar os compromissos e, se necessário, investir.

Do outro lado do mundo da bola, pelo menos sete clubes do interior vivem realidade avessa. Sem muitas opções no calendário futebolístico e com os cofres vazios, os pouco mais de três meses do Estadual talvez sejam o único período em que ficarão de pé.

Nessa corda bamba, tentam se equilibrar América (Teófilo Otoni), Araxá, Caldense, Guarani, Nacional (Nova Serrana), Tombense e Villa Nova, a partir do próximo dia 2, início da Primeira Divisão.

Após 19 de maio, quando for decretado o campeão estadual, a missão desses “primos pobres” do futebol será manter as portas abertas no restante do ano.

Por motivos óbvios, os jogadores dessas equipes também enfrentam cenário nada animador. Diferentemente do glamour que envolve a vida de astros como Ronaldinho Gaúcho, Diego Souza e companhia, esses atletas driblam os obstáculos para assegurar o emprego o maior número de meses possíveis. Como alternativa, só resta vestir pelo menos duas camisas por ano, “para não faltar nada em casa”.

DIFICULDADES

O goleiro Glaysson, 33 anos, por exemplo, “acostumou-se” com essa rotina. Revelado pelo Cruzeiro, começou a rodar em 2001 e nunca mais parou. Este ano, defenderá a meta da Caldense pela segunda vez no Mineiro. Será o 13º campeonato dele, somente no Módulo I. Pois, desde que deixou a Toca da Raposa, precisou se desdobrar entre as várias divisões do futebol mineiro, Séries C e D do Brasileiro, Mato Grosso, São Paulo e Brasília para garantir o sustento da família.

“É muito ruim fazer contratos curtos. Quando acaba o Mineiro a gente volta para a casa e fica na ansiedade, esperando o telefone tocar. Isso é muito complicado. Temos conta para pagar”, queixa-se.

“Quando fazemos um contrato maior, mesmo que o clube não dispute nada no resto do ano, podemos ser emprestados. Aí, temos a garantia de receber o salário o ano inteiro”, acrescenta Glaysson.

“ANDARILHO”

De 2001 até agora, o atleta defendeu pelo menos dois clubes por temporada. Em algumas ocasiões, envergou três escudos diferentes num mesmo ano. Se as contas de Glaysson estiverem exatas, foram 15 equipes desde então. Seriam 16, mas no Volta Redonda-RJ, em 2010, não chegou a jogar porque se machucou.

Engana-se, contudo, quem pensa que a alta rotatividade é garantia de bolso cheio. “Já levei muito ‘cano’. Até hoje tenho dinheiro para receber na Justiça”, reclama.
Para ter um ano “completo”, Glaysson aposta em uma boa campanha da Veterana no Mineiro.

“A expectativa é ficar entre os quatro primeiros e disputar a Série D. Se não formos para as semifinais, o clube fecha as portas em abril e só volta em dezembro”, argumenta.

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