

Meia década se passou desde o dia em que Tinga resolveu convocar a imprensa, e, em uma entrevista coletiva na Toca II, anunciou sua aposentadoria do futebol. Como o ex-jogador sempre disse foi uma das decisões mais difíceis de sua vida, mas que serviu também para dar a ele um novo direcionamento, novos rumos na carreira pós-gramados. E que hoje, além de ter aprendido muito no esporte, sua decisão rende grandes frutos e projetos mesmo como "pequenos gestos".
Em conversa exclusiva com o Hoje em Dia, Tinga, que está com a família nesse momento em quarentena pela pandemia do coronavírus, contou como tem passado esse primeiro estágio longe das concentrações, dos jogos e de toda a rotina que marcou sua vida por mais de 20 anos como atleta profissional.
"Passados cinco anos que me aposentei, nem parece, parece que faz dois, três anos, tamanha a intensidade que a gente vive esse negócio (futebol). Te confesso que foi a decisão mais difícil que encontrei até agora na minha vida, a de dizer não para mim mesmo, a minha aposentadoria. Mas foi tudo no tempo certo, no tempo de Deus. Tentei me preparar o máximo possível, porque por mais que tu se prepare a determinar sair do futebol, algo que a gente faz desde a infância, é uma coisa muito dura (aposentar)", disse o ex-jogador, que anunciou sua saída dos gramados no dia 30 de abril de 2015.
Apesar de ter pendurado as chuteiras, Tinga sabe que foi o futebol que o preparou para seguir a vida após a aposentadoria. Perguntado o que era melhor, ser jogador ou ex-jogador, o agora empresário de tantos negócios foi categórico: "Ex é sempre ruim. Nem me considero mais ex-jogador", brincou, falando sonbre a importância do esporte na sua vida.
"O futebol foi muito importante, me preparou para muita coisa como pessoa, como ser humano, aprendi muito a conviver com os nãos que o futebol nos dá, com as derrotas do futebol. Aprendi aquilo que reflete a nossa vida hoje, que domingo você é bom, quarta você não serve mais, no outro domingo você é mais ou menos, depois na outra quarta você ganha e é o cara de novo. A gente traz isso tudo para nossas vidas hoje, isso acontece nas empresas, mas em um tempo de médio e longo prazo, para as pessoas te avaliarem. Com certeza é muito melhor jogar. Ex é sempre ruim, então não me considero um ex, foi uma etapa da minha vida que passou e fui muito feliz, a passagem no Cruzeiro me selou isso. Um título que tinha perdido com o Inter em um assalto lá do Corinthians, e não ia ter a oportunidade de ser campeão Brasileiro, e o Cruzeiro me oportunizou isso. Então, tenho uma gratidão muito grande pelo Cruzeiro", afirma.
Vida longe dos gramados
Ao se aposentar dos gramados o ex-volante Tinga começou a construir novas conexões interpessoais, conheceu outros mundos que não só o esportivo e passou a investir naquilo que entendia ser uma boa oportunidade.
"Consegui fazer algumas coisas, criando algumas marcas, ao mesmo tempo tocando a agência de turismo da minha esposa, a Sieben Tour. Criamos outros negócios e temos feito palestras no Brasil todo, nas indústrias, empresas, sobre empreendedorismo, gestões de equipes, gestão de pessoas, engajamentos tanto no trabalho quanto no social. Algumas coisas que fui me adaptando e criando, não menos importante a parte social. Tinha um sonho de criar um ônibus que fosse uma cozinha e uma biblioteca, já que sempre tive na minha cabeça que a educação e fome tem que caminhar juntos, assim como entendo que a saúde e o trabalho eles não estão separados, a fome e a educação têm que estar sempre juntos para criar evolução. Esse ano a gente conseguiu fazer um projeto chamado "Fome de aprender", vários amigos, vários empresários, inclusive pessoas de BH que me ajudam nesse projeto, fazemos a diferença dentro daquilo que a gente acredita", contou.
E com essa gama de novas conexões e atividades, Tinga acredita que tem alcançados feitos que o fazem lembrar das conquistas do seu tempo de jogador.
"Me considero fazendo pequenos feitos hoje e que tenho o mesmo prazer que eu tinha quando jogava. Quando eu estou dando um conteúdo para uma empresa, contando a minha história, criando um novo negócio, eu também tenho as emoções, os prazeres que eu tinha no futebol, o frio na barriga. Estou tentando viver o hoje. O passado é importante para sustentar o hoje, é a nossa base para que as portas se abram. A gente tem que ser feliz pelo que a gente faz hoje, não só pelo que fiz no tempo de jogador. Sou feliz por fazer pequenas coisas, mas que estou envolvido nelas com ideias e com trabalho", diz.
Agradecimento ao futebol
Para Tinga os cinco anos que se passaram após seu anúncio de aposentadoria só confirmaram o que ele já sabia: o futebol foi sua maior escola. Com espírito de liderança o agora empresário aprendeu no mundo da bola que podia empreender usando seu passado no esporte.
"Só tenho a agradecer ao futebol, agradecer a melhor educação que eu tive, que o futebol me educou, me trouxe limites, o futebol me disciplinou, me fez entender que a linha entre dar certo e não dar é do mesmo tamanho que a linha quando passa do gol ou não. A vida que o futebol nos ensina quando a gente presta atenção nele, é importante para que possamos seguir essa vida. E hoje tenho uma gratidão muito grande por amizades, por tudo que vivi no futebol. E de todo coração, não por estar falando com um jornal de Belo Horizonte, o Cruzeiro foi muito importante para a minha vida. Confesso que se eu não tivesse passado pelo Cruzeiro para a aposentadoria, não seria igual. O clube me preparou, me deu a oportunidade de gerir pessoas, foi o lugar que tive mais oportunidade de gerir pessoas, mesmo como atleta participava de muitas questões da gestão, da educação, de meninos que foram subindo. O Cruzeiro me preparaou para muita coisa que faço hoje, na época o presidente Gilvan (de Pinho Tavares), o Alexandre Mattos, que era o diretor de futebol, me davam liberdade grande para que pudesse debater e conversar com eles mesmo sendo jogador. E os próprios jogadores entendiam isso, que não tinha sacanagem, trairagem, que o certo era certo, errado era errado. E para mim foi um aprendizado onde comecei a fazer a gestão dentro do próprio processo de jogador", revelou.
Retorno aos bastidores do futebol
Em dezembro de 2016 o ex-volante Tinga voltava ao Cruzeiro para ser o gerente de futebol do clube, convidado pela então presidente Gilvan da Pinho Tavares e seu escudeiro Bruno Vicintin.
A experiência como gestor da bola na Toca II durou até o início de 2018, quando Wagner Pires de Sá assumiu a cadeira presidencial, o que motivou o pedido de desligamento de Tinga do clube.
E essa experiência no clube estrelado foi marcante para Tinga, que pensa sim voltar ao futebol um dia.
"Em relação a voltar para o futebol, de todos os segmentos que fui fazendo ao longo da vida, é o que mais domino. Todo jogador que passa de 10 anos de carreira, eu tive mais de 20 anos. Qualquer profissão que você passa de 10 anos você já é pós, né. Acredito que um atleta, como a maioria que vai até os 37 jogando futebol, não deixa de ser um doutorado no futebol. Com certeza um dia devo voltar sim ao futebol, acreditando nos princípios, nos valores das pessoas que eu possa estar do lado. Não que os meus sejam melhores, mas dentro daquilo que acredito, um dia devo voltar sim ao futebol", concluiu.