Os números dos dois principais clubes do futebol mineiro têm impressionado. E não estamos falando da quantidade de torcedores que têm ido aos estádios ou o valor investido na compra de jogadores. Atlético e Cruzeiro comemoram, este ano, recordes financeiros alcançados em 2023.
A Sociedade Anônima de Futebol (SAF) do Cruzeiro, por exemplo, divulgou na última quinta-feira (16) os demonstrativos financeiros referentes à temporada de 2023. O balanço aponta um crescimento em 62% nas receitas do clube, que foram de R$ 150,4 milhões em 2022, para R$ 243,8 milhões em 2023. No período, também foi apontado um lucro líquido de R$ 260,1 milhões. Além do exemplo da Raposa, a melhora nos resultados financeiros também foi observada em outros dos clubes por todo o país, incluindo casos de recordes de faturamento e de superávit.
O rival Atlético divulgou um faturamento de R$ 439 milhões em receita bruta em 2023, um aumento de 7% em relação ao ano anterior. O clube também divulgou uma redução de 747 milhões na dívida líquida – de R$ 1,571 bilhão para R$ 824 milhões – e indicou aumento significativo em receitas com matchday (bilheteria e sócio-torcedor) e clubes sociais, além de valores recordes arrecadados com venda de jogadores, de R$ 112 milhões.
Flamengo, Corinthians e outros
Em outros estados do Brasil, o maior destaque é o Flamengo, que divulgou uma receita nunca vista antes no futebol brasileiro, de R$ 1,37 bilhão. Conforme o relatório divulgado pelo clube, o superávit operacional também foi recorde em 2023, na casa dos R$ 320 milhões.
O Corinthians é o segundo que mais se destaca, também com arrecadação histórica, na casa do R$ 1 bilhão, mas ainda sim viu a dívida bruta total atingir patamar próximo dos R$ 2 bilhões. Já no Paraná, o Athletico-PR, divulgou arrecadação R$ 898,9 milhões e superávit de R$ 383 milhões em 2023, ambos valores recordes na história do clube.
Assim como o Galo, Corinthians, Flamengo e Athletico tiveram como fator comum, entre as receitas geradas, um aumento da arrecadação com as negociações de atletas – enquanto o clube carioca faturou R$ 303 milhões, o Timão somou R$ 251 milhões, e o Furacão, R$ 241 milhões.
Thiago Freitas, COO da Roc Nation Sports Brasil, que gerencia as carreiras de Vini Jr, Lucas Paquetá, Endrick e Gabriel Martinelli, destaca o quanto a negociação de atletas, em maioria para o exterior, ainda é uma das fontes de receitas fundamentais para as equipes brasileiras.
“Esse êxodo é uma necessidade dos clubes brasileiros e ainda seguirá sendo pelos próximos anos. A sequência de negócios desses clubes determina aqueles que se sustentarão no topo do futebol brasileiro, gerando receitas exorbitantes, das quais as transferências de jovens atletas, em especial, são destaque neste montante”, pontua.
Atual campeão da Libertadores, o Fluminense também turbinou as receitas e, com o título da América, registrou superávit de R$ 78 milhões e receita recorde de R$ 695 milhões, conforme o demonstrativo financeiro referente ao exercício de 2023.
Já no Rio Grande do Sul, o destaque ficou por conta do Internacional, que também divulgou faturamento e superávit recorde, de R$ 685 milhões e R$170 milhões, respectivamente. Os principais destaques do faturamento colorado foram a receita social, 24% maior em relação a 2022; receitas comerciais, com alta na casa dos R$ 20 milhões, além das cifras com contrato firmado com a Liga Forte União.
“Este é o terceiro superávit consecutivo que o clube registra, e que consolida a nossa preocupação com a sustentabilidade do clube, tanto a médio quanto a longo prazo. O resultado atingido no último ano segue em conformidade com a estratégia da gestão adotada para buscar o equilíbrio financeiro”, ressalta o CEO do Internacional, Giovane Zanardo.
Renda com sócios-torcedores
No programa de sócios torcedores, um dos clubes que incrementaram o faturamento em relação ao ano anterior foi o Palmeiras. O alviverde registrou o maior valor arrecadado pelo clube em um ano através do programa Avanti, que atualmente é o maior do Brasil, com cerca de 176 mil sócios, e que rendeu um total de R$58 milhões durante o último ano.
Para Sara Carsalade, co-founder e responsável pela vertical de esportes da Somos Young, empresa especializada no atendimento a sócios-torcedores e com trabalhos em clubes como Cruzeiro e Bahia, o quadro social constitui boa forma de os clubes incrementarem as receitas.
“Ações criativas e um planejamento adequado fazem com os torcedores estejam cada vez mais juntos ao time. Idealizar estratégias com benefícios para além do campo pode, inclusive, diminuir o impacto dos resultados esportivos para obter este engajamento”.
No Nordeste, o Fortaleza, que é o dono do maior faturamento da região, novamente registrou recorde de receitas, de R$ 371 milhões. O balanço financeiro ainda aponta superávit de R$ 66,2 milhões, também o maior da história do clube. Desde o início da nova gestão Tricolor, encabeçada desde 2017 pelo atual CEO Marcelo Paz, o faturamento do clube já cresceu em 1.445%.
“Temos trabalhado para implementar um projeto responsável, com resultados positivos tanto dentro quanto fora das quatro linhas. Temos profissionais de altíssimo nível à frente das finanças e que buscam explorar ao máximo a capacidade de geração de novas receitas ", destaca Paz.
No caso do Sport, clube com o segundo maior faturamento da região, o balanço financeiro referente à temporada 2023 também apontou a maior arrecadação da história do clube, de R$ 208 milhões, assim como superávit de R$ 72 milhões. Entre as fontes de receita, a principal foi os R$130 milhões recebidos da Liga Forte, representando 63% das receitas totais.
“O aumento das receitas permite que o clube faça variados investimentos. Aqui no Sport conseguimos fazer uma série de melhoramentos no CT e estamos promovendo uma grande reforma na Ilha do Retiro. Conseguimos ainda montar um elenco capaz de brigar pelo nosso principal objetivo no ano, que é o acesso para a Série A. A entrada desse dinheiro é benéfica para todos os envolvidos e para o futebol nacional como um todo", analisa o presidente do Sport, Yuri Romão.
Já no Centro-Oeste, o Cuiabá também alcançou marco histórico, ao registrar pela primeira vez na história um faturamento acima dos receitas acima dos R$168 milhões, além de voltar a apresentar lucro, de R$ 37,3 milhões.
"No último ano, tivemos um grande aumento em nossa receita por conta do dinheiro recebido pela antecipação do investidor que comprou os direitos da Liga Forte Futebol. Fizemos uma venda de 20% dos nossos direitos e com isso tivemos um ganho maior com televisão. Com esses recursos, conseguimos investir todos os nossos lucros no próprio clube", explica Cristiano Dresch, presidente do Cuiabá.