Substituir o capitão Leonardo Silva, herdar a braçadeira e obter um aproveitamento defensivo até melhor que o líder da equipe em 2015. A missão de Edcarlos no Atlético é daquelas testadas e renovadas a cada partida. Mas, para quem enfrentou até uma ameaça de guerra nuclear, há dois anos, os desafios encontrados no Galo são encarados com prazer.
Depois de receber a contratação com resistência, a torcida viu que o baiano de 29 anos pode não apresentar a mesma qualidade de Léo, mas tem entrega e dedicação de sobra.
Após a chegada do técnico Levir Culpi, Ed viu o jovem Jemerson desbancar o Réver e percebeu que a Cidade do Galo anda sobre os trilhos da meritocracia.
Com a faixa de capitão no braço, o zagueiro terá a chance de conquistar o Campeonato Mineiro pela segunda vez, se vencer a Caldense em Varginha. Mas, desta vez, com a oportunidade de erguer a taça.
Você chegou sem a aprovação da torcida atleticana. Atualmente, como está essa relação com ela?
O torcedor do Atlético foi muito justo comigo. Ele vê o trabalho do jogador e avalia se ele está se esforçando. Acho que a torcida passou a me apoiar a partir da minha entrega dentro de campo, da minha seriedade em defender as cores do clube. Quando tem que aplaudir, aplaude, e quando tem que vaiar, vaia. E, pela posição que ocupo, demonstrei segurança ao substituir o Leonardo Silva.
Qual é a principal receita para essa boa fase?
Primeiramente, a confiança de quem me contratou, da diretoria, do Maluf (Eduardo, diretor de futebol). Falaram para eu ficar tranquilo, que havia sim uma desconfiança por parte da torcida, mas eles acreditavam que eu poderia ser uma peça importante para o grupo. Depois, vieram as palavras de incentivo dos meus colegas, que também acreditavam em mim. Assim, fui crescendo jogo a jogo.
O então técnico Paulo Autuori pediu a sua contratação no começo de 2014, mas foi demitido. Você teve algum temor de ser preterido com a chegada do Levir Culpi?
A partir do momento que você se empenha, trabalha no dia a dia, nos treinamentos, dificilmente algum treinador vai te olhar de uma maneira negativa. Pode até demorar um pouco a aparecer uma oportunidade, mas acredito que isso depende muito mais do jogador, em se dedicar para ter essas oportunidades.
Hoje, você é o reserva imediato da zaga e até mesmo capitão na ausência do Léo Silva. É sinal de que possui total confiança do Levir?
O treinador acompanha o dia a dia e avalia o caráter da pessoa também. Mas não me considero um líder absoluto do time. Acho que o Leonardo Silva e o Victor são as nossas maiores referências. Mas o goleiro fica um pouco longe do jogo. Então, em foi delegada essa função, para ter maior facilidade de comunicação com o juiz, por exemplo. Acredito que, atualmente, o Victor seria o capitão imediato com o Léo. Mas nós nos respeitamos muito e sabemos das qualidades de cada um.
Você já foi campeão estadual, pelo Cruzeiro, em 2011. Será especial, agora, poder levantar a taça em Varginha?Estou na expectativa de vencer mais esse título. Seria um troféu muito importante para a minha carreira, para o meu currículo. Vai ser uma partida muito difícil, mas estou bastante confiante que iremos sair campeões.
Antes do Galo, você defendeu o Seongnam, da Coréia do Sul. Como foi a experiência por lá?
Eu fiquei um tempo na Coréia com uma mescla de dificuldade e experiência através de uma cultura diferente. Houve momentos tensos, difíceis, com esse rumor de guerra (com a Coreia do Norte). Meus companheiros falavam que isso acontecia todo ano. E o CT do time era perto do aeroporto do Exército. Então, sempre que passava avião ou helicóptero, eu não sabia se olhava para a bola ou para cima, com medo de cair um míssil. Graças a Deus isso passou, e hoje estamos aqui em um lugar bacana e tranquilo.
Esse foi o motivo que te fez voltar ao Brasil?
Foi mais pela adaptação da família, pelo fato de a língua ser muito complicada. Então eu via a minha filha, que tem apenas 4 anos de idade, com certa dificuldade de desenvolvimento na Coréia. Acho que essa foi a maior influência para eu querer voltar ao Brasil.
E como a sua filha tem se adaptado aqui?
Está muito bem adaptada a Belo Horizonte. Ela nasceu no México (quando Edcarlos defendia o Cruz Azul), e agora tem o sotaque muito mais mineiro do que baiano. Até porque a minha esposa é de Viçosa. Essa batalha eu perdi. Ela fala mais “uai” do que qualquer outra coisa (risos).