O treinador do Shakhtar Donetsk, Mircea Lucescu, utilizou o site oficial do time para criticar o meia-atacante Bernard. O romeno se mostrou incomodado com o "sumiço" de Bernard, que não aparece no clube há três meses, e reclamou da relação do ex-atleticano com os companheiros de grupo.

"Eu ainda não tinha encontrado nenhum outro jogador que não confraternizasse com ninguém da equipe - nem brasileiros, nem ucranianos. Com ninguém. A sensação que dá é que ele é um jogador de Twitter e das redes sociais. Aí ele contata os fãs. Mas, ao mesmo tempo, não se comunica com a sua equipe, que é quem lhe paga o salário, e que não é nada pequeno. Estou surpreso com o comportamento dele", afirmou o treinador, que disse nunca ter visto algo parecido.

"O comportamento dele é simplesmente inexplicável. Em 40 anos da minha carreira de treinador, eu nunca tinha me deparado antes com uma situação como esta. Nós nos separamos de Bernard no dia 15 de maio, após a final da Copa (da Ucrânia). Permitimos que ele fosse para casa mais cedo do que todos os outros. Pois agora já vai fazer quase três meses que a gente não o vê. E em todo esse tempo, ele continua recebendo o salário do seu contrato. E eu, como seu treinador, nunca recebi dele nenhum telefonema, nenhum ‘parabéns’ pela (conquista da) Supercopa da Ucrânia, nem mesmo palavras de ânimo sobre os outros jogadores", declarou.O treinador prevê um período ainda maior sem Bernard, já que conta com uma convocação do jogador para a Seleção Brasileira. Segundo Lucescu, assim que aparecer Bernard será multado pelo período longe do clube.

Se Bernard assumir uma postura mais séria e voltar para o clube que assinou com ele por cinco anos, então talvez algo mude. Mas eu não sei quando ele vai aparecer. E, se aparecer, então vai embora na semana seguinte para defender a seleção nacional e voltará a estar ausente. E novamente não vai se preparar para a Champions League. Do meu ponto de vista, isso é inqualificável. E, digo mais, ele é o brasileiro mais bem pago da nossa equipe. Sabe que será punido, embora eu nunca antes tenha feito isso. Eu lhe dei tempo para se adaptar. Pensei que ele queria entender todos os outros, entender o que é este campeonato no qual ele joga", disse.

Na opinião de Lucescu, a parte financeira foi o principal atrativo a Bernard, que deixou o Atlético-MG rumo à Ucrânia após a conquista da Copa Libertadores de 2013.

"Eu chamei a atenção dele para que pensasse muito bem antes de assinar o contrato. Talvez eu até tenha mesmo ido contra os interesses do clube naquele momento. Ele não me escutou, assinou o contrato, provavelmente para receber dinheiro. E, como resultado, a gente o viu muito pouco aqui. Bernard é um jogador talentoso, com boas qualidades futebolísticas, mas o mais certo é que não seja para o Campeonato Ucraniano. Talvez o lugar dele seja na Europa Ocidental ou no Brasil", afirmou.Bernard deixou claro seu temor por causa dos conflitos na Ucrânia antes da Copa do Mundo, quando revelou planos para fugir do país em caso de agravamento da tensão que opões cidadãos pró e contra Rússia. No mês passado, cinco jogadores brasileiros - Alex Teixeira, Douglas Costa, Fred, Isamaily e Dentinho - e um argentino - Facundo Ferreyra (que se transferiu para o Newcastle recentemente) - aproveitaram um amistoso na França e não voltaram à Ucrânia. A situação só foi resolvida após muita negociação.

"O que aconteceu neste verão será uma grande lição de vida para os brasileiros. Eles vão tirar conclusões. Aqueles oito dias da primeira concentração da pré-temporada, quando eles não apareceram. Tenho a certeza de que isso aconteceu sob a pressão dos agentes deles. A mesma coisa aconteceu depois do jogo contra o Lyon, quando eles não voltaram com a gente para a Ucrânia. E o que me parece é que depois os agentes os liberaram. Os jogadores acabaram voltando para o clube e estão aqui conosco. Eles perceberam que não retiram nada dessa situação, que têm um compromisso. Agora eles precisam se esforçar ao máximo para se reabilitar perante os demais jogadores", disse Mircea Lucescu.

O treinador do clube ucraniano admitiu que ainda cogita negociar os jogadores brasileiros, que temem por sua segurança. Como medida preventiva, o Shakhtar transferiu sua sede de Donetsk, uma das regiões mais atingidas pelos conflitos, para a capital Kiev.

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