Citados por Perrella, Athletico-PR e Bahia têm folha salarial três vezes menor que a do Cruzeiro

Guilherme Piu
12/10/2019 às 14:15.
Atualizado em 05/09/2021 às 22:11
 (Bruno Haddad/Cruzeiro)

(Bruno Haddad/Cruzeiro)

Na Série A ou na Série B. Independentemente da divisão que jogar em 2020 o Cruzeiro, que luta contra o rebaixamento no Campeonato Brasileiro nesta temporada, já tem uma certeza: precisará diminuir (e muito) sua folha salarial e os gastos, não só do futebol, mas também os administrativos, por causa da gravíssima crise financeira pela qual passa o clube.

Novo gestor do departamento de futebol da Raposa Zezé Perrella, que presidiu a agremiação estrelada entre 1995 e 2002 e depois entre 2009 e 2011, conhece bem os bastidores dessa modalidade do esporte. E foi dele mesmo a análise que indicou qual será o futuro do clube nos próximos anos. 

Mesmo que rasa e sem qualquer número apresentado de forma concisa, Perrella tocou no assunto em sua coletiva de apresentação, na última sexta-feira, na Toca II. Na visão do treinador é preciso compreender o mercado e pegar exemplos de outros clubes que fazem um bom trabalho com elencos mais baratos, mas que dão retorno com conquistas sem "enforcar" o caixa.

"Acho que dá para você, com inteligência, montar um elenco mais barato e qualificado. Prova disto é o Athletico Paranaense. Não sei quanto é a folha deles, mas provavelmente é a metade da nossa. Você vê que o próprio Bahia está em uma posição melhor do que a nossa com um elenco infinitamente mais barato. Nós sabemos que não vamos poder manter um grande time com salários baixos. O Cruzeiro não é time para isso. Mas eu tenho comigo que dá para reduzir bastante", disse.

O Hoje em Dia traz à tona alguns números que faltaram ao dirigente cruzeirense em sua coletiva de apresentação. Segundo dados oficiais aos quais a reportagem teve acesso, a folha salarial do Cruzeiro, baseando-se somente nos valores pagos pela Consolidação das Leis Trabalhistas (CLT), é quase três vezes a do Athlético-PR e a do Bahia. 

Sem contar os atletas que estão emprestados a outros clubes o Cruzeiro paga na CLT para o seu elenco o equivalente a R$ 7, 3 milhões. O Athletico-PR gasta R$ 2,75 milhões e o Bahia R$ 2,8 milhões. 

O maior salário pago pelos paranaenses na carteira de um atleta é de R$ 160 mil. E o maior vencimento pago a um jogador do Cruzeiro daria para pagar cinco vezes o atleta mais caro do elenco atleticano. O jogador que recebe o maior salário em carteira no Cruzeiro embolsa R$ 800 mil mensais. 

Já o Bahia gasta com o seu maior salário do elenco quase R$ 240 mil (R$ 239,5 mil), valor maior do que o pago pelo clube de Curitiba, e pouco mais de três vezes menor do que o montante que o Cruzeiro gasta com apenas o jogador que recebe o maior pagamento mensal em carteira. 

Gasto até o fim do ano

Até o fim do ano o Cruzeiro pagará ao seus atletas quase R$ 30 milhões, contando que deverão ser quitados três salários mensais (outubro, novembro e dezembro) mais o 13º, cobrado em cima do que o jogador recebe na carteira.

O Athletico-PR gastará no mesmo período R$ 11 milhões e o Bahia R$ 11,3 milhões, valores bem próximos os desses clubes, mas bem distantes daquele que o Cruzeiro paga. 

Diferença além dos salários

Cruzeiro, Bahia e Athletico-PR se diferem também em seus métodos de gestão. Baianos e paranaenses têm sido bastante elogiados nos últimos anos pela política austera e responsável com os gastos. Tanto que os resultados dentro de campo, também, aparecem muito pelo que é feito fora das quatro linhas.

O Athletico-PR foi campeão da Copa Sul-Americana no ano passado e venceu a Copa do Brasil de 2019, colhendo frutos de uma montagem inteligente de elenco e do planejamento financeiro adequado. 

Só com a venda do lateral-esquerdo Renan Lodi, a maior da história do Athletico-PR, rendeu aos cofres do clube o equivalente a R$ 87 milhões. Além das participações seguidas em Copas Libertadores da América, que aumenta as receitas pelos valores pagos pela Conmebol e nas arrecadações com bilheterias em jogos internacionais. 

No Campeonato Brasileiro, mesmo dando atenção a outras competições nesta temporada, o Athletico-PR ostenta a nona colocação. 

Já o Bahia, por meio do seu presidente Guilherme Bellintani, arrecadou o equivalente a R$ 50 milhões com venda de jogadores entre dezembro de 2017 e julho deste ano. Números que auxiliam o Tricolor de Aço na manutenção de um elenco cada vez mais competitivo. 

Com um elenco equilibrado tecnicamente o Bahia ocupa até a 24ª rodada a oitava posição no Campeonato Brasileiro. 

Realidade inversa

O Cruzeiro vive realidade inversa. A atual diretoria transformou o clube em um "cabide de empregos" remunerando conselheiros por meio de prestações de serviços com valores acima do mercado.

Um conselheiro, que já não faz mais parte da folha de pagamento do clube, recebia sozinho um salário de R$ 125 mil. Dado apresentado em uma sindicância interna que também apontou que só em abril de 2019 o Cruzeiro pagou R$ 20 milhões em salários, contando encargos sociais, direitos de imagem e pagamentos a conselheiros por meio de acordos de pessoas jurídicas com o clube. 

Pagamentos de salários pela CLT

Cruzeiro

Folha mensal: R$ 7.300.749 milhões
Maior salário: R$ 800 mil (por mês) 
Menor salário: R$ 5 mil (por mês)

Athletico-PR

Folha mensal: R$ 2.750.490 milhões
Maior salário: R$ 160 mil
Menor salário: R$ 3 mil

Bahia

Folha mensal: R$ 2.831.957 milhões
Maior salário: R$ 239,5 mil
Menor salário: R$ 2 mil

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