"Clássico dos boletins de ocorrência" continua nos tribunais

Rodrigo Rodrigues/a> - Hoje em Dia
20/10/2013 às 07:38.
Atualizado em 20/11/2021 às 13:29

Neste domingo (20), completam-se sete dias que o último clássico entre Atlético e Cruzeiro terminou. Em campo, o Galo levou a melhor sobre a Raposa, por 1 a 0, com o golaço de Fernandinho. Fora dos gramados, a batalha entre os rivais mineiros está apenas começando.   As imagens da briga generalizada provocada por integrantes das organizadas Máfia Azul e Pavilhão Independente, bem como a conduta inconveniente dos cruzeirenses no Independência, correram o país e serão julgadas pelo Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD), na próxima quinta-feira.   Com isso, ambos os clubes correm o risco de levar uma pena severa, e serem prejudicados na reta final do Campeonato Brasileiro, sobretudo o time da Toca, que briga pelo título.   Denunciados no artigo 213 do Código Desportivo de Justiça Desportiva (CBJD), Atlético e Cruzeiro podem ser multados (de R$ 100 a R$ 100 mil) e perder mando de campo por até dez partidas.   Embora a torcida atleticana não tenha responsabilidade nos incidentes do Horto, a culpa recai sobre o Galo por ter sido o mandante do confronto. Como tal, “deveria tomar providências capazes de prevenir e reprimir desordens no estádio, invasão de campo e lançamentos de objetos”.   Boletim “azul”   Talvez amparada neste artigo do CBJD, a Raposa agiu rápido para tentar se eximir de qualquer responsabilidade nos lamentáveis incidentes. Quando o cronômetro do árbitro Luiz Flávio de Oliveira marcava 15 minutos de partida, um representante do clube estrelado “correu” à delegacia do estádio e registrou um Boletim de Ocorrência (BO).   No relato às autoridades, o funcionário do Cruzeiro “põe” a culpa da confusão na Polícia Militar (veja quadro à esquerda), conforme Registro de Eventos de Defesa Social (Reds) 2013 – 021117233-001, ao qual a reportagem do Hoje em Dia teve acesso. De quebra, “joga” a responsabilidade para o alvinegro, por ser o responsável pela organização do evento.   Apesar da comprovada existência do documento, o diretor de comunicação da Raposa, Guilherme Mendes, nega o fato. “O Cruzeiro não registrou nenhum Boletim de Ocorrência. Garanto que não há nenhum funcionário no clube com esse nome (do responsável pela ocorrência)”, afirma.   No entanto, no próximo dia 24, este BO será uma das armas que o departamento jurídico cruzeirenses apresentará ao STJD para se livrar do gancho.   O Atlético também tentou se resguardar. Às 18h21, 32 minutos após o apito final de Luiz Flávio de Oliveira, um conselheiro do clube também foi à delegacia. À polícia, ele relatou a confusão provocada pelos torcedores cruzeirenses, além do arremesso de diversos objetos no local reservado aos sócios do programa “Galo na Veia Black”.   Outras ocorrências   No mesmo dia, pelo menos outros sete Reds foram feitos no estádio, e constam nos registros da Delegacia Especializada em Atuação em Grandes Eventos.    Apesar de a confusão antes do jogo ter sido tratada pela PM como “briga generalizada”, apenas dois homens foram detidos. Um outro indivíduo agrediu um policial, enquanto quatro homens foram flagrados arremessando objetos nos atleticanos. Todos, contudo, foram liberados.   Autoridades sabiam do risco de briga   Quem assistiu às imagens da briga no Independência, no último domingo, certamente se surpreendeu com a violência entre torcedores de um mesmo clube. Apesar disso, não é nenhuma novidade para as autoridades em Minas Gerais, que as organizadas Máfia Azul e Pavilhão Independente, há tempos, vêm protagonizando cenas de violência nos jogos do Cruzeiro.   A Pavilhão, fundada em 1997, é uma dissidência da Máfia Azul, criada em 1977. Desde então, a paixão pelo time da Toca ficou em segundo plano. O que vale para parte dos membros das duas facções é resolver as “diferenças” nos mesmos moldes do período medieval, colocando em risco a vida de quem estiver por perto, envolvido ou não nas “batalhas”.   Omissão?   A cada incidente, um grupo atribui ao outro a responsabilidade pelas desavenças. As autoridades, por sua vez, embora admitam que “são sempre os mesmos”, não tomam atitude para pôr fim ao problema.   “Temos duas gangues no meio de pessoas do bem. Precisamos dar um basta nisso. Isso é caso de polícia, tem de prender. A Justiça tem de julgar. Aqui vai um apelo à polícia, eles sabem quem são. Essas pessoas já tumultuaram várias vezes. Infelizmente, não será a última”, cobra o diretor de futebol do Cruzeiro, Alexandre Mattos.   Somente este ano, as facções se envolveram em pelo menos quatro brigas generalizadas, nas partidas contra Flamengo, Vasco, São Paulo e Atlético.    Cronologia
  16h08 - Cruzeirense Douglas C. S. F., 20 anos, detido por jogar um copo de água vazio e um vidro de cola na torcida do Atlético. 16h15 - Representante do Cruzeiro faz Reds (2013-021117233-001). Histórico da ocorrência: “(...)Foi visualizado que antes do início da partida, no setor onde fica a torcida visitante, haviam apenas quatro policiais militares e que por haver uma rixa antiga entre as torcidas organizadas Máfia Azul e Pavilhão Independente, houve grande confusão neste setor. As torcidas se agrediram mutuamente, sem nenhuma intervenção da polícia, trazendo transtornos para os demais torcedores que não faziam parte das organizadas. Diante dos fatos, solicita e espera providências”. 16h17 - Cruzeirense Eros D. B., 34 anos, detido por participar da briga entre as organizadas. 16h48 - Torcedor Davidson M. S., 33 anos, detido portando três bombas tipo “garrafão”. 17 horas - Cruzeirense Paulo H. A. C., 27 anos, detido por agredir um policial e por desacato. 17h08 - Cruzeirense Welbert C. S., 28 anos, detido após arremessar um copo de água vazio na torcida do Atlético. 17h16 - Cruzeirense Bruno C. B.., 24 anos, detido por participar da briga entre as organizadas. 17h43 - Cruzeirense Wellington M. C. J.,32 anos, detido por cuspir na torcida do Atlético. 18h21 - Representante do Atlético faz Reds (2013-021123503-001). Histórico da ocorrência: “(...) Compareceu à unidade policial o representante legal do Clube Atlético Mineiro para relatar que: houve antes do início da partida conduta inconveniente de parte da torcida do Cruzeiro que, segundo ele, se tratavam das torcidas organizadas Máfia Azul e Pavilhão Independente, que se enfrentaram dentro do estádio. Houve arremesso de diversos objetos, cuspe, pedra, celular, pilha, no setor reservado à torcida do Atlético Galo na Veia, e solicitou desde o início apoio da PM para atuar neste setor.   STJD, UM TRIBUNAL COM DOIS PESOS E DUAS MEDIDAS QUANDO SE TRATA DE BRIGA DE TORCIDAS DENTRO DOS ESTÁDIOS   9ª Rodada – 28/7 – Grêmio x Fluminense Uma briga da torcida do Grêmio com a Brigada Militar é registrada na súmula. Apenas um torcedor é preso. Punição do Grêmio: 20 mil reais de multa.   16ª Rodada – 25/8 – Vasco x Corinthians As torcidas dos dois clubes se enfrentam nas cadeiras do Mané Garrincha, em Brasília. A briga não é citada na súmula por Heber Roberto Lopes, mas os dois clubes são denunciados com base nas imagens. Punição do Vasco: Perda de quatro mandos de campo mais uma multa de R$ 50 mil. Punição do Corinthians: Perda de quatro mandos de campo mais uma multa de R$ 80 mil.   21ª Rodada – 15/9 – Grêmio x Atlético Pouco mais de um mês depois da pancadaria no jogo contra o Fluminense, nova briga no setor da Torcida Geral, do Grêmio. As imagens são mostradas na televisão, mas o clube, que seria reincidente, não é denunciado pela Procuradoria do STJD. Punição do Grêmio: Não houve denúncia, apesar de as imagens terem sido mostradas na televisão.   23ª Rodada – 22/9 – Goiás x São Paulo Torcedores dos dois times brigam nas arquibancadas nos dois tempos. As imagens são mostradas na televisão, mas eles não são denunciados. Na súmula do árbitro Paulo Henrique Godoy Bezerra existe referência apenas ao uso de laser pela torcida goiana. Punição do Goiás: Perda de um mando de campo mais uma multa de R$ 10 mil por causa do laser. Não foi julgado pela briga entre torcedores. Punição do São Paulo: Não foi julgado pela briga entre torcedores.   26ª Rodada – 6/10 – Atlético-PR x Coritiba O Atlético-PR é denunciado pela briga de torcedores no intervalo, que necessitou da intervenção da PM com tiros de bala de borracha, pela queda de um alambrado, que atrasou o jogo em 12 minutos, e pelo arremesso de um isqueiro no gramado por um torcedor.  Punição do Atlético-PR: Perda de dois mandos de campo, por causa da briga, e multa de R$ 12 mil, por causa do atraso do jogo.   Casos a serem julgados   28ª Rodada – 13/10 – Atlético x Cruzeiro Na súmula, o árbitro relata a briga entre torcedores do Cruzeiro. A denúncia do STJD fala em “selvageria e total desordem” e no lançamento de artefatos explosivos. Os dois clubes serão julgados. Pena: Perda de um a dez mandos de campo e multa de R$ 100 a R$ 100 mil.   28ª Rodada – 13/10 – São Paulo x Corinthians Na súmula, é citada a briga da torcida do São Paulo com a Polícia Militar, mas os dois clubes foram denunciados pela Procuradoria do STJD, pois segundo a PM, a torcida corintiana atirou bombas no intervalo da partida. Pena: Perda de um a dez mandos de campo e multa de R$ 100 a R$ 100 mil.

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