Historicamente, os últimos dias do ano costumam ser agitados no mercado do futebol, com várias negociações de compra, venda e empréstimo de jogadores. Esse ano, no entanto, o que se vê é uma calmaria incomum, com pouquíssimas transações, que terá reflexos na temporada 2014.
Por enquanto, entre os quatro grandes clubes de São Paulo, o único que fez uma contratação de impacto foi o Santos. O atacante Leandro Damião, porém, só chegou à Vila Belmiro porque o fundo de investimentos Doyen Sports pagou R$ 41 milhões ao Internacional. O balanço financeiro para 2014 prevê que o clube poderá gastar no máximo R$ 3,6 milhões em contratações. Por isso, o Santos aposta em parcerias.
No São Paulo, nem a má campanha no Campeonato Brasileiro animou o presidente Juvenal Juvêncio a abrir os cofres para trazer grandes reforços. A diretoria sonha com nomes como Vargas, Jucilei e Rafael Sobis, mas esbarra nas questões financeiras para viabilizar os acordos e se nega a gastar quantias vultuosas. "Estamos atrás de algumas coisas, mas nos termos em que estão sendo postas elas fogem da nossa política e não aceitamos isso", explica o vice-presidente de futebol João Paulo de Jesus Lopes.
Juvenal prometeu um time forte em 2014, mas se assustou com os R$ 500 mil mensais que Sobis ganha no Fluminense e já descartou pagar os R$ 16,2 milhões pedidos pelo Anzhi para liberar Jucilei. Enviado à Europa para negociar, o diretor executivo Gustavo Vieira de Oliveira tenta obter um desconto. Dentro do Morumbi há a certeza de que o ano que vem será muito difícil para o futebol brasileiro e que apenas em 2015 a situação começará a melhorar. A avaliação é que o calendário espremido por causa da Copa do Mundo espantará os investidores e patrocinadores.
No Corinthians, a diretoria resolveu controlar os gastos porque já prevê que sofrerá com queda de receitas de televisão e, principalmente, de bilheteria. No orçamento para 2014, a previsão de arrecadação com renda de jogos é de R$ 12 milhões. É uma estimativa conservadora e o valor deve subir, mas não a ponto de igualar 2013 (R$ 28 milhões até setembro, último dado divulgado). O Corinthians está fora da Libertadores pela primeira vez desde 2010. Esse também é um dos motivos de o time gastar menos para reforçar o elenco com nomes de peso.
O dinheiro que o clube separou para 2014 para gastar com jogadores é de R$ 10 milhões (neste ano foi investido R$ 60 milhões). Para ultrapassar esse teto de R$ 10 milhões é preciso vender algum atleta ou obter ajuda de investidores, o que até agora ainda não aconteceu. O único reforço certo para 2014 é o lateral-esquerdo Uendel, da Ponte Preta, que custou R$ 4 milhões.
Sem patrocinador desde maio, o Palmeiras também tem enfrentado dificuldade para contratar. O presidente Paulo Nobre resolveu adotar a política de oferecer contratos por produtividade. Ou seja, a um valor fixo não muito alto serão adicionados bônus por metas. Até agora, apenas o atacante Rodolfo, de 20 anos, do Rio Claro, aceitou a oferta do dirigente.
O empresário Wagner Ribeiro aponta a falta de opções como justificativa para a queda no número de transações. "Um grande clube de São Paulo me pediu um camisa 9 bom e barato. No Brasil, não temos nenhum jogador assim. Quem está na Europa ou não quer voltar ou pede muito alto", avalia.
Para o também empresário Marcelo Robalinho a atual conjuntura é desfavorável. "Nenhum dos grandes clubes de São Paulo disputará a Libertadores no próximo e a valorização do Euro frente ao Real encareceu demais o mercado. É preciso levar em conta também muitos clubes não quiseram vender seus jogadores no meio do ano. Agora, estão sem dinheiro para contratar."