COI não quer comprar briga com militares por causa da continência no pódio

Jamil Chade, Nathalia Garcia e Paulo Favero
Hoje em Dia - Belo Horizonte
05/08/2016 às 18:51.
Atualizado em 15/11/2021 às 20:11

(Divulgação)

As cenas de atletas brasileiros no pódio, fazendo o sinal da continência, que ocorreu muitas vezes nos Jogos Pan-Americanos de Toronto, no ano passado, devem se repetir na Olimpíada do Rio de Janeiro. Mas este gesto militar constrange o Comitê Olímpico Internacional (COI), que em sua regra 50 diz que é proibido "qualquer manifestação de propaganda política, religiosa ou racial dentro das áreas olímpicas".

Oficialmente, esportistas que usem o pódio para fazer um gesto político ou de referência ao patrocinador podem ser suspensos, multados e até perder medalhas. Em 1968, Tommie Smith foi obrigado a devolver sua medalha depois que fez o gesto do movimento Black Power ao vencer sua prova nos Jogos. Nos bastidores, porém, o COI não quer comprar briga com os militares e seus atletas no Brasil.

Um dos pontos que fazem o COI evitar o conflito neste momento é que foram as Forças Armadas que salvaram parte dos organizadores do Jogos ao assumir o controle das entradas de instalações às vésperas do evento. Os militares, ao assumirem também toda a responsabilidade de segurança sem custos para os organizadores, passaram a ter prestígio dentro do COI.

Em 2015, na época do Pan de Toronto, a reportagem do jornal O Estado de S.Paulo questionou o COI sobre o gesto militar feito pelos atletas brasileiros durante a competição. Na época, a entidade indicou que esse não seria um evento do COI e que, portanto, não lhes caberia comentar.

Agora, o departamento de Comunicação do COI se limita a dizer que "nos Jogos Olímpicos, o COI vai sempre ter um bom senso ao analisar caso a caso as tais saudações militares. Claro que, neste momento, isso é apenas um cenário hipotético", explicou em nota.

Só que a situação hipotética do COI tem tudo para se tornar realidade. Dos 465 atletas do Time Brasil, 145 são atletas militares. E muitos já avisaram que pretendem fazer a continência caso ganhem alguma medalha. É o caso, por exemplo, da esgrimista Amanda Simeão. "Todo soldado brasileiro tem de prestar continência para a bandeira. É obrigatório. Se minha bandeira subir, vou fazer isso. É uma forma de respeito, que precisa ser vista de forma positiva, não como algo político", diz.

Segundo as Forças Armadas, que anualmente investem aproximadamente R$ 15 milhões em salários para os atletas militares de alto rendimento com recursos do Ministério da Defesa, o gesto no pódio não é obrigatório. "Não há nenhuma recomendação por parte das Forças Armadas para que os atletas prestem continência. O ato é uma iniciativa dos próprios atletas, sendo visto como forma de respeito e saudação por parte dos militares", afirmou em nota.

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