Corte e trocas deixam Inter perto da série B

Guilherme Seto
esportes@hojeemdia.com.br
10/12/2016 às 15:40.
Atualizado em 15/11/2021 às 22:01
 (Flávio Tavares/Hoje em Dia)

(Flávio Tavares/Hoje em Dia)

O enxugamento nos gastos com futebol, a saída de jogadores de referência na passagem de 2015 para 2016 e escolhas de técnicos muito díspares entre si ajudam a explicar a decadência do Internacional. O clube está à beira do  primeiro rebaixamento no Brasileiro de sua história. Neste domingo (11), a equipe gaúcha precisa vencer o Fluminense no Rio, às 17h, e torcer para que o Sport no máximo empate com o já rebaixado Figueirense para se livrar do rebaixamento. Outra chance é que o Vitória perca para o Palmeiras na Bahia e o Inter ganhe e ainda tire diferença de cinco gols no saldo. Elevado à condição de modelo de gestão na década passada, cujo ápice aconteceu em 2006, com a conquista do Mundial de Clubes, o clube estribou seu crescimento em um programa de sócio-torcedor com muitos participantes, quando a ferramenta ainda era pouco  explorada pelos rivais do país. Criado em 2003, o programa teve "boom" três anos depois, na Libertadores. Já em 2009 ultrapassou marca de 100 mil torcedores. Além do dinheiro proveniente dos sócios, o clube gaúcho se tornou prodigioso em revelar jogadores e vendê-los por boas quantias. Da base saíram nomes como Nilmar, Daniel Carvalho, Taison e Pato. Com o caixa recheado, o Internacional passou as últimas temporadas com algumas das folhas salariais mais altas do Brasil. Passaram pelo Beira-Rio sem deixar saudades o uruguaio Diego Forlán (2012) e os argentinos Scocco (2013, com gasto de cerca de R$ 15  mi) e Bolatti (2011, que custou cerca de R$ 9 mi). Em sua atual gestão à frente do Inter, iniciada em 2015, o presidente Vitorio Piffero adotou como diretriz o enxugamento dos gastos no futebol. Em 2015, reduziu a folha salarial em cerca de R$ 9 milhões em relação a 2014, baixando-a para R$ 4 milhões. A  título de comparação, a do Palmeiras, campeão, é de cerca de R$ 10 milhões. As saídas de atletas caros como Dida, Juan, Wellington, Lisandro López e D'Alessandro no final de 2015 ajudaram a economizar. O time, porém, não encontrou reposição técnica no elenco. Contratações mais caras, como o meia Anderson e o atacante uruguaio Nico López ainda não deram o retorno esperado. No restante, o time titular é composto por atletas de carreiras irregulares e que foram contratados a baixo custo, como Ernando, Paulão e  Anselmo. Oriundos da base, os jovens William, Dourado e Valdívia tiveram dificuldade nesse momento de pressão. "Essa gestão recebeu um novo estádio pronto e quitado e cometeu erros sem parar. Eles vendem que equilibraram as contas, mas não é verdade. Preferiram mandar embora o D'Alessandro, que jogava bem, tinha liderança e carisma, para trazer o Anderson para  ganhar a mesma coisa", avalia Giovanni Luigi, ex-presidente do Inter. Por fim, à equação da austeridade e do elenco desequilibrado acrescentam-se as seguidas escolhas pouco coerentes de treinadores. Após seis jogos sem vitórias no Brasileiro, Argel foi demitido e o ídolo do clube Falcão foi chamado para o lugar. O contraste não poderia ser maior. Adepto do futebol bonito que praticava como jogador, Falcão se viu diante de uma equipe que passou um ano ouvindo instruções para se defender a todo custo. Após um mês sem vitórias, foi demitido. Com o time na 13ª colocação, os cartolas decidiram trazer um treinador com perfil parecido ao de Argel. Apostaram em Celso Roth. Com escalações controversas, jogadores perdidos em campo e estratégias surradas, como a "ligação direta", o Inter despencou na tabela. Com dez derrotas, seis empates e seis vitórias, foi demitido com o time na 17ª colocação. A escolha final foi de nítido desespero. Neto e filho de ex-goleiros do clube, Lisca foi aposta mais sentimental que tática. Com a corda no pescoço, os dirigentes torcem para que o treinador consiga motivar os atletas e assim evitar o desastre anunciado.Com queda iminente, clube tentou tapetão  "Não tenho problema em ter fama de usar o tapetão". A frase de Fernando Carvalho, ex-presidente e atual vice-presidente de futebol do Inter, dita à ESPN Brasil, resume bem a ansiedade por que passam os dirigentes colorados às portas da Série B. Desde o acidente com a Chapecoense, que adiou o fim do Brasileiro para este domingo, os cartolas do clube foram infelizes em mais de uma oportunidade. Primeiro, Carvalho reclamou do adiamento, dizendo que o Inter também tinha sua "tragédia particular", analogia rechaçada até pela torcida colorada. "Em nenhum momento foi minha intenção comparar a tragédia com a situação do Internacional no Brasileiro", retratou-se em nota no mesmo dia. No seguinte, o Inter enviou um documento de 42 páginas ao STJD (Supremo Tribunal de Justiça Desportiva) acusando o Vitória de escalar irregularmente o zagueiro Victor Ramos. Na oportunidade, o presidente do clube, Vitorio Piffero, disse não haver mais clima para futebol em 2016 e que "o Inter tem, entre todos os clubes, mais condições de postular [algo nos tribunais]. Tomaram nosso campeonato em 2005 na Justiça", disse ele,  que depois foi hostilizado na Arena Condá durante o velório coletivo em Chapecó. Na quinta (8), o STJD arquivou o pedido do Inter contra o Vitória. Na sexta (9), a CBF denunciou o clube ao STJD por supostamente usar documentos falsos nas denúncias.

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