Entrevista

‘As atletas olham para mim como referência’, diz Byanca Brasil, craque feminina da Raposa

A estrela que inspira uma nova era no futebol feminino fala sobre a adaptação ao Cruzeiro

Angel Drumond
esportes@hojeemdia.com.br
Publicado em 11/11/2024 às 07:30.

Byanca Brasil, atacante de 28 anos e principal referência do futebol feminino do Cruzeiro, é uma atleta consolidada como um dos grandes nomes da modalidade no país. Com passagens por 12 clubes e conquistas expressivas, incluindo dois títulos de Libertadores e uma Copa do Brasil, a camisa 10 representa a força e a resiliência das jogadoras que abriram caminho em um cenário antes marcado pelo descaso e pela falta de estrutura.

Desde a chegada à Raposa, Byanca se destacou pela liderança e habilidade em campo. No primeiro ano, ajudou o clube a alcançar a fase de mata-mata do Brasileirão feminino, feito inédito para o time, que acabou se repetindo neste ano, além de liderar a equipe na conquista do Campeonato Mineiro, rompendo com a hegemonia do Atlético. A atacante também será peça fundamental na disputa da fase final do Campeonato Estadual deste ano. 

Ao longo da trajetória, Byanca presenciou o crescimento do futebol feminino e enfrentou dificuldades que moldaram a carreira. A atleta relembra os tempos de descaso e estrutura precária, contrastando com o atual cenário em que, ao lado de jogadoras como ela, o futebol feminino finalmente recebe o espaço e reconhecimento que merece.

Nesta entrevista ao Hoje em Dia, Byanca compartilha histórias de luta, superação e os aprendizados de uma trajetória que inspira as futuras gerações de jogadoras, reforçando seu compromisso com o crescimento do futebol feminino e o projeto do Cruzeiro.

Byanca, você chegou ao Cruzeiro em um momento de transição para o futebol feminino. Como foi a adaptação ao ambiente e quais foram os principais desafios que você enfrentou?

Foi muito fácil me adaptar, me senti muito abraçada. Me identifiquei muito rápido com o clube e com a torcida. Conseguimos números muito importantes no Campeonato Brasileiro, em dois anos seguidos. Chegamos nas quartas de final e conquistamos o Campeonato Mineiro, que estava alguns anos já sem vencer, batendo na trave, então foi muito importante e foi muito fácil a adaptação porque a estrutura que me prometeram realmente entregaram. Precisamos ficar brigando por coisas tão pequenas e coisas tão básicas que o futebol feminino não tem, então hoje, no Cruzeiro, consigo viver isso, mas obviamente tenho consciência que isso não é para o Brasil inteiro, não é para todos os times, e a gente segue na luta buscando uma igualdade.

Como você se sente sendo a referência do ataque do Cruzeiro e qual é a importância desse papel para você, tanto dentro quanto fora de campo?

Me sinto honrada e muito feliz. Acho que é fruto de muito trabalho. Sei que isso traz muita responsabilidade. Acho que não só dentro do campo, mas fora dele, e o quanto as atletas também olham para mim como referência. Eu sei deste meu lugar e me sinto honrada. Sei que me admiram, que esperam tanto de mim, então acho que estou no caminho certo e que com certeza a gente vai buscar grandes conquistas. Todas juntas, vamos fazer a diferença.

A torcida do Cruzeiro tem uma grande paixão pelo clube. Como você percebe a relação da torcida com a equipe feminina e qual o impacto disso nas suas atuações?

Particularmente sinto mais pelas redes sociais, porque é onde eu tenho mais contato. Nos jogos deste ano, a gente está com mais torcida e isso facilita muito. O jogo fica diferente quando temos a torcida a nosso favor, e obviamente dá muito mais ânimo. O meu maior sonho é ter um Mineirão lotado em um jogo do futebol feminino, todos assistindo, nos apoiando. Tenho certeza que este dia não está distante. Isso vai mudar muito o patamar do futebol feminino, e que não seja somente na final do Mineiro, não só em um jogo decisivo do Brasileiro, mas que a gente tenha eles sempre conosco. Espero de verdade que a gente consiga conquistar o respeito da torcida, e que eles consigam ir mais vezes nos nossos jogos.

Você já conquistou títulos importantes em sua carreira, como a Libertadores e a Copa do Brasil. Quais são as expectativas em relação às próximas conquistas e o que isso representaria para o Cruzeiro?

Acho que todo o título é muito especial, mas obviamente acho que nunca tive tanta conexão com uma torcida e com um clube como eu tenho aqui no Cruzeiro. Sempre ressalto isso e falo com muito orgulho nas minhas entrevistas. Realmente me identifiquei muito com o clube e espero fazer história. Sei que o que marca realmente o atleta no clube são os títulos e tudo que a gente deixa em campo. Como legado, espero conseguir construir o meu com muita lealdade, muita humildade. 

Com a evolução do futebol feminino no Brasil, como você vê a estrutura que o Cruzeiro oferece comparada a outros clubes onde você passou? O que isso significa para o desempenho da equipe?

Acho que a estrutura do Cruzeiro é diferente de tudo que eu já tive no futebol feminino. Hoje treinamos na Toca II, que é onde o masculino treina. Então, as duas equipes profissionais do clube estão no mesmo lugar. Tem a questão de alimentação, questão de campo, estrutura de academia, fisioterapia, todos os profissionais que a gente tem: nutricionista, fisiologista, preparador físico, preparador de goleiras. Acho que isso é muito importante e realmente faz diferença para a gente dentro do campo. Me sinto muito mais pronta. Você se sente mais à vontade para se preocupar realmente em jogar futebol. Acho que isso é o pontual aqui do Cruzeiro.

Quais metas você estabeleceu para a sua segunda temporada com a camisa do Cruzeiro, especialmente agora que você já teve um ano de sucesso?

Estou no meu segundo ano de Cruzeiro, terminando, e obviamente o Campeonato Brasileiro não foi do jeito que planejei, no meu caso, fiquei fora de dois jogos, nas quartas de final, onde poderia ajudar muito o time. Tenho total consciência disso, mas a gente não tem como prever o futuro, não sabia que poderia me machucar, mas é uma coisa que acontece, somos atletas, e a gente chega no limite do nosso corpo. Sei que a gente tem um Campeonato Mineiro em disputa, e estamos muito bem na semifinal. O bicampeonato é possível. Estamos com um time muito mais preparado, com muito mais casca. Estamos conseguindo entender melhor o trabalho e tudo que o Jonas (treinador) quer da gente dentro de campo, então o time está cada vez mais entrosado.

A conquista do Campeonato Mineiro foi um grande passo para o Cruzeiro. Como você avalia a importância desse título? É possível conquistar o bi para a equipe?

A possível conquista do Mineiro vai ser muito importante para a gente. Sabemos da importância do nosso Campeonato Estadual. Conseguimos grandes resultados no Campeonato Brasileiro, obviamente a gente queria buscar o título. Conseguimos também o vice-campeonato da Supercopa esse ano e acho que para fechar o ano bem a gente poderia buscar o bi do Campeonato Mineiro. Ano que vem, com certeza, teremos grandes conquistas, por tudo que a gente vem construindo.

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