Da escolinha Tio Mazzaropi ao desafio no Atlético: a vida do grandalhão Iago Maidana

Henrique André
hcarmo@hojeemdia.com.br
11/09/2018 às 18:11.
Atualizado em 10/11/2021 às 02:24
 (Bruno Cantini/Atlético)

(Bruno Cantini/Atlético)

Família reunida em Porto Alegre, cheia de expectativa para acompanhar Iago Maidana, de 22 anos e 1,96m de altura, em sua décima partida pelo Atlético no Campeonato Brasileiro. No quarto, a mãe, Elisabel, acendia velas para todos os santos; na sala, o pai, Ronaldo, e a irmã, Júlia, atentos a cada movimento do primogênito da casa. Aos nove minutos, o susto.

O gol contra anotado nesta segunda-feira (10), no duelo com o Atlético-PR, logo nos momentos iniciais, deixou os familiares do zagueiro arrasados e ansiosos pela reação. Um filme passou na cabeça de todos eles; da escolinha Tio Mazzaropi, em Cruz Alta (RS), à grande chance da carreira, no Alvinegro.

Apaixonado pelo futebol desde os 10 anos de idade, o hoje companheiro de Leonardo Silva na zaga atleticana deu os primeiros passos no mundo da bola como atacante. E se virava na função, como conta o pai, companheiro de peladas e maior incentivador.

Aos 11, a transferência para o Grêmio mobilizou toda a família, que ainda não tinha a Júlia, atualmente com 13 anos. A mudança para Porto Alegre e o sonho de vê-lo brilhar pelo Tricolor se tornou pesadelo na temporada seguinte (2008), com a inesperada dispensa.

"Eu tinha acabado de comprar uma casa, perto do Estádio Olímpico. Pensamos em voltar para Cruz Alta, mas ele me pediu para ficarmos. Achava que na capital teria mais oportunidades de ser jogador", conta Ronaldo, ferroviário aposentado.

No Cerâmica Atlético Clube, extinta equipe de Gravataí, onde ficou por quase três anos, Maidana teve uma nova chance, já como zagueiro. Com o fim das atividades do clube, aos 13 anos, ele foi acionado pelo Gramadense. Em Gramado, disputando a categoria sub-15, anotou o gol do título na competição de base mais importante do Estado, sendo visto por clubes maiores.

Convidado para defender o Criciúma, Iago mudou-se para Santa Catarina e lá reencontrou o amigo Róger Guedes, atacante com o qual já havia atuado no Grêmio e que, mais tarde, seria novamente seu companheiro no Atlético.

Com boas atuações nos três anos em que defendeu o Tigre morando no alojamento debaixo das arquibancadas do Estádio Heriberto Hülse, Maidana ganhou destaque e acabou convocado para a Seleção Brasileira, curiosamente por Alexandre Gallo, atual diretor de futebol do Galo. Com a Amarelinha, o conterrâneo do famoso escritor Érico Veríssimo atuou ao lado de Gabriel Jesus, Judivan, Jean e companhia.

Depois de disputar o Mundial Sub-20 na Nova Zelândia, e, curiosamente, sem espaço no Criciúma, o defensor acabou deixando o clube catarinense. Na época, seus interesses passaram a ser cuidados por um empresário: o conceituado Marcelo Robalinho.Arquivo Pessoal 

 Interesse do Cruzeiro

Antes de acertar com o São Paulo a pedido do então técnico Juan Carlos Osorio, Maidana quase veio parar em Minas Gerais. Nas graças de Vanderlei Luxemburgo, que em 2015 comandava o Cruzeiro, ele recebeu sondagem para defender a Raposa. Contudo, preferiu vestir a camisa do Tricolor paulista, onde, fora dos planos na equipe principal, foi campeão do Brasileiro Sub-20 e da Libertadores da categoria.

Pivô de uma polêmica que acabou na renúncia do até então presidente Carlos Miguel Aidar, o zagueiro viveu um grande pesadelo. A inscrição no Monte Cristo, da Terceira Divisão goiana, acabou investigada pelo Ministério Público e gerou problemas, devido à proibição da participação de investidores em negócios.

Sem espaço na equipe principal, o filho de Ronaldo e Elisabel acabou emprestado ao São Bernardo. Lá, porém, sequer atuou. Repassado ao Paraná por empréstimo, brilhou na Série B do Brasileirão do ano passado. Com cinco gols e atuações seguras, foi um dos protagonistas do acesso.

Drama e superação no Atlético

Contratado pelo Atlético no início desta temporada, a pedido do velho conhecido diretor de futebol, Iago chegou a Belo Horizonte emprestado pelo São Paulo, mas com bons indícios de que o caminho na Cidade do Galo poderia ser estendido por mais quatro temporadas, graças a um acordo feito entre os clubes na negociação que envolveu o argentino Lucas Pratto.

Em março, veio uma bomba para o jovem defensor. Após usar um medicamento para uma insuportável dor de ouvido, ele foi afastado do time devido ao risco de ser pego em exames antidoping. 

"Ele estava sentindo muita dor de ouvido. Com medo de incomodar o médico do Atlético durante a folga de fim de semana, ele foi a um posto, disse ao médico que era atleta e teve um antibiótico receitado. A dor era insuportável, e ele teve a garantia de que o medicamento sairia do organismo em dois dias", conta o pai.

"Conversei com ele e disse que o maior erro foi não ter mostrado o remédio aos médicos do Atlético. Poderia ter ligado, mesmo que na folga, e evitado tudo isso", acrescenta.

Sonhando em retornar à Seleção Brasileira, desta vez na categoria principal, Maidana retornou ao time no dia 8 de maio e participou do time reserva que foi eliminado pelo San Lorenzo, da Argentina, na Copa Sul-Americana.

Nos dois meses e meio seguintes, perdeu espaço com o técnico Thiago Larghi e viu o futuro no Galo ficar em xeque. Um susto que passou no dia 25 de julho, quando foi titular na vitória por 2 a 0 sobre o Paraná, seu ex-time.

Desde então, ao lado de Leonardo Silva ou Gabriel, Maidana se tornou titular absoluto e, nos braços da torcida e comissão técnica, viu o cenário mudar totalmente. 

"Ele quer fazer história no Atlético. É um jovem ainda e precisa adquirir mais maldade em campo. Ele conversa muito com os mais velhos, como Victor e Léo Silva, e está tendo a oportunidade que já deveria ter tido desde os tempos de São Paulo", comenta Roberto.

"Ele é caseiro, muito família, e adora receber os amigos em casa. É doido com uma pizza, com um churrasco, e aproveita o tempo livre para curtir a filhinha, Antonella, e a esposa Darielle", finaliza o pai do jogador.

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