Drama argentino: a assombração do 10 diante dos números espetaculares de Lionel Messi

Thiago Pereira
talberto@hojeemdia.com.br
26/06/2018 às 13:06.
Atualizado em 10/11/2021 às 01:00

(JUAN MABROMATA/AFP)

Os números quase sempre jogam a favor de Lionel Messi: recordista em Bolas de Ouro da Fifa (cinco), quantidade de “hat-tricks” na UEFA Champions League (sete), montante de gols na história da Liga Espanhola (360) e em uma única edição deste campeonato (50, em 2011/2012), além da coleção de títulos conquistados em clubes (29).

Trata-se de uma coletânea especial (e parcial, já que existem mais recordes) de números, mas que revelam também uma encruzilhada para o gênio: são feitos que se deram especialmente em âmbito europeu, com a camisa azul grená do Barcelona. 

Troca-se a paleta de cores na camiseta e estas marcas começam a complicar a vida do jogador.

Vestido com a albiceleste, que ele volta a usar hoje às 15h no jogo decisivo contra a Nigéria, as marcas de Messi ganham uma dimensão bem mais tímida: é quem marcou mais gols pela Argentina (61) e o argentino mais novo a marcar num Campeonato do Mundo: 18 anos e 357 dias.

Mas o mais importante destes números talvez seja o que vai acompanhá-lo no jogo de logo mais: zero título conquistado pela seleção principal de seu país. No último jogo da fase de grupos do torneio na Rússia, Messi tem a chance de continuar tentando modificar essa estatística: além da obrigatória vitória sobre os africanos, o time que ele estrela tem de torcer para que a Islândia, com quem empatou na primeira rodada, não supere a Croácia por diferença maior de gol. 

Dez

Como se não bastasse esse zero à tirar o sono de Messi (e de toda a nação argentina), um número em especial assombra historicamente o jogador: o mítico dez. Foi com este número estampado nas costas que Mário Kempes e Diego Armando Maradona protagonizaram as maiores conquistas futebolísticas de nossos hermanos: as conquistas mundiais de 1978 e 1986. 

Aliás, Messi entra em campo hoje um dia depois do país celebrar quatro décadas de sua primeira conquista. No dia 25 de junho de 1978, Mário Alberto Kempes gravaria para sempre seu nome na história do futebol argentino ao levantar, junto com seus colegas, a primeira taça mundial do país. 

Mais do que isso, o cabeludo habilidoso e excelente finalizador foi absolutamente decisivo, com dois gols na final contra a Holanda. Somando-se aos quatro tentos marcados nas outras fases (incluindo os dois marcados na polêmica goleada contra o Peru, que tirou o Brasil da decisão), Kempes sagrou-se artilheiro da Copa, jogada em casa, para a alegria de seus conterrâneos. 

Sua camisa 10 foi herdada, já na Copa de 1982, por ninguém menos que D1os, Diego Armando Maradona. Junto com ele, foi eliminado pelo Brasil ainda na segunda fase da competição, sem marcar em nenhum dos jogos, uma despedida melancólica em Copas do Mundo.

Mas enquanto Kempes dizia adeus, a mítica da camisa dez se amplificaria vestindo o baixinho Maradona. Em sua segunda Copa (ele ainda jogaria em 1990 e 1994), D1ós tomou para si, no que parecia ser definitivo, a estampa do número em suas costas. Comandando a Argentina, fez do torneio no México a “sua Copa”: dois de seus quatro gols viraram verbete obrigatório no almanaque dos mundiais, o de “mão” e o “mais bonito de todos”, ambos no mesmo confronto contra a Inglaterra. 

Com a dez, ainda levou a Argentina a uma improvável final em 1990 e despediu-se de forma melancólica depois de ser pego no doping em 1994.

SUPERAÇÃO

Hoje, Messi tem de lidar com todos estes números, e muito mais. Os três pontos conquistados sobre a Nigéria podem abrir a contagem de números ainda mais significativos. Atuando hoje, empata com Kempes em jogos disputados em Copas (18); se ele for à disputa de terceiro lugar ou à decisão, passa também Maradona neste quesito– vai a 22 jogos. 

Em número de gols nos Mundiais, o atual camisa 10 tem cinco, ainda atrás dos antecessores: Kempes com seis e Maradona com oito. Ou seja: sua chance de quebrar novos recordes começa hoje. 

De qualquer maneira, a batalha de Messi é única, referente a um título de campeão do mundo. Se ele não tirar este zero de seu placar de feitos pessoais, ainda estará sempre atrás da força que o 10 de Kempes e Maradona impuseram em suas equipes.

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